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sábado, 24 de agosto de 2013

A busca pelo Lobo Solitário

Depois de dois anos de procura, submarino alemão abatido na Segunda Guerra Mundial foi localizado na costa brasileira
  Yuri Al’Hanati Há 70 anos, o U-513, também conhecido como Lobo Solitário, submarino nazista com 53 pessoas a bordo, foi abatido em águas brasileiras por um avião norte-americano. Apenas no ano passado os destroços do U-boat, como eram chamadas as embarcações alemãs, foram encontrados, a 85 quilômetros da costa de Santa Catarina, em uma profundidade de 130 metros.
Dos nove submarinos nazistas afundados na costa brasileira, ele é o mais distante da Alemanha e, até agora, o único encontrado. A busca, geralmente realizada por navios de alta tecnologia, foi feita a bordo de um veleiro com um magnômetro, aparelho que detecta propriedades de metais, similar ao que localizou a caixa-preta do voo 447 da Air France.
Como a guerra chegou à costa brasileira
A Segunda Guerra Mundial, cujo epicentro estava na Europa, com batalhas no Atlântico Norte e no Pacífico, chegou até águas brasileiras em uma impiedosa batalha naval. O professor de História da Universidade Federal do Paraná Dennison de Oliveira, organizador do Guia do Museu do Expedicionário e que atualmente prepara um projeto de pós-doutorado sobre o assunto, explica que desde 1941 os navios brasileiros já eram atacados por alemães por se encontrarem em zonas de guerra, como o Mediterrâneo e no Caribe. Também datam dessa época as negociações do governo Getúlio Vargas com os Estados Unidos.
Oliveira conta também que as bases aéreas do Amapá, Pará, Rio Grande do Norte e Pernambuco eram importantes para abastecer e enviar aeronaves para os ingleses em luta contra os alemães no norte da África, além de ajudar os próprios americanos no Pacífico. Não demorou então para acontecerem ataques de aviões partindo dessas bases contra submarinos alemães em alto-mar. “Foi aí que os alemães decidiram retaliar o apoio explícito do ‘neutro’ Brasil aos Estados Unidos, o que resultou em quase mil mortos e um total de mais de 30 navios (um quinto da nossa frota mercante) afundados”.
Estratégia
Submarino tinha tática exclusiva de ataque
O apelido Lobo Solitário, dado ao U-513, faz menção à tática de guerra utilizada pela Marinha nazista na batalha do Atlântico. A Rudeltaktik (algo como a tática de bando ou tática de matilha, em alemão) foi desenvolvida pelo comandante Karl Dönitz para acabar com comboios de navios, um problema para o Exército alemão durante a Primeira Guerra Mundial.
A tática funcionava assim: um submarino localizava um navio inimigo e passava a segui-lo enquanto transmitia informação ao comando. Seguindo-o submerso durante o dia e sobre a superfície durante à noite, a embarcação esperava até que o maior número possível de submarinos se reunisse, para então fazer um ataque massivo. “O Lobo Solitário tinha esse nome porque, diferentemente dos demais, ele atacava sozinho”, explica Vilfredo Schürmann (foto).
A expedição foi idealizada pela família Schürmann em 2002, quando pouco se sabia a respeito do submarino. “Foi numa regata na Ilha da Trindade. Um dos tripulantes me falou do submarino e me motivei a buscá-lo”, lembra Vilfredo Schürmann, o patriarca da família aventureira.
Pesquisa
Apenas em 2009, após extensa pesquisa em solo nacional e estrangeiro, as expedições em busca do Lobo Solitário tiveram início. Onze tripulantes a bordo do veleiro Anysio se comunicavam com uma equipe de 13 pessoas em terra.
No dia 14 de julho de 2011, depois de dois anos e de 18 incursões ao mar, tendo já “varrido” uma área de 40 quilômetros quadrados, o magnômetro detectou um grande objeto metálico. As imagens foram checadas no sonar e a presença do U-513 pôde ser confirmada. Um ROV, pequeno submarino controlado a distância, fez as primeiras imagens do submarino, 69 anos depois de ter sido avistado pela última vez.
A empreitada, que envolveu também professores e alunos da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), será divulgada em um documentário, previsto para o ano que vem. “Entrevistamos o operador de radar do avião que abateu o submarino. Ele faleceu em dezembro do ano passado e foi ele quem identificou o submarino no radar. Era uma missão secreta porque era sabido que havia informantes alemães na base de Florianópolis”, conta o velejador.
Dos 53 tripulantes, sete sobreviveram
Construído no estaleiro da Deutsche Werke AG, na cidade alemã de Kiel, o U-513 foi um dos 54 submarinos de longo alcance do tipo IXC comissionados pela Kriegsmarine, a marinha Nazista, durante a Segunda Guerra Mundial. Com 76,7 metros de comprimento e 760 toneladas, o Lobo Solitário tinha capacidade para 56 tripulantes, 22 torpedos e 44 minas marinhas. Tinha propulsão de 4.400 cavalos-vapor na superfície e mil quando submerso, chegando a uma velocidade de 18,3 e 7,3 nós, em superfície e submerso, respectivamente.
Com a missão de abater navios da frota inimiga no Atlântico Sul, a embarcação foi comissionada em 1942 pelo capitão de corveta Rolf Rüggeberg, que a capitaneou por 159 dias em três patrulhas. Afundou três navios. Promovido a capitão de fragata, Rüggerberg voltou à Europa e até o final da guerra comandou a 13.º flotilha de submarinos em Trondheim, na Noruega.
Seu sucessor, o capi­­tão­­-tenente Friedrich Guggenberger – filho de Hans Guggenberger, alemão radicado em Ponta Grossa cuja família reside até hoje no Brasil –, não teve a mesma sorte no comando do submarino. No dia 19 de julho de 1943, o 62.º dia de sua primeira patrulha, o Lobo Solitário foi abatido nas imediações de São Francisco do Sul, por cargas de profundidade lançadas pelo hidroavião norte-americano PBM 5 Mariner, pilotado pelo tenente-capitão Roy Seldon Whitcomb e com o radar operado por William Stotts. A aeronave havia decolado do navio de apoio U.S.S. Barnegat, que estava nas imediações da Baía Norte de Governador Celso Ramos, com a missão de localizar e destruir o submarino responsável por afundar um cargueiro ianque no dia anterior. Apenas sete dos 53 tripulantes a bordo sobreviveram – Guggenberger entre eles. O capitão-tenente e seis marinheiros passaram um dia à deriva.

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