Por Pedro Valls Feu Rosa - Em 23 jul 2013*
Quem
não se lembra do filme "Apocalypse Now", um clássico dirigido por
Francis Ford Coppola retratando os horrores da Guerra do Vietnã? Eram
cenas chocantes mostrando helicópteros sendo derrubados a tiros de
metralhadora e pessoas morrendo como moscas.
Naquela
guerra o exército norte-americano lutou ferozmente durante dez longos
anos, perdendo 58.198 soldados. Enquanto isso, só no ano de 2003, o
pacífico Brasil, que não estava em guerra, perdeu 51.043 filhos
assassinados pelas suas ruas.
Há
também a Segunda Guerra Mundial, reputada o maior conflito da história.
O exército norte-americano lutou praticamente no mundo inteiro – desde
os campos da Europa até o Oceano Pacífico. Enfrentou desde os tanques de
guerra nazistas até os kamikazes japoneses. Nesta guerra, que durou uns
cinco anos, os Estados Unidos perderam 291.557 soldados em combate.
Enquanto isso, entre 2002 e 2006, 243.232 brasileiros morreram
assassinados em nossas cidades, que vivem em paz.
E
que dizermos da Primeira Guerra Mundial? Em uns quatro anos de conflito
encarniçado pelas trincheiras da Europa, 53.402 soldados
norte-americanos foram mortos em combate. Enquanto isso, só no ano de
2005, a população brasileira assistiu 47.578 homicídios, algo espantoso
para um país que vive em paz!
Diante
destes dados resolvi fazer umas contas. Verifiquei quantos soldados
norte-americanos morreram em combate na Guerra do México, Guerra
Hispano-Americana, I Guerra Mundial, II Guerra Mundial, Guerra da
Coréia, Guerra do Vietnã, Guerra do Golfo, Guerra do Iraque e Guerra do
Afeganistão. Cheguei a 666.056 baixas ao término de uns 34 anos de
batalhas terríveis. Enquanto isso, em apenas 16 anos (1990 a 2006),
697.668 civis brasileiros morreram a tiros, facadas ou pauladas pelas
ruas deste tranquilo país.
Já
horrorizado diante destes números, fiz mais alguns cálculos e constatei
algo assustador: o Exército dos Estados Unidos em guerra perde uma
média de 53,67 soldados por dia. Já o Brasil, usufruindo de uma paz
absoluta, perde 119,46 habitantes assassinados por dia – mais do que o
dobro! Talvez devêssemos nos alistar nas Forças Armadas dos EUA – lá
deve ser mais seguro e menos violento!
Voltei
às planilhas. Constatei que nos cerca de cinco anos da Segunda Guerra
Mundial, a pior de todos os tempos, o número de soldados mortos em
combate dos exércitos da Bélgica, Bulgária, Canadá, Tchecoslováquia,
Dinamarca, Grécia, Holanda, Noruega, Austrália, Índia, Nova Zelândia e
África do Sul somados foi de 166.914. Nós não precisamos de cinco anos
de guerra para tanto – só entre 2000 e 2003 enterramos, absolutamente em
paz, 193.925 compatriotas!
Durante
aqueles cinco anos de guerra a França, invadida pelos nazistas, perdeu
201.568 soldados. A Itália, sob Mussolini, 149.496. E o Brasil, durante
cinco anos de paz e sossego (2001 a 2005), viu serem brutalmente
assassinados 244.471 civis.
Fico
a lembrar da imagem de um helicóptero da Polícia abatido a tiros em
pleno Rio de Janeiro. Dentro daquela frase de Victor Hugo, segundo quem
"as ilusões sustentam a alma como as asas a um pássaro", ficamos a
defender o orgulho nacional dizendo ter sido aquele um episódio isolado.
Sustentamos, com o peito inflado por um falso patriotismo, que
normalmente este imenso país vive em paz. Em paz? Só se for aquela
famosa "paz dos cemitérios".
Lembre-se sempre:
"Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim".
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