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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A máquina em campanha

Mais grave do que terem colocado o nome do diretor de “Tropa de elite 2”, José Padilha, num manifesto a favor da candidatura Dilma Rousseff à Presidência da República sem sua autorização é o fato de que dirigentes da Agência Nacional de Cinema (Ancine) atuaram fortemente para que pessoas ligadas à indústria assinassem o documento. Há indicações de que vários outros cineastas e atores, muitos inscritos à revelia, foram procurados por funcionários da Ancine na tentativa de engrossar a lista dos apoiadores da candidatura oficial.
Criada em 2001, a Agência Nacional do Cinema é uma agência reguladora que tem como atribuições, segundo a definição oficial, “o fomento, a regulação e a fiscalização do mercado do cinema e do audiovisual no Brasil”.
A Ancine, por sinal, foi uma das responsáveis pela escolha dos jurados que definiram o filme “Lula, o filho do Brasil” como o representante brasileiro ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
Esse é um dos exemplos mais visíveis da utilização da máquina pública na campanha eleitoral de maneira despudorada, a começar pelo próprio presidente da República, que, na reta final da campanha — e com a disputa demonstrando estar mais difícil do que imaginavam seus estrategistas —, já não se incomoda de gravar participações nos programas de propaganda eleitoral no horário do expediente oficial.
E utiliza prédios públicos, como o Palácio da Alvorada, para reuniões políticas com os coordenadores da campanha da candidata oficial.
Seguindo o exemplo de seu chefe, também os ministros de Estado já não tentam disfarçar a campanha que fazem, misturando suas funções de Estado com as de cabo eleitoral da candidata oficial.
No lançamento do programa de saúde da candidatura oficial, a foto dos ministros da Saúde, José Gomes Temporão, e das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, ao lado do candidato a vice-presidente da chapa oficial, Michel Temer, os três ostentando uma camiseta com propaganda de Dilma Rousseff, é o exemplo da falta de pudor que domina o primeiro escalão governamental.
Da mesma maneira, funcionários de vários escalões das empresas estatais estão sendo estimulados, ou diretamente ou pela leniência de seus chefes imediatos, a fazer campanha usando o e-mail das próprias empresas.
Funcionários da Petrobras estão distribuindo mensagens com propaganda eleitoral a favor de Lula e Dilma, ou mesmo repassando informações caluniosas contra o candidato do PSDB.
Um deles tem o seguinte aviso, todo em caixa alta: “UMA GRANDE VERDADE!!!! REPASSE ESTE EMAIL PRA TODOS E NÃO VAMOS DEIXAR A ONDA VERMELHA (PT) PARAR DE CRESCER POR TODO PAÍS!!!!” A despreocupação é tamanha que já não escondem a identificação. As mensagens têm nome, telefone, cargo.
Entre as muitas mensagens que circulam, uma é da Gerência Setorial de Serviços de Segurança Patrimonial de Escritórios da Petrobras e tem a seguinte identificação: Serviço de Infraestrutura e Segurança Patrimonial. Regional Sudeste.

Serviços Compartilhados.
CQAY.
Outro é da Eletrobras, do Departamento de Contratações — DAC Divisão de Suprimentos — DACS.

‘Não é o momento’
O ex-deputado federal e candidato ao Senado pelo PPS nas eleições de outubro Marcelo Cerqueira teve atuação intensa contra o processo de privatização da Companhia Vale do Rio Doce.
Patrocinou ação popular promovida por Barbosa Lima Sobrinho, ações civis públicas em nome de diversas associações, inclusive a dos Empregados da Vale (Aval) e ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pela Ordem dos Advogados do Brasil por seu Conselho Federal.
Após longa batalha judicial, e realizado o leilão, atuou em ação, em nome da Aval, no sentido de estabelecer que o controle da Vale ainda era da União Federal, direta e indiretamente, através das ações em posse da União Federal, do BNDES, do BNDES pare de fundos de pensão das empresas estatais.
Como o PT, à época, fez dura campanha contra a privatização, inclusive copromovendo ato público com ampla participação, Marcelo Cerqueira, instalada a equipe de transição do governo eleito Lula, telefonou a seu amigo Luiz Eduardo Soares e narrou-lhe o caso, defendendo a tese de que o “controle” da Vale permanecia direta e indiretamente com a União Federal.
Dizendo que tal assunto estaria afeto a Dilma Rousseff, então responsável pelo setor no grupo de transição, Luiz Eduardo passou-lhe o telefone.
Depois de ouvir toda a história sobre o “controle” da Vale ainda estar com o governo, Dilma agradeceu “fraternalmente” a informação, mas ponderou: “Não é o momento, Marcelo.” Oito anos depois, o momento não surgiu, apesar de todas as críticas do PT às privatizações. Ao contrário, o PT está tentando, através dos fundos de pensão, assumir a presidência da Vale.Merval Pereira

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