Autor do dossiê anti-tucanos, o jornalista Amaury Ribeiro Jr. disse em depoimento prestado à Polícia Federal "ter certeza" de que os documentos fiscais sigilosos de pessoas ligadas ao presidenciável José Serra (PSDB) foram copiados sem o seu consentimento pelo petista Rui Falcão, deputado estadual do PT e um dos coordenadores de comunicação da campanha de Dilma Rousseff (PT).
Amaury fez parte do "grupo de inteligência" da pré-campanha de Dilma Rousseff (PT). Conforme a Folha revelou em junho, os dados fiscais sigilosos dos tucanos foram parar num dossiê que circulou entre pessoas do comitê dilmista. Em depoimento à PF, o despachante paulista Dirceu Garcia admitiu que recebeu R$ 12 mil em dinheiro vivo das mãos do jornalista para comprar as declarações de renda das pessoas próximas a Serra.
Amaury disse à PF que "nunca entregou o material a qualquer pessoa" e que "acredita com veemência" que os arquivos foram copiados do seu notebook no quarto do apart-hotel Meliá Brasília. Diz um trecho do depoimento à polícia: "Que [Amaury] afirma ter certeza que tal material foi copiado por Rui Falcão pois somente ele tinha a chave do citado apartamento, pois já havia residido no mesmo, tendo o declarante verificado que o nome de Rui Falcão constava na portaria do hotel como sendo o ocupante daquela unidade."
Segundo o jornalista, o apart-hotel que ocupava é de propriedade de um homem identificado por ele apenas como Jorge. Ainda no depoimento, Amaury disse que Jorge é o "responsável pela administração dos gastos da casa do Lago Sul [onde funciona a coordenação de comunicação da petista] e da campanha de Dilma Rousseff".
Amaury disse ainda que, durante uma conversa com um jornalista da revista "Veja", que lhe teria feito uma descrição exata do dossiê que estava em seu computador pessoal, se deu conta de que os arquivos foram copiados.
O depoimento do jornalista, de 11 páginas, ocorreu na última sexta-feira.
OUTRO LADO
En nota enviada à imprensa, o deputado Rui Falcão diz negar "terminantemente que tenha copiado dados ou arquivos do mencionado laptop do jornalista" e afirma que a responsabilidade de apresentar provas cabe a quem acusa.
Ele diz que "não procedem as afirmações de que tenha residido em apart-hotel do Meliá Brasília, nem tampouco que tivesse chave de qualquer apartamento naquele local".
O coordenador da campanha de Dilma afirma que se, porventura, seu nome chegou a constar na recepção do hotel, não é de seu conhecimento, nem de sua responsabilidade.
"Tive conhecimento há meses, através da imprensa, da existência de um suposto dossiê, e, quando procurado, sempre informei que a campanha não produzia dossiês, nem autorizava qualquer pessoa a fazê-lo em nome da campanha", diz o deputado na nota.
JORNAL
Amaury não estava a serviço do diário "Estado de Minas" quando encomendou e, segundo a polícia, pagou pela violação do sigilo fiscal de parentes e pessoas próximas ao candidato José Serra (PSDB), segundo cruzamento de informações obtidas pela Folha com dados da investigação da PF.
De acordo com registros trabalhistas, Amaury foi contratado pelo "Estado de Minas" em setembro de 2006. No dia 25 de setembro de 2009 saiu em férias por um período que iria até 14 de outubro. No dia 15 do mesmo mês, quando teria de voltar ao trabalho, pediu demissão e deixou o jornal, sem aviso prévio.
De acordo com o depoimento do despachante Garcia, Amaury lhe encomendou os documentos fiscais dos tucanos no final de setembro. No dia 8 de outubro, Amaury saiu de Brasília e foi a São Paulo buscar a papelada. O pagamento foi feito em dinheiro vivo no banheiro do bar Dona Onça, na avenida Ipiranga.
Ou seja, quando encomendou e desembolsou o dinheiro pelo serviço, Amaury não estava a serviço de "Estado de Minas", apesar de no papel manter vínculo com a empresa.
Segundo a Folha apurou com pessoas envolvidas na investigação, o jornal bancou formalmente as viagens de Amaury até agosto de 2009. Em outubro, suas passagens de avião foram pagas em dinheiro vivo.
Em entrevista coletiva ontem, a PF havia divulgado apenas que Amaury mantinha vínculo empregatício com "Estado de Minas", sem informar que estava em férias quando houve o pagamento pela compra dos documentos. A PF também havia informado que os deslocamentos do jornalista tinham sido pagos pelo diário mineiro, mas sem mencionar datas.
Em depoimento à PF, Amaury confirmou que conhecia o despachante Garcia e que teria lhe encomendado buscas em juntas comerciais, mas não de documentos sigilosos. Desconversou também sobre a forma de pagamento pelos serviços.
O jornalista também afirmou que iniciou seu trabalho de investigação contra Serra e aliados quando era funcionário do jornal "Estado de Minas", para "proteger" o ex-governador tucano Aécio Neves, que à época disputava internamente no PSDB a candidatura à Presidência.
Aécio Neves e PSDB divulgaram notas ontem pelas quais negaram envolvimento com o episódio. A campanha de Dilma usou a ligação de Amaury com o jornal mineiro, próximo politicamente de Aécio, para tentar afastar o envolvimento do PT com o caso.
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