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domingo, 3 de outubro de 2010

Do Brasil em guerra ao sonho do petróleo

Quando José Serra nasceu, em 1942, o Brasil decidia a sua participação na Segunda Guerra Mundial. Cinco anos mais tarde, em Belo Horizonte, o búlgaro Pedro Rousseff registrava num cartório em Belo Horizonte o nascimento de sua filha Dilma. Naquele ano, o país começava a discutir sobre “a ameaça comunista” em razão da Guerra Fria. Caçula entre os três presidenciáveis na liderança das pesquisas de opinião, Marina Silva nasceu em 1958, em uma época de otimismo conduzida pelo presidente Juscelino Kubitschek, que investia na construção de uma nova capital federal. Nas décadas de 40 e 50, as histórias de Serra, Dilma e Marina estavam apenas no início. Mas o período reúne episódios emblemáticos que contribuíram para definir o futuro do país.
José Serra nasceu em 19 de março de 1942, no dia de São José, em plena Segunda Guerra Mundial. Dois meses antes, o governo de Getúlio Vargas anunciou o rompimento das relações diplomáticas com Itália, Alemanha e Japão. A decisão veio após o bombardeio da base norte-americana de Pearl Harbor, no Havaí. Ainda não era uma declaração de guerra aos chamados países do Eixo, mas houve retaliação.
Em 14 de fevereiro, o navio brasileiro Cabedelo naufragou após ser torpedeado por um submarino alemão.
Nos meses seguintes, outras embarcações nacionais afundaram em consequência de ataques feitos pela frota dos países do Eixo. Os ataques insuflaram a população, que passou a cobrar do governo a entrada do Brasil no conflito.
Os protestos contra o fascismo ocorriam com frequência crescente em várias cidades brasileiras. E a indignação resultou em retaliações às colônias alemãs, japonesas e italianas presentes no país. Foi um período desconfortável para a família de Serra, filho de um imigrante italiano, que vivia no bairro da Mooca.
— O governo não reprimiu os protestos de rua porque eram a favor do Brasil na guerra.
O movimento, na verdade, legitimava a ação do governo que seria tomada mais adiante — explica o cientista político e historiador Octaciano Nogueira, ao justificar a neutralidade dos militares nos episódios. — Esta foi a primeira manifestação popular desde o início do Estado Novo (em 1937).
O Brasil declarou guerra aos países do Eixo em 31 de agosto de 1942.
— O governo enviou uma força expedicionária com 25 mil homens para lutar na Itália. Eles embarcaram em navios americanos — conta Nogueira.
Em território nacional, a situação ganhou contornos mais graves. Os ânimos exaltados desencadearam uma onda de depredações de residências e estabelecimentos comerciais que pertenciam a imigrantes, mesmo aqueles que não simpatizavam com as ações nazistas ou fascistas. O time do coração do atual candidato do PSDB à Presidência guarda um episódio simbólico desse período. O clube Palestra Itália precisou trocar de nome por fazer referência ao país inimigo do Brasil. Assim, surgiu o Palmeiras.
A guerra trouxe reflexos à economia. Houve uma desaceleração da indústria por causa da dificuldade de importação de produtos diversos. O custo de vida subiu exponencialmente; e a ameaça de crise financeira provocou a interferência do governo. Em outubro, foi decretado um feriado bancário e houve uma alteração na moeda.
O mil-réis acabou substituído pelo Cruzeiro.

Dilma em tempo de Guerra Fria
Em 1945, a Segunda Guerra chegou ao fim. E a partir daí, dois aliados surgiram como as potências no cenário de pósguerra: Estados Unidos e União Soviética. Quando Dilma Rousseff nasceu, em 14 de dezembro de 1947, na cidade de Belo Horizonte, a Guerra Fria estava no início. No Brasil, Eurico Gaspar Dutra respondia como presidente da República há quase dois anos.
Em Petrópolis, no luxuoso Hotel Quitandinha, ele organizou a Conferência Interamericana de Manutenção da Paz e Segurança, que reuniu representantes dos países do continente americano. A reunião contou com a presença do então presidente dos Estados Unidos, Harry Truman. Na ocasião, as autoridades trataram de um assunto que mobilizava uma preocupação crescente: a “ameaça comunista”.
— Na conferência, o Brasil assinou o Tratado Interamericano de Assistênci a Recíproca (TIAR). O documento estabelecia que, em caso de ataque aos Estados Unidos, automaticamente, nós entraríamos no conflito. Ali o Brasil se engajou realmente na Guerra Fria—avalia Francisco Carlos Teixeira, professor de história contemporânea da UFRJ.
A exploração de petróleo, uma credencial da atual campanha presidencial de Dilma Rousseff, começou a ser forjada no ano de nascimento da petista. Num encontro realizado no Clube Militar, no Rio de Janeiro, surgiu o slogan que acabou eternizado na história política brasileira: “O petróleo é nosso!” No debate, havia a preocupação em definir qual seria o modelo ideal para a exploração de petróleo no Brasil. Os participantes questionavam se a extração deveria ficar com a iniciativa privada ou sob o controle do governo. Quatro anos mais tarde, em dezembro de 1951, o presidente Getúlio Vargas, que voltara ao poder, criou a empresa estatal Petrobras.
Maria Osmarina Silva nasceu em 8 fevereiro de 1958, num Brasil distante do que ficou nos registros históricos sobre aquele ano. A candidata à Presidência pelo PV nasceu num lugarejo habitado por seringueiros no meio da Floresta Amazônica, a 70 quilômetros de Rio Branco, a capital do Acre. Era um cenário desolador, sem perspectivas para os que ali estavam. Enquanto isso, um outro Brasil seguia no ritmo das reformas promovidas por Juscelino Kubitscheck, o presidente que trazia promessas de modernização sintetizadas pelo lema “50 anos em 5”.

Brasília, a nova capital em construção, começava a surgir na região Centro-Oeste. Ao mesmo tempo, estava em andamento a instalação da rodovia que faria a conexão entre Brasília e Belém, capital do Pará, na Região Norte. A estrada atravessaria 450 quilômetros dentro da selva amazônica.

Com JK, a onda de reformas
Os projetos de desenvolvimento resultaram no aumento da dívida externa e da inflação.
JK enfrentou críticas contundentes durante todo o período.
— A origem do processo inflacionário brasileiro está vinculada às mudanças promovidas por Juscelino — diz o historiador Francisco Carlos Teixeira.
Ele ressalta que os problemas não foram suficientes para abalar a aprovação do governo: — Juscelino continuou como um presidente muito popular porque não se tinha ideia naquele momento das consequências do processo inflacionário.
O clima de otimismo era reafirmado por outras conquistas que mobilizavam a população como a primeira vitória da Seleção Brasileira de futebol na Copa do Mundo. O torcedor também assumiu o papel de eleitor.
No segundo semestre de 58, uma eleição movimentou o país para escolher novos representantes para vagas de vereador, deputados estadual e federal, prefeito e governador. No Rio Grande do Sul, Leonel brizola surgiu como o novo governador.
Mas o nome da eleição foi outro.Cacareco, um rinoceronte do zoológico do Rio que tinha virado atração em sua passagem pela capital paulista, foi eleito vereador em São Paulo com aproximadamente 100 mil votos.

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