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segunda-feira, 1 de julho de 2013

Voz das ruas mexe no xadrez político das eleições de 2014

É consenso político que presidente e governadores terão mais dificuldade em se reeleger ou eleger seus sucessores no próximo ano
  Agência O Globo Três semanas após o início das manifestações, ao menos uma avaliação sobre o futuro já começa a se tornar consensual no meio político: quem está no poder, seja a presidente Dilma Rousseff, sejam os governadores, terá mais dificuldade do que imaginava para se reeleger ou eleger seus sucessores em 2014. A opinião majoritária entre políticos e integrantes do governo federal é que a ex-senadora Marina Silva tende a ser a maior beneficiária dos movimentos.
Euler Jr.O Estado de Minas / Crítica dos partidos políticos existentes, Marina vem construindo sua própria agremiação, a Rede Sustentabilidade, com uma ampla frente, que vai da socialista Heloísa Helena à herdeira do Banco Itaú Maria Alice Setúbal. O antipartidarismo e o amplo espectro ideológico são características marcantes dos protestos.
Euler Jr.O Estado de Minas
 
Mobilidade urbana
Dilma promete R$ 50 bi, mas benefícios não virão antes de 2016
Pelo ritmo das obras executadas pelo governo federal em parceria com estados e municípios desde 2011, o brasileiro não será beneficiado tão cedo pelos R$ 50 bilhões prometidos semana passada por Dilma Rousseff para resolver os gargalos de mobilidade urbana. Se realizado, o investimento seria dez vezes maior que o previsto para as obras da Copa e mais que o dobro do previsto no PAC para as grandes cidades.
Um estudo detalhado do cronograma do PAC da Mobilidade mostra que boa parte dos R$ 18 bilhões prometidos para essas obras em 2011 ainda não saiu dos cofres do governo. Dois anos e meio depois, apenas cinco dos 42 empreendimentos selecionados tiveram suas obras iniciadas, e só dois deles têm mais de 10% das obras realizadas.
Isso significa que se o governo repetir com os R$ 50 bilhões o cronograma dado ao PAC Mobilidade, nenhuma obra com esses recursos deve sair do papel em menos de três anos.
Mês histórico
O mês que seria o da Copa das Confederações chegou ao fim como o do início de mudanças. Junho de 2013 entrará para a história recente do Brasil:
Tarifa justa
Protesto organizado na internet contra o reajuste das tarifas de transporte ganha São Paulo e se espalha pelo país. Os manifestantes promovem atos em diversas capitais e em cidades do interior.
Brasil protesta
A população toma conta das ruas e promove os maiores protestos recentes do país. Brasileiros exigem o fim da corrupção e serviços públicos melhores.
Ato violento
Protestos acabam em confrontos em várias cidades brasileiras. Em Curitiba, alguns manifestantes tentaram invadir a prefeitura e o Palácio Iguaçu, depredaram estações-tubo e até destruíram um restaurante.
Tropa de choque
Balas de borracha e bombas de pimenta foram usadas pela Tropa de Choque da PM para dispersar os manifestantes em Curitiba. Em São Paulo, a região central transformou-se num campo de batalha.
Protesto contra a Copa
Manifestantes tentaram fazer um protesto em frente às obras do estádio do Atlético, mas foram barrados por torcedores do time. O confronto terminou com alguns feridos. No Rio, um protesto nas proximidades do Maracanã terminou com ataque de policiais contra manifestantes e famílias.
Tarifas
Os governadores e prefeitos acabam desistindo de reajustes de tarifas de ônibus, metrô, trens e barcas.
Pactos
Dilma se reúne com governadores e prefeitos para definir ação para melhorar os serviços públicos.
Não à impunidade
Numa reviravolta, partidos até então favoráveis à medida mudaram de posição, e 430 deputados votaram contra a PEC 37, que retirava os poderes de investigação do Ministério Público.
Corrupção
Para dar resposta aos protestos que tomaram as ruas do país, o Senado aprova o projeto de lei que torna a corrupção crime hediondo.
PSDB e DEM, que nos últimos dez anos mantive­ram-se como principais representantes da oposição ao governo federal, já começaram a ampliar suas estruturas para dialogar com os grupos de insatisfeitos. Os tucanos haviam começado a apostar no uso da internet pouco antes do início dos protestos, quando lançaram o portal “Conversa com Brasileiros” para colher sugestões para um futuro programa de governo, mas, com as manifestações, a preocupação com as redes sociais se ampliou, e novos profissionais da área estão sendo contratados. A avaliação na cúpula do partido é que, ao contrário das últimas eleições, a internet poderá ser decisiva em 2014.
Próximos passos
Estudos de cenário da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) indicam que as manifestações iniciadas há quase um mês vão continuar nas próximas semanas. A Abin aponta ainda o surgimento de protestos de rua em cidades pequenas. São áreas urbanas sem a presença de movimentos sociais, onde autoridades locais não estão acostumadas a lidar com situações de tensão coletiva.
Pelas análises da agência, encarregada de assessoria à Presidência da República em questões relevantes para o país, as medidas anunciadas pelo governo demoram algum tempo até surtirem efeito e a falta de resultados imediatos serve de mais combustível para os protestos. “A tendência das manifestações é continuar, talvez não na proporção que tiveram até o momento”, disse o diretor da Abin, Wilson Trezza.
Segundo ele, as manifestações ganharam uma dimensão mítica. Muitos manifestantes estariam indo às ruas para reivindicar melhorias no serviço público e protestar contra a corrupção, entre outros temas visíveis em cartazes erguidos pelas multidões. Mas muitos estariam participando dos protestos apenas pelo orgulho pessoal de estar no centro de acontecimentos.
Trezza afirma que a agência já tinha detectado riscos de protesto de integrantes do “Copa para quem?”, movimento que lidera as manifestações contra os gastos públicos na Copa das Confederações. Mas, claro, não passou pelos radares da agência que os protestos arrastariam multidões.
Com o fim da Copa das Confederações, as atenções do serviço de inteligência se voltam para a Jornada Mundial da Juventude. A agência entende que o encontro internacional de jovens católicos no Rio de Janeiro tornam os protestos de rua ainda mais preocupantes.
Datafolha prevê 2.º turno para o Planalto
Chico Marés, com agências
As intenções de voto em Dilma Rousseff (PT) despencaram após a onda de protestos em todo o Brasil. Segundo pesquisa do instituto Datafolha, a presidente perdeu 21 pontos porcentuais desde o início do mês. Pela primeira vez, a pesquisa aponta probabilidade de segundo turno. A pré-candidata Marina Silva (Rede) foi quem mais “herdou” esses eleitores, subindo sete pontos, e está na segunda colocação. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.
Na última pesquisa do Datafolha, realizada nos dias 6 e 7 de junho, Dilma aparecia com 51% das intenções de voto. No cenário mais provável, no qual disputa as eleições com Marina, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), Dilma teria hoje 30% – contra 23% de Marina, 17% de Aécio, que cresceu em 3 pontos, e 7% de Campos, que oscilou positivamente em um ponto. O ministro Joaquim Barbosa, incluído em outro cenário, teria 15% das intenções de voto – em empate técnico com Marina (18%) e Aécio (15%). Dilma teria 29%.
Os números mostram, também, que o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva teria um desempenho melhor do que sua sucessora. Ele seria eleito em primeiro turno no cenário sem Barbosa e estaria em empate técnico com a soma dos outros candidatos no cenário com o ministro. Ainda assim, Lula perdeu, respectivamente, nove e dez pontos porcentuais nos dois cenários.
A pesquisa foi realizada nos dias 27 e 28 de junho, com 4.717 entrevistados. A margem de erro é de dois pontos porcentuais, para mais ou para menos.
Mercadante “atropela” Gleisi na articulação
Além de acelerar a aprovação de projetos encalhados no Congresso e decisões que se arrastavam na Justiça, as manifestações de ruas provocaram uma mudança na configuração da articulação política do Palácio do Planalto. Houve um “sobe e desce” entre os conselheiros da presidente Dilma Rousseff. Com o aval de Dilma, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, atropelou a paranaense Gleisi Hoffmann (ministra da Casa Civil) e a catarinense Ideli Salvatti (ministra de Relações Institucionais). Nos últimos dias, ele vem executando funções das duas.
O marqueteiro João San­­tana e o jornalista Franklin Martins, ex-ministro da Se­­­cretaria de Comunicação So­­­cial, têm influenciado as principais decisões da presidente em relação às medidas do governo para responder aos protestos. Os ministros Paulo Bernardo (Comunicações) também tem sido ouvido.
O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), defende que o governo precisa ter um interlocutor nos moldes de José Dirceu e Antonio Palocci, que já chefiaram a Casa Civil. “Com isso facilitaria muitas coisas”, disse Nogueira.
Perguntado se defendia a saída de Ideli Salvatti e de Gleisi Hoffman, o senador respondeu: “ou sair ou ganhar autoridade, porque quem faz o ministro é a própria presidente”. Outro senador próximo a Dilma defende reservadamente: “A Ideli e a Gleisi vão precisar sair”.

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