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domingo, 30 de junho de 2013

Onde está o velho Lula?

Na contramão dos protestos, o ex-presidente contraria a própria trajetória e troca os palanques pelos gabinetes. Mas ele já tem data para voltar às ruas

Josie Jeronimo
Pela primeira vez desde as greves dos metalúrgicos em 1979 em São Bernardo do Campo, o Brasil assistiu às manifestações de massas sem a presença ostensiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Principal líder das lutas sociais do País nas últimas três décadas, Lula trocou os comícios pelas conversas ao pé do ouvido com empresários e políticos. Na semana passada, quando Dilma Rousseff enfrentava o prolongamento da pior crise desde que assumiu o governo, Lula evitou manifestações públicas e, na sexta-feira 28, estava de malas prontas para uma nova viagem à África, onde será a estrela principal de encontro organizado por seu instituto e a Organização das Nações Unidas (ONU) para a fome. Antes de confirmar a partida, num diálogo com Dilma, Lula se colocou à disposição para ajudar. Deixou claro que seria capaz de cancelar a viagem, se a presidenta achasse melhor. Acabou viajando.
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JUNHO DE 2013
Em seu instituto, Lula fala com o vice-presidente
Michel Temer sobre as manifestações
Longe das ruas, mas de olho no que se passa no país inteiro, Lula tem-se esforçado para combinar a biografia com a responsabilidade de ser um dos mais populares políticos brasileiros, patrono e fiador da presidenta que era chamada de poste quando entrou na campanha. A rotina de Lula durante os dias em que os brasileiros retomaram as ruas praticamente não se alterou. O circuito casa-Instituto dominou sua agenda. O que mudou foi a intensidade das articulações, inclusive com membros do governo e de partidos da base aliada, como o vice-presidente Michel Temer. Nas manifestações de junho, Lula foi puro bastidor. Fugiu de ser protagonista. Isso porque, segundo ele revelou a interlocutores nos últimos dias, assiste-se, a sua volta, a uma combinação de dois movimentos delicados. Cada desgaste de Dilma Rousseff corresponde a um renascimento da memória de Lula entre dirigentes do PT, antigos ministros e mesmo entre eleitores. A expressão “volta Lula” já era um refrão de insatisfeitos antes mesmo do MPL (Movimento Passe Livre) entrar em cena, animado por petistas de várias correntes. Agora, tornou-se um coro ainda mais forte, quando muitos se perguntam se a presidenta poderá agüentar o tranco, superar os problemas e pavimentar o caminho da reeleição. Em função disso, nos últimos dias o ex-presidente tem procurado ser o que nunca foi: um personagem discreto, quase apagado, para evitar solavancos que possam criar novas incertezas em torno de Dilma. “O PT nasceu para ser diferente e não pode ficar contra o que fez em sua história. Não é porque virou governo que pode amarrar os movimentos sociais”, explicou Lula na sexta-feira, 21, na ressaca daquela passeata de São Paulo que degenerou em pancadaria entre militantes do PT e de outras siglas de esquerda, contra ativistas que queriam expulsar partidos políticos das manifestações. Lula deu a declaração para uma platéia pequena e atordoada em uma reunião fechada na sede do PT em São Paulo. Lá se encontravam parlamentares, dirigentes do partido, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo e também o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, que poucos dias antes ainda se recusava a suspender um aumento de R$ 0,20 nas passagens.
Durante o encontro reservado, ciente de que protestos de caráter insurrecional se transformam, cedo ou tarde, numa fonte de desgaste para todos os políticos e partidos que ocupam as funções de governo, por melhor que fosse sua avaliação popular na fase anterior, Lula definiu as reivindicações como “legítimas”. Também avaliou que boa parte das reivindicações estão distorcidas, na medida em que os protestos reúnem movimentos sociais e cidadãos que se organizam a partir da internet, que gera um tipo de mobilização que passa longe dos grandes contingentes das classes C e D, onde se encontra grande parte do eleitorado petista.
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MAIO DE 1979
Lula se junta às massas e discursa para metalúrgicos em São Bernardo
Lembrando que muitos protestos vieram acompanhados por cenas de baderna e violência, um assessor do ex-presidente que esteve com ele nos últimos dias esclarece que Lula “tem ciência de que elas podem contribuir até para o desgaste internacional do país.” Em outra reunião da semana, numa formulação construída em companhia de auxiliares mais fieis, sempre que teve oportunidade Lula lembrou que era preciso comparar o que se passa na Europa, onde a aflição da população envolve a perda de empregos, à destruição de conquistas e o desmanche econômico, enquanto no Brasil a população foi à rua em busca de novos direitos e melhorias.
Na semana passada, depois que Dilma anunciou a disposição de debater um plebiscito que poderia convocar uma Constituinte, o ex-ministro da Secretaria de Direitos Humanos Paulo Vannucchi, foi um dos poucos a estar com o ex-presidente. Na conversa, questionou Lula sobre a delicadeza da situação. Vannucchi lembrou que uma constituinte poderia abrir muitos flancos para o governo numa situação de fragilidade do sistema político. Lula manteve-se firme na proposta, durante as 24 horas em que Dilma Rousseff se mostrou favorável a ideia.
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PRÓXIMOS PASSOS
Com Luiz Gonzaga Belluzzo, na sede do PT-SP,
Lula combinou a volta às ruas
A exemplo do que fez Fernando Henrique Cardoso em 1999, Lula foi um advogado da convocação de uma Constituinte exclusiva para fazer uma reforma política em 2006, quando se reelegeu presidente após o tumulo do mensalão. Mas Lula havia abandonado a ideia e nas últimas semanas preparava-se para tornar-se a estrela principal de uma campanha do próprio PT para coletar 1,5 milhão de assinaturas pela reforma política, movimento que pretendia incrementar fazendo caravanas pelas regiões mais pobres, mas o processo foi atropelado pelo terremoto dos protestos. Assim que o Congresso formatar o plebiscito da reforma partidária, Lula pretende voltar às ruas para apoiar a proposta, num movimento que, se tudo seguir conforme o planejado, pode servir como o ponto de partida para a campanha presidencial de 2014. “O papel do Lula é ser líder. Ele é um grande eleitor, e um grande articulador. Ele é o único líder do país a falar para as classes D e E e o papel dele no país é levar essa mensagem da reforma política. Primeiro, ele vai montar o palanque e percorrer o país para mobilizar as classes D e E”, explica o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE).
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Fotos: Heinrich Aikawa / Instituto Lula; Folhapress; Leonardo Wen/Folhapress

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