Ele diz que não conhece a palavra covardia e que está preparado para qualquer resultado no STF Mônica Bergamo
"A
burguesia acorda tarde. Eu saí da cama faz tempo e estou morrendo de
fome", diz José Dirceu ao abrir a porta de seu apartamento, em SP, às 9h
de sexta-feira.
Réu
no processo do mensalão, ele saiu de circulação desde o início do
julgamento e há meses recusa todos os pedidos da imprensa brasileira
para uma entrevista. Na semana passada, recebeu a coluna para um café. À
mesa, suco de laranja, abacaxi, café com leite, pão e frios.
"Eu
não estou deprimido. Eu não tenho razão para estar deprimido. Eu tenho
objetivos, metas, sonhos. Eu acordo às seis da manhã todos os dias.
Recebo o resumo das notícias que a equipe do meu blog envia. Eles já
sabem o que me interessa. Estão comigo há cinco anos. Funcionamos por
telepatia."
"Eu gasto duas ou três horas lendo toda a imprensa brasileira, no iPad e no meu laptop. Depois, escrevo artigos para o blog."
Dirceu
veste camiseta marrom e calça jeans cinza que estão largas em seu
corpo. Está mais magro e com os cabelos mais longos do que o habitual.
Perdeu 6 kg. Mas afirma que isso não tem nada a ver com o mensalão. "Eu
faço muita ginástica. Desde 1998, tenho um instrutor."
Recentemente,
passou a se exercitar todos os dias. Faz esteira, musculação e
alongamento na academia do próprio prédio. "Me sinto bem."
A
coluna diz que é difícil acreditar que a vida siga tão normal. " Muita
gente me visita. Não tem um dia em que não venham duas, três pessoas me
ver, aqui ou na minha casa em Vinhedo."
O
escritor Fernando Morais, o produtor Luiz Carlos Barreto e o líder do
MST, João Pedro Stédile, estão entre as visitas. O ex-presidente Lula
liga um dia sim, um dia não, para saber como ele está. "Não me falta
companhia."
O
julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal) entra na reta final. A
condenação de Dirceu parece certa. Até seus interlocutores próximos
admitem a possibilidade. As penas máximas para os crimes de que é
acusado chegam a 15 anos. A Folha revelou que ele já conversou com o
presidente Lula sobre a hipótese de ser preso.
"Que
nada, isso não aconteceu", diz. "Não é que não tem prova no processo
contra mim. Eu fiz a contraprova. Eu sou inocente. Eu confio na
Justiça." Ele diz saber que, mesmo absolvido, "isso não vai acabar. Em
sete anos [desde que estourou o escândalo], eu não tive a presunção da
inocência. Por que vou ter a ilusão de que isso vai ocorrer, mesmo que
eu seja considerado inocente pelo Supremo?"
A
coluna pergunta de novo se, ainda que insista em dizer que confia na
Justiça, ele nunca pensa na hipótese de ser condenado e preso.
"Isso
daí [resultado do julgamento] vai demorar dois meses para acontecer.
Vou ser julgado por corrupção ativa no fim do mês ou no começo de
outubro. Em mais quatro semanas, serei julgado por quadrilha. Por que
vou sofrer por antecipação? Na hora em que acontecer, vou ver o que
fazer."
"A
expectativa que eu tenho? Eu fui cassado pela Câmara dos Deputados [em
2005] sem provas. De lá para cá, eu sofri um linchamento como corrupto e
quadrilheiro. Eu estou preparado para qualquer resultado."
"E
não vou deixar de fazer o que sempre fiz, que é lutar. É ilusão achar
que eu vou... não faz parte da minha personalidade eu me abater. Se
alguém tem a ilusão de que, me condenando, cometendo essa violência
contra mim, vai me derrubar, pode tirar o cavalinho da chuva."
Dirceu diz que só dará entrevista sobre o mérito do caso depois do julgamento.
Não
quer também comentar a hipótese de o publicitário Marcos Valério, já
condenado à prisão por vários crimes, "explodir" no caso de ser preso.
"O advogado desmentiu [declarações que Valério teria dado a terceiros
acusando o ex-presidente Lula de participar do esquema]. Não tenho o que
comentar."
Diz
que a sua principal intenção, na conversa, é afirmar que está bem e que
não vai fugir do país para não ser preso caso seja condenado.
"Essa história que inventam de que vou sair do Brasil não combina comigo", afirma o ex-ministro.
Saí
[na década de 60] porque fui expulso do país. Cassaram a minha
nacionalidade. Eu era um apátrida, não podia viajar. Quem me impedia de
voltar era a ditadura militar. E mesmo assim eu voltei para o Brasil,
duas vezes, colocando a minha própria vida em risco. Eu iria embora
agora?"
"O
PT tem defeitos. Mas se tem algo que não conhecemos no PT é a palavra
covardia. A chance de eu fugir do Brasil é nenhuma. Zero."
"Eu não estou deprimido. Eu não tenho razão para estar deprimido. Eu tenho objetivos, metas, sonhos.
Muita gente me visita. Não me falta companhia.
Não é que não tem prova no processo contra mim. Eu fiz a contraprova. Eu sou inocente. Eu confio na Justiça
Por que vou sofrer por antecipação? Na hora em que acontecer, vou ver o que fazer.
Eu
fui cassado pela Câmara dos Deputados sem provas. Sofri linchamento
como corrupto e quadrilheiro. Eu estou preparado para qualquer
resultado.
Se alguém tem a ilusão de que, me condenando, vai me derrubar, pode tirar o cavalinho da chuva
Fui
expulso do Brasil. Quem me impedia de voltar era a ditadura. E mesmo
assim voltei, duas vezes, colocando a minha vida em risco.
Se tem algo que não conhecemos no PT é a palavra covardia
A chance de eu fugir do Brasil é nenhuma. Zero"
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