ACM Neto resgata avô na campanha, apresenta-se como carlista moderno e passa a liderar as pesquisas à Prefeitura de Salvador
Pedro Marcondes de Moura
Na batalha pela prefeitura de Salvador, o deputado federal ACM Neto,
do DEM, resolveu, enfim, valer-se politicamente do status de neto de
Antônio Carlos Magalhães. Se na última disputa pela capital baiana a sua
campanha se esforçava em desvinculá-lo do patriarca da família, a
estratégia neste pleito parece ter mudado. Em entrevistas ou atos
públicos, o candidato faz questão de exaltar o legado do ilustre avô,
que morreu em 2007. No lançamento de sua pré-candidatura, Neto e
correligionários não dispensaram citações a ACM – principal face do
carlismo –, que ditou por décadas os rumos das urnas do Estado da Bahia,
além de influenciar decisões de presidentes até a gestão do tucano
Fernando Henrique Cardoso. ACM Neto também aproveitou a ocasião para
ler, com a voz embargada, um trecho de uma carta repleta de elogios
enviada, em 1969, pelo escritor Jorge Amado ao avô, na época prefeito da
capital baiana. Em seguida, lançou-se na disputa à sucessão municipal
“por amor a Salvador.” “Estou diante do maior desafio da minha vida”,
declarou.
ESTRATÉGIA
Para vincular-se à imagem do avô, ACM Neto até chorou ao mencioná-lo em comício
Nesta campanha municipal, ACM Neto aproxima-se do legado de Antônio
Carlos Magalhães num cenário político bem diferente da última disputa,
em 2008. Na época, o carlismo vivia o ápice de sua derrocada junto aos
soteropolitanos. Fileiras de antigos correligionários migravam para
siglas da base aliada aos governos federal e estadual, comandados pelo
PT. Bem avaliado, o governador Jaques Wagner era um eficiente cabo
eleitoral. Não à toa, ACM Neto despencou da primeira à terceira posição
durante aquela campanha. Hoje, apenas 16% dos eleitores de Salvador
consideram a gestão estadual petista ótima ou boa, reflexo do aumento
dos índices de criminalidade e de uma greve de mais de três meses na
rede pública de ensino do Estado. Já a administração do prefeito da
capital baiana, João Henrique Carneiro (PP), amarga avaliação ainda
pior: 68% a consideram ruim ou péssima. Tamanho descontentamento popular
é uma das explicações para certa nostalgia dos tempos em que o grupo de
Antônio Carlos Magalhães comandava a política local.
AINDA NÃO DECOLOU
O petista Nélson Pelegrino é o principal adversário de ACM Neto
Agora líder nas pesquisas, com 40% das intenções de voto, 27 pontos
percentuais à frente de seu principal adversário, o advogado
Nélson Pelegrino (PT), o deputado ACM Neto, ao mesmo tempo em que
relembra as realizações de seu avô, apresenta-se como um político
moderno, de 33 anos. Dessa forma, tenta desassociar sua imagem pública
de práticas clientelistas e autoritárias adotadas pela oligarquia
comandada pelo velho Antônio Carlos Magalhães, conhecido pela
generosidade com aliados e a intolerância com os adversários. Em 2008, o
próprio candidato foi vítima de sua verborragia ao ver amplamente
divulgado no horário eleitoral um vídeo em que ameaçava dar uma surra no
ex-presidente Lula ao denunciar ser vítima de grampos da Agência
Brasileira de Inteligência (Abin). Com a nova estratégia, Neto tem
logrado êxito.
Fotos: Raul Spinassé/ Ag. a Tarde; Ichiro Guerra; Eduardo H Hanazaki
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