Financiamento de campanha, sistema de eleição de deputados, suplência de senadores, regime de coligações e fim do voto secreto estão na mensagem
Gabriel Castro e Marcela Mattos, de Brasília
Plenário do Senado durante sessão deliberativa
(Arthur Monteiro/Agência Senado)
Depois de reunir todo o seu ministério para tentar superar a pior crise
em dois anos e meio de governo, a presidente Dilma Rousseff encaminhou
nesta terça-feira ao Congresso Nacional sua proposta de plebiscito para a
reforma política no Brasil. O texto genérico contém cinco temas, mas
não estabelece as perguntas que seriam feitas à população, já que essa é
uma prerrogativa do Legislativo. No entanto, a formalização da proposta
evidencia a disposição de Dilma e do PT de tentar tirar proveito do
momento que vive o país para aprovar as mudanças no sistema eleitoral já
para as eleições do próximo ano.
O documento do Palácio do Planalto chegou ao Congresso pelas mãos do
vice-presidente da República, Michel Temer, e do ministro da Justiça,
José Eduardo Cardozo, e enumera cinco temas: 1) financiamento de
campanha; 2) sistema de eleição de deputados e vereadores; 3) modelo de
suplência de senador; 4) existência de coligações em eleições para
deputado e vereador, e 5) fim do voto secreto no Parlamento.
"O Congresso é quem manda e é o Congresso quem vai fazer", afirmou
Cardozo. "Eu acredito que o povo, ao ser consultado, tem totais
condições de dizer o sistema que ele quer para eleger as pessoas que os
representa", completou.
O discurso do vice-presidente foi semelhante: "O que estamos fazendo é
uma mera sugestão. Quem vai conduzir o processo do início até o final é o
Congresso", disse Temer. Segundo ele, os parlamentares podem
acrescentar outros tópicos à consulta popular.
A ideia populista de armar um plebiscito foi sugerida por Dilma na semana passada como um dos pilares do seu pacto nacional
com governadores para aplacar a onda de protestos que tomou as ruas do
país - ainda que nenhum cartaz nas manifestações tenha reivindicado uma
reforma política. Na prática, trata-se de uma manobra do governo para
tirar o foco dos protestos e aprovar alterações no modelo eleitoral que
favoreçam os interesses do PT. O principal ponto é o financiamento
público de campanha, sonho antido do partido.
No Congresso, o PT já trabalha em uma proposta pela qual financiadores
de campanha - pessoas físicas ou jurídicas - poderiam fazer doações para
um fundo, sem escolher destinatários. Depois, o bolo de recursos seria
repartido segundo a votação que os partidos obtivessem na eleição
anterior. Ou seja: se valer para as eleições de 2014, por exemplo, a
medida beneficia diretamente o PT, que elegeu a maior bancada de
deputados em 2010.
Resistência - Na própria base governista, entretanto, é
quase unânime a avaliação de que o prazo é inviável. A resistência está
na Câmara, já que a maioria dos temas, como o sistema de voto em lista,
distrital ou "distritão", ou o fim das coligações proporcionais
influenciaria diretamente as eleições de deputados. "Plebiscito, nesta
Casa, tem de ter um consenso em torno de item, de subitem, da condução e
da divulgação”, afirmou o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves
(PMDB-RN). “Eu não sei se o plebiscito vai avançar", completou o
deputado, após anunciar um grupo de trabalho para analisar o assunto no
prazo de 90 dias.
No Senado, o cenário é mais favorável para o Palácio do Planalto, que
tem no presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), seu principal
aliado para levar a proposta do plebiscito adiante. “É importante
mobilizarmos todas as forças para aprovar o projeto de decreto
legislativo que cria o plebiscito. Temos de compatibilizar o calendário
para que isso fique valendo para a próxima eleição”, disse.
O presidente do Senado afirmou que mudará a tradicional agenda de
votações da Casa: as segundas e sextas-feiras, dias em que os
parlamentares não estão em Brasília, passarão a ser incorporadas na
rotina de votações. “Nos próximos quinze dias, vamos trabalhar sexta e
segunda para tentarmos resolver a nossa pauta sem que tenhamos que usar o
recesso [programado para começar no dia 17]. Mas, se não for possível,
usaremos o recesso."
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