Escolhido para representar a quinta maior bancada da Câmara, o deputado do PP Arthur Lira possui uma extensa ficha corrida e é alvo de uma ação do Ministério Público que ameaça seu mandato
Izabelle Torres
SEMELHANÇAS
Esquema liderado por Arthur Lira em Alagoas assemelha-se ao do mensalão
Novo líder do PP na Câmara, o deputado alagoano Arthur Lira é desconhecido da maioria dos parlamentares. Em seu primeiro mandato, ele vinha se comportando como um integrante do chamado baixo clero do Congresso, a turma que não se destaca nem interfere no rumo das decisões. Essa discrição de Lira, porém, não combina em nada com seu explosivo passado. Ele foi preso em 2007 por integrar um esquema de corrupção na Assembleia Legislativa de Alagoas, da qual foi primeiro-secretário. Na época, a Polícia Federal o identificou como um político “sem limites para usurpar dinheiro público”, o que não o impediu de conseguir se eleger deputado federal. Mas este seu novo mandato está sob ameaça, em razão de outra ação do Ministério Público (MP). ISTOÉ teve acesso à íntegra da denúncia encaminhada ao Supremo Tribunal Federal no início deste ano e corre em segredo de Justiça. Em mais de 500 páginas repletas de documentos, o procurador detalha os artifícios usados por Lira, entre 2001 e 2007, para embolsar dinheiro público por meio de empréstimos fraudulentos do Banco Rural.
O esquema de Arthur Lira tem características semelhantes às do mensalão do PT. Os dois casos tiveram seu ápice em 2004 e se viabilizaram graças a documentos falsos de declarações de rendimentos dos beneficiados com os repasses do banco, que se dispunha a receber dinheiro público como forma de pagamento de empréstimos concedidos a políticos. Lira participou do esquema como ordenador de despesas e beneficiário dos empréstimos fraudulentos. O MP afirma que a Assembleia emitia cheques para avalizar empréstimos pessoais feitos a deputados em valores superiores à capacidade de endividamento dos parlamentares. Os deputados não pagavam os empréstimos e, quando as parcelas venciam, o banco descontava o cheque, assinado por Lira, que a Assembleia tinha dado como garantia. Outra opção usada frequentemente era o pagamento desses empréstimos com o dinheiro da verba de gabinete. “Nos dois casos, pode-se facilmente constatar que, na verdade, quem pagou todas as parcelas dos empréstimos pessoais contraídos pelos parlamentares foi a própria Assembleia, com dinheiro público”, afirma o procurador-geral. Segundo os procuradores, Lira também costumava nomear laranjas e funcionários fantasmas para contrair empréstimos em nome deles e embolsar o dinheiro.
O processo no STF contra o novo líder do PP ficará nas mãos do ministro Luiz Fux e engordará a lista de ações nas quais ele já é réu. Não são poucas. Só no Supremo correm oito processos por fraudes e desvios de mais de R$ 302 milhões da folha de pagamento da Assembleia, além de outros dois que Lira responde por ameaçar testemunhas e atrapalhar as investigações. Por enquanto, a Justiça estadual mandou bloquear seus ben e ele espera o julgamento de um recurso apresentado por sua defesa. Enquanto isso, Arthur Lira seguirá falando em nome da quinta maior bancada da Câmara, nomeando assessores para a liderança e representando a legenda nas conversas com o Planalto. O problema para o PP é que a presidenta Dilma Rousseff já deu demonstração de que não gosta de negociar com donos de fichas sujas.
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