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PÁTRIA

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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Muito embate, pouco debate

O segundo debate entre os candidatos à Presidência, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), realizado ontem pela RedeTV! e pela “Folha de S.Paulo”, foi marcado por troca de acusações do início ao fim. Como no primeiro debate deste segundo turno, a petista voltou a acusar Serra e tucanos de serem favoráveis à privatização de empresas públicas. O candidato tucano acusou Dilma de mentir para os eleitores e disse que o PT é que “privatiza” a estatal, dividindoa entre seus partidos aliados. A descriminalização do aborto, o casamento gay e o discurso religioso, que têm provocado polêmica entre eles neste segundo turno, não foram abordados por nenhum deles.

Os dois candidatos começaram o debate aparentemente nervosos.

Eles não responderam à primeira pergunta feita pelo mediador, que pedia a cada um que apontasse defeitos e qualidades do adversário. Além das privatizações, Serra e Dilma discutiram sobre formação profissionalizante, segurança pública, saúde, educação, infraestrutura e corrupção.

Serra foi o primeiro a fazer pergunta. Cobrou de Dilma explicações para o baixo número de trabalhadores que tiveram acesso a cursos de capacitação com recurso do Fundo do Amparo ao Trabalhador (FAT). Segundo Serra, no governo Lula apenas 2 milhões de trabalhadores participaram dos cursos, contra 14 milhões no governo Fernando Henrique.

Dilma não respondeu à pergunta e preferiu citar números de escolas técnicas criadas nos últimos oito anos. A candidata do PT acusou o governo FH de proibir a construção de escolas técnicas: — Nos últimos cem anos foi criada uma quantidade de escolas técnicas abaixo do que nós criamos. Nós estamos criando, até o final deste ano, 214 escolas técnicas contra 140. Por que foram criadas tão poucas escolas técnicas (antes)? No período do governo anterior, do Fernando Henrique, na qual o candidato adversário foi ministro do Planejamento e também ministro da Saúde, o que aconteceu? Foi feita uma lei proibindo que se criasse escolas técnicas a não ser que estados e municípios assumissem a manutenção dessas escolas — disse a petista.

Na réplica, Serra acusou Dilma de citar números “fantasiosos” e afirmou que o número de vagas em escolas técnicas em São Paulo supera os dados do governo federal: — A pergunta (sobre o FAT) não foi respondida. Na verdade, investia-se por ano cerca de R$ 700 milhões nesse treinamento, e o FAT foi feito para isso. E a lei que permitiu usar recursos do FAT para treinamento foi de minha autoria. No entanto, a partir de 2003, isso mergulhou. Passou-se a se investir quase nada. Sete vezes menos.

Não é verdade que o governo anterior proibiu escola técnica. Escola técnica não é a mesma coisa que curso profissionalizante do FAT. Os números (citados por Dilma) são sempre apresentados na base da fantasia, “vamos ter, faremos isso e aquilo”.

Na tréplica, Dilma insistiu no ataque: — O que o candidato está fazendo é tergiversando. De fato proibiram.

Queriam que as escolas técnicas fossem custeadas por estados e municípios.

Ora, estados do Nordeste, cidades menores do interior de São Paulo, não poderiam ter.

Na sua vez de perguntar, Dilma voltou a falar nas privatizações. Acusou o governo de São Paulo de recorrer ao Cade para suspender a venda da empresa Gas Brasiliano à Petrobras.

Serra voltou a criticar a falta de uso de recursos do FAT para treinar trabalhadores.

Ao responder depois, Serra afirmou: — Esse não é um assunto que dependa do governo de São Paulo. Há uma agência, e nós respeitamos a autonomia e a liberdade das agências, em vez de fazer como o governo federal, que faz um loteamento político e passa a usar as agências como instrumento para criar dificuldades para vender facilidades. Segundo, o argumento é de outra natureza, é que a Petrobras é a fornecedora do gás. Em geral quem fornece não distribui o gás porque aí fica o poder de monopólio, e é uma coisa que limita a concorrência para o consumidor. A campanha da candidata na TV mente a respeito da minha posição sobre a Petrobras. Fui um dos que lideraram a luta em defesa pela Petrobras.

No segundo bloco do debate, Dilma tentou monopolizar o tema da privatização. A candidata explicou melhor o caso da Gas Brasiliano, empresa de capital italiano que está querendo vender seus ativos no Brasil e que, por conta da distribuidora paulista de gás, tem participação do governo do estado em seu capital.

Ela acusou o governo de Serra, enquanto governador, de questionar no Cade, órgão de controle da concorrência no país, a possibilidade de a Petrobras comprar a Gas Brasiliano: — A Petrobras ofereceu o maior preço (pela Gas Brasiliano), a segunda colocada é uma empresa japonesa e a terceira é uma empresa privada nacional. Mesmo dando o maior preço, por que a agência reguladora do estado e a Secretaria de Energia aqui de São Paulo não são favoráveis à compra? Eu gostaria de entender.

Serra disse que o PT e a candidata tratam do tema da privatização por questões eleitorais.

— Não tem nada a ver (o debate da privatização) com os problemas atuais, hoje não há na agenda do Brasil empresas para serem privatizadas.

O que há, isso sim, são empresas para serem estatizadas, ou seja, são empresas públicas das quais o governo é proprietário mas que são usadas para fins privados de um partido, de um grupo, de uma turma, como acontece, por exemplo, infelizmente, na própria área da Petrobras, que é toda dividida, diretoria para tal partido, empresa distribuidora para tal força política, dizem até que é para o ex-presidente Collor, que é um entusiasta apoiador da candidata petista — respondeu o tucano.

Serra disse ainda que é tão favorável à Petrobras que o próprio mercado reconhece isso: — Quando houve o segundo turno, só essa notícia, da possibilidade da minha vitória, a situação das pesquisas, as ações da Petrobras melhoraram — disse, provocando aplausos de tucanos e vaias de petistas.

Na sequência, Serra questionou Dilma sobre políticas antidrogas e disse que o governo de Lula pouco fez, principalmente no controle de fronteiras.

— Até o presidente Evo Morales (Bolívia), que é amigo de Lula, reconheceu que há muito contrabando de droga em seu país. Essa droga vem para o Brasil — disse Serra, afirmando que a política de segurança do PT é a adotada pelo governo petista no Pará, onde uma jovem foi presa numa cela masculina.

Dilma disse que o melhor seria comparar o que os dois governos fizeram, e no governo federal há uma maior política de reaparelhamento da Polícia Federal.

— O candidato Serra vive falando que tem um política de apoio aos viciados.

Estima-se que há 300 mil viciados em droga no Estado de São Paulo, mas, como ele mesmo corrigiu, só há 300 vagas em clínicas do governo do Estado — disse Dilma. — A característica do governo Serra é fazer programas pilotos. Eles fazem pouco para poucos. Nós fazemos muito para muitos.

Na sua segunda pergunta, Dilma voltou a falar de privatização, questionando se Serra colocaria novamente as empresas do sistema Eletrobras no rol das que poderiam ser privatizadas. Serra respondeu dizendo que há coisas boas na privatização, como a privatização do sistema de telecomunicações.

Na última pergunta do bloco, Serra perguntou a Dilma por problemas em infraestutura, afirmando que há poucos investimentos em rodovias.

— O custo de levar a soja do porto de Paranaguá à China é menor que o custo de levar a soja do Mato Grosso ao porto de Paranaguá — disse Serra.

Dilma respondeu dizendo que nunca se investiu tanto em infraestrutura como agora, acusou Serra de “roubar” seus projetos, que estão no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). No que o tucano afirmou que o PAC é uma lista de obras, mas que pouco sai de fato do papel.

Serra, diversas vezes, disse que Dilma mente, e afirmou que ela fala muito e faz pouco. “Vê tudo pelos óculos do PT, tudo azul” e disse que o PT sempre critica São Paulo.

Dilma respondeu que as críticas que faz é em relação ao governo paulista de Serra, não contra o estado ou o povo paulista.


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