'L'Osservatore Romano' contesta originalidade do documento apresentado na semana passada pela historiadora de Harvard Karen King
Pergaminho
( Karen L. King)
O jornal
L'Osservatore Romano, publicação oficial do Vaticano, afirmou nesta quinta-feira que o
papiro
no qual aparece a frase em copta 'Jesus lhes disse, minha esposa ...' é
falso. Um breve artigo assinado pelo diretor do jornal, Giovanni Maria
Vian, afirma que "razões consistentes nos levam a concluir que o papiro
seja uma desajeitada falsificação (como tantas outras provenientes do
Oriente Médio)". O papiro, supostamente datado do século 4, foi
apresentado na semana passada por Karen King, historiadora de Harvard,
em um congresso sobre a língua copta que aconteceu em Roma. A divulgação
do documento reacendeu o debate sobre se Jesus Cristo teria ou não se
casado.
Reprodução
'L'Osservatore Romano' contesta autenticidade de papiro que sugere que Jesus foi casado
A afirmação do diretor do jornal vem acompanhada de um extenso artigo
de Alberto Camplani, especialista em copta e professor de história do
cristianismo da universidade romana La Sapienza. No texto, o professor
faz ressalvas em relação à autenticidade do documento. Segundo Camplani,
é preciso adotar numerosas precauções uma vez que o fragmento, ao
contrário de outros achados apresentados no congresso, não foi
encontrado em escavações, mas veio do mercado de antiguidades. Ainda de
acordo com o especialista, estudiosos em copta presentes no congresso
levantaram dúvidas sobre a originalidade do papiro após analisarem
fotografias e reproduções. Para Camplani, a escritura no fragmento se
distancia da maior parte dos documentos conhecidos que datam do século
4.
Além de pôr em xeque a autenticidade do papiro, Camplani questionou a
interpretação da historiadora sobre o texto (segundo Karen, o
manuscrito mostrava que, logo depois da morte de Jesus, as primeiras
comunidades cristãs já debatiam se ele teria ou não sido casado). "A
expressão 'Jesus lhes disse, minha esposa...' é metafórica e simboliza a
consubstancialidade [mesma natureza humana] entre Jesus e seus
discípulos. Ela encontra amplo paralelo nas literaturas bíblica e cristã
primitiva", diz Camplini.
O jornal do Vaticano ressaltou também que a historiadora americana
preparou o anúncio "sem deixar nada ao acaso" - e enumerou: "imprensa
americana avisada e entrevista coletiva prévia para preparar um furo
mundial, que, no entanto, foi posto em dúvida pelos especialistas”.
(Com informação da EFE)
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