A presidente citou sua trajetória em defesa da democracia durante a ditadura para ouvir o clamor das ruas
Brasília. A
presidente Dilma Rousseff prometeu chamar os governadores e prefeitos
das principais cidades do País e os líderes das manifestações populares
para um grande pacto em torno da melhoria dos serviços públicos. Em
pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV, Dilma anunciou ontem à
noite que as ações do governo terão três focos.
Para Dilma, protestos podem ser usados para trazer benefícios para a população foto: reuters
O
primeiro será a elaboração do Plano Nacional de Mobilidade Urbana, que
privilegie o transporte coletivo. O segundo é a destinação de 100% dos
royalties do petróleo para a educação, proposta que está em discussão no
Congresso. Para melhorar a saúde, Dilma prometeu trazer mais médicos do
exterior para ampliar o atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS).
De
acordo com a presidente, o vigor das manifestações pode ser aproveitado
para que sejam tomadas medidas que beneficiem a população e já
começaram a produzir resultados, como a redução das tarifas de ônibus em
diversas cidades brasileiras.
“As manifestações desta semana
trouxeram importantes lições. As tarifas baixaram e as pautas dos
manifestantes ganharam prioridade nacional. Temos que aproveitar o vigor
das manifestações para produzir mais mudanças que beneficiem o conjunto
da população brasileira”, declarou a presidente.
Dilma Rousseff
citou a trajetória de defesa da democracia durante a ditadura como
motivo para levar as reivindicações em consideração. “A minha geração
lutou muito para que a voz das ruas fosse ouvida. Muitos foram
perseguidos, torturados e morreram por isso. A voz das ruas precisa ser
ouvida e respeitada e não pode ser confundida com o barulho e a
truculência de alguns arruaceiros”.
Dilma disse ainda que não
deixará de combater a corrupção. “Sou a presidente de todos os
brasileiros. Dos que se manifestam e dos que não se manifestam. A
mensagem direta das ruas é pacífica e democrática. Ela reivindica um
combate sistemático à corrupção e ao desvio de dinheiro público. Todos
me conhecem. Disso eu não abro mão”, enfatizou.
Pacto
A
presidente prometeu ainda conversar, nos próximos dias, com os chefes
dos outros poderes, governadores e os prefeitos das principais cidades
do País para um grande pacto em torno da melhoria dos serviços públicos.
Ela anunciou ainda que pretende receber os líderes das manifestações
pacíficas, representantes de organizações de jovens, das entidades
sindicais, dos movimentos de trabalhadores e das associações populares.
A
mensagem foi ao ar em cadeia nacional de rádio e TV. Dilma passou o dia
discutindo os protestos e manifestações que ocorrem no país e que na
última quinta-feira reuniram quase 2 milhões de pessoas em 438 cidades.
De manhã, a presidente se reuniu com ministros, entre eles o da Justiça,
José Eduardo Cardozo. Também recebeu o presidente do Senado, Renan
Calheiros, e o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB), dom Raymundo Damasceno.
Revogação
A
onda de manifestações pelo país começou em São Paulo, reivindicando a
revogação do reajuste da tarifa de ônibus de R$3 para R$3,20. O
governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito da capital,
Fernando Haddad, voltaram atrás no reajuste, mas os protestos
continuaram e se ampliaram pelo país. Entre as causas defendidas pelos
manifestantes estão o fim da impunidade, da corrupção e a crítica aos
gastos públicos com a Copa das Confederações e a Copa do Mundo.
Os
manifestantes também são contrários à Proposta de Emenda à Constituição
(PEC) 37, que limita o poder de investigação do Ministério Público.
MOBILIZAÇÃO PELO PAÍS
População nas ruas
Manifestantes
foram às ruas, ontem, em Belo Horizonte (MG), Teresina (PI) e Curitiba
(PR). Em Brasília, policiais se concentraram no espelho d’água do
Congresso para evitar invasões FOTO: AG/ESTADO
'Que o clamor do povo seja ouvido'
Brasília. A
Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou, ontem, uma
nota pública em que presta solidariedade e apoio às manifestações, desde
que pacíficas. “Sejam estas manifestações fortalecimento da
participação popular nos destinos de nosso País e prenúncio de novos
tempos para todos. “Que o clamor do povo seja ouvido!”, afirma a nota,
subscrita pelo Conselho Permanente da CNBB.
Para a entidade, os
protestos são “um fenômeno que envolve o povo brasileiro e o desperta
para uma nova consciência”. "Requerem atenção e discernimento a fim de
que se identifiquem seus valores e limites, sempre em vista à construção
da sociedade justa e fraterna que almejamos”, diz a nota.
A CNBB
afirma que as manifestações nasceram de forma “livre e espontânea” e as
mobilizações “questionam a todos nós e atestam que não é possível mais
viver num País com tanta desigualdade”. A nota diz que é justa e
necessária a reivindicação de políticas públicas para todos.
“Gritam
contra a corrupção, a impunidade e a falta de transparência na gestão
pública. Denunciam a violência contra a juventude. São, ao mesmo tempo,
testemunho de que a solução dos problemas por que passa o povo
brasileiro só será possível com participação de todos. Fazem, assim,
renascer a esperança quando gritam: ‘O Gigante acordou!’”.
Segundo
a entidade, a presença do povo nas ruas, numa sociedade em que “as
pessoas têm o seu direito negado sobre a condução da própria vida,
testemunha que é na prática de valores como o serviço gratuito ao outro
que encontramos o sentido do existir. A indiferença e o conformismo
levam as pessoas, especialmente os jovens, a desistirem da vida e se
constituem em obstáculo à transformação das estruturas que ferem de
morte a dignidade humana”.
“As manifestações destes dias mostram
que os brasileiros não estão dormindo em ‘berço esplêndido’”, diz a
manifestação, assinada pelo cardeal Raymundo Damasceno Assis, presidente
da CNBB, Dom José Belisário da Silva, vice-presidente da entidade, e
Dom Leonardo Ulrich Steiner, secretário Geral da CNBB.
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