Tarde no shopping com os pais na véspera do crime. Seis tiros
disparados, e não cinco. Planos de fugir com 350 reais. Os detalhes da
inacreditável história do adolescente que teria executado quatro
familiares e cometido suicídio em seguida
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O garoto Marcelinho, de 13 anos, tinha saúde frágil, gostava de armas e contou a dois colegas o desejo de matar a família (Foto: Reprodução )
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A fachada da residência da Zona Norte, que amanheceu pichada no último dia 9
(Foto:
Epitácio Pessoa/Estadão Conteúdo
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Horas depois, segundo os peritos e investigadores ouvidos pela reportagem de VEJA SÃO PAULO, seguiu-se um roteiro horripilante. Marcelinho se levantou, empunhou uma arma Taurus .40, foi até a sala e executou o pai com um tiro no lado esquerdo da nuca. Andréia acordou com o barulho do disparo, seguiu até a sala, ajoelhou-se diante do colchão e levou um tiro na nuca de curta distância. O menino deixou o local, atravessou a garagem e entrou em outra casa, no mesmo terreno. Ali, atirou primeiro na avó e depois na tia-avó. Como esse último corpo foi encontrado com um olho aberto (o outro tinha sido atingido pelo projétil), a polícia acredita que essa vítima tenha acordado com o barulho do primeiro disparo no quarto.
O vídeo que registra o menino nas proximidades de seu colégio: mochila com uma muda de roupa e 350 reais em dinheiro
(Foto: Reprodução)
Dirigindo o carro da mãe, Marcelinho foi até a rua de seu colégio, na Freguesia do Ó, distante 5 quilômetros de sua residência, e estacionou ali. Segundo a polícia, ele dormiu no veículo. Pela manhã, participou das atividades escolares normalmente. “Dei duas aulas de matemática para ele, depois de as mortes terem ocorrido”, diz a professora Sonia Nabeta. “Ele estava normal, não aparentava nervosismo. Foi sem o material, mas participou da aula e não me fez perguntas diferentes. Era um aluno querido por todos.”
Quando saiu da escola, o pai de um colega insistiu em lhe dar carona de volta para casa. Marcelinho resistiu, mas aceitou. No trajeto, pediu para pegar ou deixar algo no interior do Corsa. A polícia trabalha com a hipótese de ter sido um par de luvas, que está sendo periciado. Perto do meio-dia, entrou na residência e se aproximou do cadáver da mãe. Passou a mão em sua cabeça — havia fios de cabelo da mãe na sua mão — e, em pé, disparou o Taurus contra a própria cabeça. Era a mesma arma usada anteriormente. O tiro atravessou os seus ouvidos e atingiu a parede. De acordo com uma análise preliminar, num trajeto compatível com a altura do garoto, cerca de 1,60 metro. Ao contrário do que foi noticiado, o menino disparou seis vezes, e não cinco. Não se sabe ainda, entretanto, onde esse sexto tiro se encaixa na dinâmica dos fatos. Até a última quinta (15), 29 pessoas já haviam prestado depoimento à polícia.
O trabalho no Instituto de Criminalística no equipamento MEV, no qual estão sendo feitos testes residuográficos mais acurados
(Foto: Fernando Moraes)
Entre os colegas de profissão, corria o boato de que Neto tinha um relacionamento mais próximo com Andréia. “Nunca tive nada com ela”, afirma. “Isso tudo que estão falando é calúnia. Nascemos na mesma rua, crescemos grudados e trabalhamos juntos quinze anos. Só isso.” De acordo com colegas do sargento Luís Marcelo, há suspeitas também de que ele mantinha um caso com uma colega de tropa.
O personagem do Assassin’s Creed: brincar de games era um dos principais passatempos do jovem tímido e recluso
(Foto: Reprodução)
A primeira equipe de peritos do Instituto de Criminalística (IC) chegou lá às 19h30. “Não há dúvida de que o lugar estava preservado”, afirma a superintendente da Polícia Científica, Norma Sueli Bonaccorso. Pelo ineditismo do caso, foi enviada para lá uma segunda equipe. As investigações passaram a ser coordenadas pelo experiente perito Ermindo Lopes Filho, responsável por casos emblemáticos como o de Francisco de Assis Pereira, o Maníaco do Parque (1998), Suzane Von Richthofen (2002), Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá (2008) e Mércia Nakashima (2010).
Seis departamentos do IC têm a missão de desvendar essa história que mais parece ficção. O de informática, por exemplo, analisa cinco celulares, um computador e um tablet. O de física utiliza a seu favor o recém-adquirido microscópio eletrônico de varredura (MEV). Esse instrumento, capaz de fazer exames residuográficos com extrema precisão, vem sendo usado para análise das mãos de todos os mortos e de suas peças de roupa. Havia manchas de sangue nos sapatos do adolescente, que também estão em análise. A chave do Corsa da mãe, encontrada no bolso de Marcelinho, está sob perícia.
O secretário Grella: lei do silêncio a todos os envolvidos na investigação
(Foto: Mário Rodrigues)
Os cadáveres dos pais e do filho na sala e os da avó e da tia na outra casa: seis disparos feitos com uma pistola Taurus .40
(Foto: Reprodução)
Marcelinho: um menino tímido
(Foto: Reprodução)
Semanas antes da chacina, Marcelinho tinha colocado uma imagem do personagem no lugar de sua foto no Facebook. “Como ocorre com todas as pessoas que têm doença congênita, os familiares do menino o tratavam como um cristal”, afirma a especialista em fibrose cística da Santa Casa, Neiva Damaceno. Em fevereiro, conta a médica, ele foi diagnosticado com diabetes. Além das três inalações diárias, dos exercícios respiratórios e das enzimas, Marcelinho passou a tomar diariamente duas injeções de insulina. Sabe-se também que armamentos, histórias de mortes e outros assuntos macabros distantes da maioria das crianças faziam parte do universo do adolescente, que dizia aos amigos sonhar ser matador de aluguel. Mas qualquer tentativa de explicar por que o garoto tímido, educado e com cara de anjo teria sido capaz de fazer o que a polícia está convencida de que ele fez será mera especulação.