A Engenharia do Exército está com sua capacidade de emprego no limite e a Força não tem mais condições de atender a qualquer novo pedido de ajuda do Palácio do Planalto. A "empreiteira" Exército atende preferencialmente a projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e trabalha hoje nas obras de sete aeroportos, três rodovias e na transposição do Rio São Francisco, não tendo mais como ajudar na infraestrutura dos estádios da Copa.
"Toda a nossa capacidade operativa está completamente empenhada", disse ao Estado o chefe interino do Departamento de Engenharia e Construção do Exército, general Joaquim Brandão. "Não tenho reserva", completou, sobre a falta de pessoal e equipamentos. Segundo o general, "se houver alguma emergência ou urgência", o Exército terá de "parar alguma obra para atender à necessidade premente".
Os 12 batalhões de Engenharia e Construção e os 12 batalhões de Engenharia de Combate estão envolvidos em 40 projetos, o que dá um total de 50 obras espalhadas pelo Brasil. No total, a engenharia do Exército conta 10 mil homens - 750 permanentemente envolvidos com a missão brasileira no Haiti.
Por causa das atuais limitações, o Exército não pode atender o pedido do Planalto e do governo do Espírito Santo para que a Força se envolvesse com a construção do terminal do aeroporto de Vitória. Há duas semanas, o então presidente em exercício Michel Temer - a presidente Dilma Rousseff estava na China -, chamou o general Brandão a seu gabinete para conversar com o governador capixaba, Renato Casagrande (PSB), e a bancada de parlamentares do Estado. Eles pediram que o Exército assumisse e executasse a obra.
Habituados a usar o Exército como "pau pra toda obra", o vice-presidente, o governador e a bancada do Espírito Santo ouviram o general dizer que não tinha como atendê-los. Ele lembrou que o Exército finaliza os projetos de pátio, pista e acesso do aeroporto de Vitória, mas não tem pessoal disponível, até dezembro, para trabalhos extras.
"Podemos entrar com a fiscalização, mas isso não adiantaria o processo em quatro meses, como gostariam os representantes do Espírito Santo", comentou.
Apesar da capacidade esgotada, a Força não pretende aumentar o corpo de oficiais da Arma da Engenharia - o número de militares que trabalham nessa área "está dimensionado para o que o Exército precisa", diz o general.
O Exército faz as obras, executa um trabalho de adestramento do seu pessoal para as emergências e ainda prepara jovens que estão prestando o serviço militar para trabalhar na construção civil, quando deixarem a tropa.
"Fazendo esse trabalho social, a empresa privada já recebe esse homens prontos", disse o general, acrescentando que 50% das obras que o Exército está executando são do Programa de Aceleração Econômica (PAC).
Segundo o general, entre as 50 obras em andamento, algumas são de difícil execução.
"Se recebemos uma missão, vamos executá-la. Sabemos que obras mais difíceis e mais complexas são entregues à Força. Aceitamos e não discutimos. Apenas executamos", disse, lembrando que as decisões do governo são "uma missão".
Mais barato
O general evita comparar o custo das obras feitas pela corporação com as tocadas pela iniciativa privada, mas diz que os dois grupos trabalham lado a lado no País. O governo, no entanto, sempre que enfrenta problema de superfaturamento de obras chama o Exército para baixar custos, sob a alegação de que, quando isso ocorre, os preços ficam pelo menos 30% mais baratas que o original.
O presidente do Tribunal de Contas da União, Benjamin Zymler, disse que o uso dos batalhões de engenharia do Exército não desencadeou nenhum processo no tribunal. Ele preferiu não comentar sobre a participação do Exército em obras do governo. O Palácio do Planalto não se manifestou sobre o tema.
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