Débora Bergamasco, de O Estado de S. Paulo
Pressionado pelas sentenças e votos duros dos ministros
do Supremo Tribunal Federal, o ex-ministro José Dirceu vai apresentar
uma nova defesa na próxima terça-feira, 4. A peça rebaterá "com tintas
carregadas", segundo seu advogado, a última petição de dez páginas
distribuída pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, no dia
16 de agosto.
Ed Ferreira/AE
Dirceu alterna momentos de calma e irritação ao ler e ver noticiário, diz interlocutor
O cerne do documento encaminhado ao Supremo pelo procurador-geral foi reiterar a validade de depoimentos de testemunhas como provas para os crimes de formação de quadrilha e corrupção ativa, dos quais Dirceu é acusado.
O discurso de Gurgel tem se mostrado afinado até com o voto de magistrados que eram incógnitas, como a ministra Rosa Weber. Mais nova ministra no STF, indicada pela presidente Dilma Rousseff, ela patrocinou uma tese que repercutiu na Corte: "Nos delitos de poder, quanto maior o poder ostentado pelo criminoso, maior a facilidade de esconder o ilícito. Esquemas velados, distribuição de documentos, aliciamento de testemunhas. Disso decorre a maior elasticidade na admissão da prova de acusação", afirmou.
Irritação. Um interlocutor próximo a Dirceu avalia que a sentença proferida ao ex-deputado não chegou a surpreender. "A surpresa negativa foi a dureza dos votos, mas teremos que esperar o desenrolar do julgamento para consolidar nossas expectativas." Ele conta que Dirceu alterna momentos de calma e irritação. "Menos pelo julgamento e mais por certas coisas que saem na imprensa, porque ele lê tudo e vê o noticiário da TV."
Outra pessoa próxima diz que o ex-chefe da Casa Civil ficou "muito triste com a condenação de João Paulo, porque eles são amigos e também porque é muito difícil para qualquer petista ver um ex-presidente da Câmara ser condenado. "Não era um Zé Mané no partido". O mesmo companheiro afirma que Dirceu continua sereno. "Mesmo caindo a tese de caixa dois, isso não tem nada a ver com ele, não terá nenhum impacto no julgamento", apostou.
O escritor Fernando Morais, que é amigo de longa data do ex-guerrilheiro, recebeu-o para um jantar em casa esta semana. Acompanhado da namorada Evanise Santos, Dirceu levou uma garrafa de vinho. Segundo o anfitrião, ele se manteve descontraído durante a bacalhoada preparada pela cozinheira da casa. A televisão ficou desligada durante o Jornal Nacional e o horário eleitoral. "Falamos apenas sobre amenidades, como batatas e peixes e sobre meu novo projeto de criar um mega site internacional só com notícias políticas."
Ainda não houve convite formal, mas o escritor acredita que "certamente ele será meu colaborador". Morais, que aguarda o fim do julgamento para retomar as entrevistas e continuar a escrever a biografia de Dirceu, fez sua avaliação sobre o estado de espírito do colega: "Posso te garantir que para mim ele pareceu muito tranquilo, sereno e confiante. Mas sabe como é, né? Ele sempre foi muito discreto. É impossível chegar à alma do Zé".
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