Deputados e senadores aprovam resoluções que oficializam mordomias, como as folgas às segundas
e sextas, e dão um mau exemplo para o País
Izabelle Torres
EM CAUSA PRÓPRIA
Maia e Sarney: o primeiro diz que oficializou situação que já
existia e o segundo liberou ponto eletrônico para senadores
Acostumados a desfrutar de benesses às escuras e frequentemente
surpreendidos pela pressão da sociedade que exige o fim das mordomias,
deputados e senadores estão adotando um novo modo de operar. As
vantagens desfrutadas por políticos e servidores do Congresso começaram a
se tornar oficiais, na forma de resoluções internas aprovadas
discretamente pelos parlamentares. Nos últimos meses, a Câmara desafiou a
opinião pública para, às vésperas das eleições, permitir o uso da verba
de gabinete – ou seja, dinheiro do contribuinte – para a produção de
panfletos de cunho eleitoral. Os deputados também colocaram no papel que
as votações em plenário só ocorrerão às terças, quartas e quintas,
oficializando assim as folgas às segundas e sextas, além de terem
aumentado em 30% a verba de gabinete, que desde julho é de R$ 78 mil.
“Apenas oficializamos uma situação que já existia”, diz o presidente da
Casa, Marco Maia (PT-RS). “Não há motivos para polêmica.”
Não bastassem as vantagens concedidas a eles próprios, os
parlamentares agora se articulam para resolver antigas reivindicações
dos servidores que ocupam cargos de confiança. A Mesa Diretora, sob o
comando de Maia, discute formas de garantir a esses funcionários os
mesmos direitos de trabalhadores submetidos ao regime celetista de
empresas privadas. Se a proposta for aprovada, quem for contratado por
um deputado para um cargo comissionado terá direito a aviso prévio e
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. A Câmara não sabe quanto
custaria essa mudança aos cofres públicos, mas a conta é alta. São cerca
de dez mil servidores, com salários que chegam a R$ 9 mil. Nesse grupo,
há quem se mantenha em cargos de indicação política há 20 anos e
passaria a contar com direitos trabalhistas de forma retroativa.
Enquanto isso, o Senado começou a acertar no início de outubro uma
dívida com a Receita Federal. O valor chega a R$ 12 milhões e se refere
ao imposto que incidia sobre o 14º e o 15º salários nos últimos cinco
anos. O presidente da casa, José Sarney (PMDB-AP), era a favor de que
cada parlamentar acertasse a própria conta, mas foi pressionado pelos
pares a jogar a despesa para os cofres públicos. Sarney também
oficializou a liberação do ponto eletrônico para seus funcionários e
abriu caminho para que os senadores fizessem o mesmo.
Foto: Paulo de Araújo/CB/D.A Press
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