Sobreviventes da tragédia ocorrida nesta quarta-feira na Colônia Agrícola Penal de Comayagua, no centro de Honduras, onde morreram mais de 300 detentos em um incêndio, asseguraram que só se salvaram porque conseguiram sair pelo teto de suas celas, uma vez que nenhuma autoridade os ajudava.
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"Ninguém abriu os portões, nós cansamos de gritar. Tivemos de saltar pelo teto quando o fogo já tomava conta", expressou à Agência Efe um dos sobreviventes, que não quis identificar-se para evitar represálias das autoridades.
Outro sobrevivente, porém, deu versão diferente: "a polícia nos ajudou como pôde. Não houve disparos, como estão dizendo", contou Heber López Hernández.
Após o fogo propagar-se, os réus pediram ajuda para sair de suas celas e salvar-se, mas não receberam socorro, segundo os três sobreviventes que falaram com a Efe no lugar da tragédia.
Gustavo Amador/Efe | ||
Detento ferido é atendido pelas forças de segurança em Comayagua |
"Tivemos que romper o teto para poder sair", manifestou outro recluso, antes de assinalar que o funcionário responsável por abrir as celas "atirou as chaves" e deixou o local.
"Foi o enfermeiro quem abriu. Com as chamas já altas, ele conseguiu abrir as celas. Graças a essa ação, há algumas pessoas vivas", explicou.
Uma vez fora das celas, "pulamos o muro (externo da penitenciária) porque já não era possível resistir ao incêndio", acrescentou.
Nesse momento, porém, os guardas "começaram a disparar de fora para evitar uma fuga", relatou.
Editoria de Arte/Folhapress |
Um dos réus que falou com a Efe assegurou que entre as vítimas "morreu uma pessoa que deveria ter sido libertada ontem", mas que seguia recluso "um dia mais por capricho da juíza" responsável por seu caso.
A irmã de dois reclusos, Damaris Cáceres Hernández, contou à Efe não saber se eles estão vivos ou mortos, e relatou que, como ela vive perto da Colônia Agrícola Penal, ouviu quando os detentos pediam auxílio e os guardas disparavam para evitar uma fuga.
"Eles pediam auxílio, mas não abriram as celas e os deixaram queimar", assegurou Damaris, enquanto esperava notícias de seus parentes ao lado de dezenas de familiares de outros internos.
Esta é a pior tragédia ocorrida nos 24 centros penitenciários hondurenhos, que têm capacidade para 8 mil detentos mas que abrigam cerca de 12 mil, segundo fontes da polícia hondurenha e organismos humanitários locais.
O Ministério Público do país confirma a morte de 357 presos na tragédia, mas o governo fixa em 272. No entanto, estima-se que mais de 350 presos não foram localizados nas recontagens realizadas após controlado o incêndio. Havia cerca de 800 detentos no local. Não se sabe se estão todos mortos ou se alguns conseguiram fugir durante o incidente.
As autoridades ainda investigam as causas do fogo, que ocorreu à meia-noite de quarta (4h em Brasília). Os bombeiros e a secretaria de Segurança suspeitam que um curto-circuito tenha provocado as chamas.
TRANSPARÊNCIA
O presidente de Honduras, Porfirio Lobo, anunciou nesta quarta-feira que o incêndio na prisão de Comayagua, cerca de 75 quilômetros ao norte da capital Tegucigalpa, será investigado com "total transparência" e "observação internacional".
"Faremos toda a investigação para determinar o que provocou essa lamentável e inaceitável tragédia e determinar os responsáveis", afirmou Lobo em pronunciamento oficial de rádio e televisão, onde também expressou condolências aos familiares dos detidos.
"Esse é um dia de dor profunda para Honduras. Lamentamos profundamente o ocorrido e quero expressar meus mais profundos sentimentos de solidariedade às famílias que choram hoje essa dor inconsolável".
O presidente pediu à secretaria de Segurança a suspensão dos responsáveis pela Fazenda Penitenciária de Comayagua, na região central do país, e da diretoria da administração das prisões em todo o país para garantir "um processo de total transparência".
SUPOSTO TELEFONEMA
A governadora do departamento hondurenho de Comayagua, Paola Castro, conta ter recebido a ligação de um preso informando que um colega teria iniciado o incêndio no presídio.
"Às 23h10 (02h10 de Brasília), recebi uma ligação de um interno. Ele me contou que outro preso havia dito: 'vou botar fogo nisso e vamos todos morrer'. Ele colocou fogo e estamos queimando, estamos morrendo", relatou a governadora.
Castro realizou durante anos um trabalho social na penitenciária agrícola, razão pela qual é conhecida por muitos internos, e por que existia uma comunicação telefônica direta entre os presidiários e a autoridade política local.
Castro, que não quis identificar o preso, afirmou que alertou imediatamente os bombeiros e a Cruz Vermelha, mas que o Corpo de Bombeiros não pode entrar de imediato no presídio, sem explicar os motivos do atraso.
"O que aconteceu é estranho porque era um centro penal modelo", acrescentou.
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