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segunda-feira, 1 de julho de 2013

Acuada por protestos, Fifa tenta blindar Copa de 2014

Manifestações populares contra os gastos da Copa preocupam entidade para o Mundial de 2014

Foram duas semanas que abalaram a Fifa. Ironicamente, foi justamente no "país do futebol" que a entidade máxima do esporte foi confrontada com uma nova realidade que, para muitos dirigentes nos bastidores do poder da Fifa, poderá obrigar o atual modelo de megaeventos esportivos a ser revisado.

Na abertura da competição, em Brasília, presidente Dilma Rousseff foi vaiada pelo público. Surpreso, Joseph Baltter, gestor máximo da Fifa, chegou a dar um "carão" na torcida que, sem perdoar, também o vaiou FOTO: REUTERS

A Copa das Confederações era para ter sido o torneio que testaria parte da preparação do Brasil para a Copa de 2014. Mas acabou se transformando num divisor de águas para a entidade e, potencialmente, para a própria história dos Mundiais por causa das manifestações e das críticas que o evento recebeu.

Como se não bastasse, nos últimos 15 dias, a relação entre governo e Fifa azedou de vez e a entidade constatou que os problemas de infraestrutura são graves. Mas o centro do debate é o temor de que as manifestações afastem da Copa de 2014 milhares de turistas e patrocinadores.

A partir de agora, a Fifa montará um verdadeiro esquema de guerra para salvar a Copa do Mundo, praticamente sua única grande fonte de renda. Para isso, terá 12 meses para cicatrizar feridas abertas nas últimas duas semanas com o governo brasileiro e montar um esquema internacional para tentar provar a financiadores e torcedores que ir ao Mundial no Brasil é seguro.

A Fifa tenta manter um tom de otimismo em relação ao Brasil e insiste que "confia" na habilidade do governo em dar respostas aos problemas de segurança, mas o mal-estar é real.

Assim que as manifestações começaram a ocorrer, o governo foi surpreendido por declarações desastrosas da Fifa, acusando os manifestantes de estarem "usando" a entidade.

Se não bastasse, o governo se irritou com a pressão feita pela Fifa. A presidente Dilma Rousseff, que já não conversava com Joseph Blatter, fechou de vez as portas para a entidade.

Dias de jogos em Fortaleza foram marcados por fortes manifestações populares nas ruas. Confrontos entre ativistas e a Polícia foram destaque na imprensa nacional e internacional, afetando a imagem do evento FOTO: LUCAS DE MENEZES
Operação

Nos próximos meses, o discurso que a Fifa adotará é o de se distanciar dos eventos políticos e tentar apresentar a Copa como evento independente do cenário social do País. O secretário-geral Jérôme Valcke é claro: "Dá para ter jogos, de um lado, e manifestações pacíficas de outro".

Internamente, a ordem na Fifa é a de evitar a todo custo se envolver nos protestos, principalmente porque, em 2014, o Brasil estará em plena campanha eleitoral para presidente.

Outra estratégia é a de usar as emissoras que pagaram milhões de dólares para ter o direito de transmitir a Copa para, desta vez, começar a mudar a imagem do evento e do próprio Brasil.

Em jogo, estão uma verdadeira mina de ouro e a própria credibilidade da Fifa. A estimativa de Valcke é de que a renda da Copa chegue a US$ 4 bilhões. Os lucros seriam de US$ 2,5 bilhões.

Para outros cartolas, o evento no Brasil pode entrar para a história como o momento em que justamente o "país do futebol" colocou um limite nas exigências da Fifa e declarou que não haveria justificativa para os gastos públicos com um Mundial.

"O Brasil foi fundamental na história do futebol e está provando que pode também ser fundamental para o futuro da Copa", declarou um alto dirigente da Fifa, que pediu anonimato.

Apesar da repercussão negativa dos protestos junto a patrocinadores, para o ano que vem, a Fifa pretende fortalecer a imagem de que o Brasil é o "País do futebol", mostrando um povo apaixonado pelo esporte FOTO: LUCAS DE MENEZES

Blatter é vaiado no Rio

O presidente da Fifa, Joseph Blatter, e o presidente da CBF, José Maria Marin, foram vaiados pouco antes do início da decisão da Copa das Confederações.

Os telões do Maracanã exibiram os dois no camarote da Fifa dentro do Maracanã junto com mais três dirigentes. Eles mostravam para as câmeras uma camisa da seleção autografada para Nelson Mandela. Em seguida, o estádio vaiou o grupo.

A imagem foi retirada imediatamente do telão, mas permaneceu sendo exibida nas televisões instaladas na tribuna de imprensa para os jornalistas.

Na quarta, em Belo Horizonte, Blatter pediu para não ter sua imagem exibida nos telões do Mineirão durante a vitória da seleção diante do Uruguai, por 2 a 1. O mesmo ocorreu em Fortaleza, no dia seguinte, no duelo entre Espanha e Itália.

Na edição de 2009 da Copa das Confederações, Blatter e o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, entregaram a taça de campeão ao Brasil.

Vaiada na abertura do torneio em Brasília, a presidente Dilma Rousseff recusou o convite de Baltter para assistir à final de na tribuna de honra do Maracanã.

Valcke também é hostilizado em Salvador

O secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, foi vaiado pela torcida que estava no estádio da Fonte Nova durante a cerimônia de premiação do terceiro lugar da Itália na Copa das Confederações, na tarde de ontem.

O secretário-geral da Fifa foi um dos responsáveis pela entrega das medalhas aos italianos FOTO: REUTERS

O francês ficou conhecido no país pelo episódio do "chute no traseiro do Brasil", no começo do ano passado, quando quis cobrar mais rapidez para as obras do evento. Depois, pediu desculpas pela declaração.

A vaia dos cerca de 43 mil pagantes que estiveram na arena de Salvador aconteceu no momento em que Valcke teve o nome anunciado pelo locutor oficial do evento.

Na partida inaugural do torneio, em Brasília, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, já havia sido vaiado pelo público ao lado da presidente da República, Dilma Rousseff.

Medalhas

Ele, junto com outros cartolas, era o responsável por entregar as medalhas de bronze para os italianos. A solenidade foi bem rápida, no centro do gramado.

Calendário do Mundial no Brasil deve ser alterado

A Fifa poderá reabrir o calendário da Copa do Mundo de 2014 depois de descobrir as distâncias e as dificuldades de viajar pelo Brasil. Um informe será entregue ao presidente da Fifa, Joseph Blatter, com a recomendação para que as duas semifinais do Mundial no ano que vem sejam disputadas no mesmo dia e não em dias diferentes, como ocorreu na Copa das Confederações.

Pessoas do gabinete de Blatter revelaram que a reavaliação deve ocorrer por conta do que se observou no jogo entre Espanha x Itália, que foi disputado na última quinta-feira em Fortaleza.

Para o grupo técnico da Fifa, o fato de os espanhóis terem um dia a menos para descansar e ainda terem de viajar de Fortaleza ao Rio de Janeiro prejudicou a equipe.

"São temperaturas diferentes, umidades diferentes. O Brasil é muito grande. Mas as seleções não podem ser prejudicadas por conta disso", explicou o técnico encarregado de preparar o informe à Blatter.

Jogadores espanhóis, após a partida contra a Itália, reconheciam que o cansaço poderia afetar o desempenho da seleção, que teve um dia a menos de descanso

O calendário da Copa do Mundo foi estabelecido há cerca de um ano e a decisão foi a de levar em conta não apenas o esporte, mas principalmente cálculos políticos do governo federal e da CBF para agradar governadores estaduais aliados.

A Fifa sequer exigia doze sedes. Mas a CBF optou por levar a Copa a todo o país e ainda a garantir que uma sede não ficaria apenas com times "menores". O resultado foi um calendário que obrigará viagens de mais de 8 mil quilômetros para uma seleção entre o primeiro e último jogo. Pela previsão atual, a primeira semifinal da Copa de 2014 ocorrerá em uma terça, em Belo Horizonte. A segunda será em São Paulo um dia depois. A final está marcada para domingo, dia 13 de julho, no Rio de Janeiro.

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