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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Presos mandam interromper atentados em SC

Estado registra madrugada menos violenta desde o início da onda de ataques; Polícia Militar afirma que prisões são responsáveis por redução

Jean-Philip Struck
Bandidos atearam fogo em um ônibus urbano, em Canasvieiras, no Norte da Ilha de Santa Catarina, em Florianópolis
Bandidos atearam fogo em um ônibus urbano, em Canasvieiras, no Norte da Ilha de Santa Catarina, em Florianópolis - Cristiano Estrela/Ag. RBS/Folhapress
"Amanhã já pode normalizar tudo, tá, meu irmão?". Tanto os ataques a ônibus e policiais militares em Santa Catarina quanto a redução de episódios de criminalidade no estado, observada nas últimas horas, parecem ter a mesma origem: uma ordem de dentro dos presídios. Na madrugada desta segunda-feira, 19, não foi registrado nenhum ataque relacionado à onda de crimes orquestrada por presos do sistema penal do estado. Foi a noite mais tranquila desde o dia 12, quando os atentados começaram.
O diálogo foi interceptado pela Secretaria de Segurança catarinense em uma gravação entre dois presos na última quinta-feira, 15 de novembro, e foi obtida pelo jornal Diário Catarinense, sediado em Florianópolis. Segundo o jornal, o diálogo foi travado entre um preso detido em uma cadeia de Blumenau, na região norte, e outro em um presídio não identificado. Os nomes não foram divulgados.
Na conversa, os dois presos comemoram os resultados da onda de atentados. "Fica o agradecimento de nós todos, tá ligado, irmão. Pelo apoio que os irmãos deram", diz um dos presos.
A ligação ainda reforça a hipótese de que os atentados tiveram origem em uma suposta insatisfação de membros de facções criminosas com as condições dos presídios catarinenses, em especial o de São Pedro de Alcântara, na grande Florianópolis, onde nos últimos meses presos fizeram denúncias de que estariam sendo torturados. Na quarta-feira, 14, o diretor da unidade foi afastado.
Na ligação, após comentar que dezenas de presos iriam passar por exames para detectar possíveis casos de tortura, um dos presos passa para o outro a ordem de “normalizar”. Os dois ainda combinam de repassar as ordens para outros presídios do estado, entre eles o de Biguaçu, na grande Florianópolis, e uma unidade agrícola na capital – o que demonstra a facilidade de comunicação entre os detentos de diferentes unidades.
A ordem dos presos para interromper os atentados não parece ter surtido efeito imediato, já que entre os dias 16 e 18 ainda foram registrados 15 ataques, entre depredações de ônibus e tiros disparados contra bases da polícia.Mas o número de ataques nesse período foi bem menor do que o registrado entre os dias 13 e 15 – pico que concentrou mais de 70% das ocorrências –, e já apontava a redução que culminou na madrugada tranquila desta segunda-feira. O último atentado no estado, o 68º segundo os registros da PM, aconteceu na noite de domingo, em Criciúma, no sul do estado – um ônibus foi apedrejado e uma passageira ficou ferida.
O comandante do 4° Batalhão de Polícia Militar de Santa Catarina, o tenente-coronel Araújo Gomes, minimizou na tarde de hoje o conteúdo da gravação. Em entrevista a um telejornal local, ele afirmou que a redução da violência se deve a um “conjunto de fatores”, e está ligada principalmente à intensificação da ação da polícia. No dia 15, quando a conversa entre os presos foi registrada , 21 pessoas foram presas. Segundo Gomes, como a redução da violência ainda foi gradual, isso indicaria que não houve uma ordem abrupta para parar os atentados.
Durante a onda de ataques, 47 pessoas foram presas. Ao todo, 27 ônibus e 12 automóveis foram incendiados, dez ataques com arma de fogo contra PMs e agentes prisionais foram registrados e  três suspeitos morreram em confronto com a polícia.

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