Estado registra madrugada menos violenta desde o início da onda de ataques; Polícia Militar afirma que prisões são responsáveis por redução
Jean-Philip Struck
Bandidos
atearam fogo em um ônibus urbano, em Canasvieiras, no Norte da Ilha de
Santa Catarina, em Florianópolis - Cristiano Estrela/Ag. RBS/Folhapress
O diálogo foi interceptado pela Secretaria de Segurança catarinense em uma gravação entre dois presos na última quinta-feira, 15 de novembro, e foi obtida pelo jornal Diário Catarinense, sediado em Florianópolis. Segundo o jornal, o diálogo foi travado entre um preso detido em uma cadeia de Blumenau, na região norte, e outro em um presídio não identificado. Os nomes não foram divulgados.
Na conversa, os dois presos comemoram os resultados da onda de atentados. "Fica o agradecimento de nós todos, tá ligado, irmão. Pelo apoio que os irmãos deram", diz um dos presos.
A ligação ainda reforça a hipótese de que os atentados tiveram origem em uma suposta insatisfação de membros de facções criminosas com as condições dos presídios catarinenses, em especial o de São Pedro de Alcântara, na grande Florianópolis, onde nos últimos meses presos fizeram denúncias de que estariam sendo torturados. Na quarta-feira, 14, o diretor da unidade foi afastado.
Na ligação, após comentar que dezenas de presos iriam passar por exames para detectar possíveis casos de tortura, um dos presos passa para o outro a ordem de “normalizar”. Os dois ainda combinam de repassar as ordens para outros presídios do estado, entre eles o de Biguaçu, na grande Florianópolis, e uma unidade agrícola na capital – o que demonstra a facilidade de comunicação entre os detentos de diferentes unidades.
A ordem dos presos para interromper os atentados não parece ter surtido efeito imediato, já que entre os dias 16 e 18 ainda foram registrados 15 ataques, entre depredações de ônibus e tiros disparados contra bases da polícia.Mas o número de ataques nesse período foi bem menor do que o registrado entre os dias 13 e 15 – pico que concentrou mais de 70% das ocorrências –, e já apontava a redução que culminou na madrugada tranquila desta segunda-feira. O último atentado no estado, o 68º segundo os registros da PM, aconteceu na noite de domingo, em Criciúma, no sul do estado – um ônibus foi apedrejado e uma passageira ficou ferida.
O comandante do 4° Batalhão de Polícia Militar de Santa Catarina, o tenente-coronel Araújo Gomes, minimizou na tarde de hoje o conteúdo da gravação. Em entrevista a um telejornal local, ele afirmou que a redução da violência se deve a um “conjunto de fatores”, e está ligada principalmente à intensificação da ação da polícia. No dia 15, quando a conversa entre os presos foi registrada , 21 pessoas foram presas. Segundo Gomes, como a redução da violência ainda foi gradual, isso indicaria que não houve uma ordem abrupta para parar os atentados.
Durante a onda de ataques, 47 pessoas foram presas. Ao todo, 27 ônibus e 12 automóveis foram incendiados, dez ataques com arma de fogo contra PMs e agentes prisionais foram registrados e três suspeitos morreram em confronto com a polícia.
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