A Anac e Infraero aguardam decisão do CNJ para saber o que fazer com as aeronaves paradas em Fortaleza
Aeronaves
inoperantes e paradas no pátio do Aeroporto Pinto Martins compõem um
dos primeiros cenários observados por quem chega à Fortaleza via aérea. O
chamado cemitério de aviões já soma dez unidades. Algumas ali há mais
de 21 anos, outras são mais recentes e datam de 2008 e 2009.
Algumas aeronaves estão no chamado "cemitério" há 21 anos Fotos: Natinho Rodrigues
Segundo
a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), por
enquanto, ainda não existe definição quanto ao destino dessas aeronaves.
O Aeroporto Pinto Martins também está inserido no Programa Espaço
Livre, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), criado em 2011. O projeto
pretende retirar, até a Copa de 2014, todos os aviões que estejam
vinculados às massas falidas das empresas e os que forem apreendidos em
processos criminais.
De acordo com informações da Agência
Nacional de Aviação Civil (Anac), as aeronaves de prefixos PTWTH, PTKYW,
PTAOB e PTMTA já foram vistoriadas na segunda semana de maio deste ano.
As informações dos processos dessas aeronaves serão enviadas ao CNJ até
a próxima semana. "As demais, de prefixos PTMTB, PTMTC, PTMTF, PRLSW,
PRMTD e PRMTH, passaram por vistoria na primeira semana de julho
passado. Os processos devem ser enviados ao CNJ até 23 de agosto",
garante a empresa, via e-mail.
O certo, reafirma a Agência, é que
ainda não se tem definição sobre o cronograma e a destinação das
aeronaves no pátio do aeroporto de Fortaleza. "No último dia 2, começou o
desmonte de aviões em Recife e Salvador. Até o fim de agosto, deverá
ser definido o destino de aeronaves de Confins e Galeão. Os passos
seguintes do programa Espaço Livre serão estabelecidos posteriormente",
adianta.
Uma
das carcaças está no meio da vegetação, em local de difícil acesso. A
Infraero afirma que aguarda a decisão do CNJ para saber quais as
providências a serem tomadas para retirada desses aviões ou o que restou
deles foto: Natinho Rodrigues
Impactos
Apesar
de a Infraero garantir que eles não causam impacto na operacionalização
do aeroporto, o cemitério ocupa grande espaço; representa perigo à
saúde pública, com as carcaças servindo como foco para mosquito de
dengue, o Aedes aegypti, além de ter se transformado em um obstáculo
para a expansão dos terminais. Sem falar que, somente a estada no
aeroporto pode ter um custo médio diário de R$ 1,2 mil com a manutenção,
que é pago pela massa falida, ou seja, os credores.
Por estas
razões, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) lançou uma ofensiva para
tentar acabar com os "cemitérios" de aviões existentes em alguns dos
mais movimentados aeroportos brasileiros com o intitulado Programa
Espaço Livre.
Para agilizar as ações judiciais que emperram a
remoção das aeronaves, o CNJ articulou a criação de uma força-tarefa
composta pelo Ministério da Defesa, a Infraero, a Anac e o Conselho
Nacional do Ministério Público (CNMP). A primeira providência do grupo
foi pedir para a Anac um laudo com o objetivo de avaliar quais aeronaves
ainda estão em condições de uso. As que forem consideradas sucata
passarão por um processo de desmontagem. Essa avaliação foi realizada
com as dez unidades inoperantes no Aeroporto Pinto Martins.
Pendências
É
importante ressaltar, alerta a Anac, que o processo depende de diversos
fatores, por isso alguns deles demandam mais tempo do que outros. "Após
a vistoria das aeronaves indicadas pelo operador aeroportuário, a
Agência entra em contato com o proprietário da aeronave para informar a
situação. Após a posição do proprietário, a Agência envia os dados para o
CNJ - além de informar ao operador aeroportuário", esclarece.
O
programa, diz o juiz-auxiliar da Corregedoria Nacional de Justiça,
Marlos Melek, é um pedido de desculpas do Judiciário à população pelos
últimos apagões aéreos. "Apelidamos alguns aeroportos de cemitérios de
aviões-sucata", ironiza. No Brasil, existem exatamente 119 aviões, de
diversas empresas, nessa situação, distribuídos em 27 aeroportos
brasileiros.
O CNJ coordena os trabalhos e auxilia os juízes
vinculados às varas em que correm os processos de falência. A Infraero
atualizará o banco de dados do Conselho em relação à situação das
aeronaves. A Anac é responsável pelos laudos de avaliação sobre quais
aeronaves ainda estão em condições de uso. As que estão sucateadas serão
removidas com o auxílio de caminhões do Exército e desmontadas.
A
ideia é, explica o CNJ, se não conseguirem vender o avião inteiro,
desmontá-los e vender as peças que são baratas e mais fáceis de serem
colocadas no mercado. Dessa forma, as aeronaves ficam menores e as peças
podem ser transportadas em caminhões. A remoção será para uma área
indicada pela Infraero, para posterior leilão dos equipamentos.
Por
enquanto, a Anac não divulgou mais detalhes sobre as aeronaves paradas
no Pinto Martins, e a Infraero adianta que aguarda decisão do CNJ.
FIQUE POR DENTRO
Aeroporto remonta de 1930
O
aeroporto de Fortaleza intitula-se Pinto Martins em homenagem ao
aviador cearense que foi o primeiro piloto a voar entre Nova Iorque e
Rio de Janeiro. O voo, no qual foi utilizado um hidroavião bimotor
Curtis, de fabricação norte-americana, ocorreu entre agosto de 1922 e
fevereiro de 1923, e levou 175 dias para ser completado.
Uma
curiosidade sobre a vida do piloto: ele nasceu em Camocim, no dia 15 de
abril de 1892. Entretanto, só foi batizado três meses depois, em 28 de
julho de 1892, na Igreja Matriz de Macau, Rio Grande do Norte. O fato
ocorreu porque seu pai, Antônio Pinto Martins, natural de Mossoró,
naquele estado, foi convidado para representar a Companhia de Salinas
Mossoró Assú, em Macau. Por isso, Pinto Martins foi batizado na Matriz
de Macau e registrado no Cartório Civil daquela cidade.
Já as
origens do aeroporto remontam à pista do Alto da Balança, implantada na
década de 1930. Durante a Segunda Guerra Mundial, entre 1939 e1945, foi
instalada uma base Aérea de apoio às forças aliadas e construída a pista
com cerca de 2.100 metros de extensão e, em 1963, foi ampliada para
2.545 metros.
Em 13 de maio de 1952, a Base do Cocorote, como era
conhecida, passou à denominação de Aeroporto Pinto Martins. O primeiro
terminal de passageiros foi construído em 1966, com capacidade para
atendimento de 900 mil passageiros/ano.
A administração do
aeroporto foi transferida para a Infraero em 1974, quando deu início a
uma série de obras de revitalização e ampliação do complexo
aeroportuário. Através de uma parceria entre a Infraero, governo federal
e governo estadual, foi iniciada em 1996 a construção do novo Terminal
de Passageiros (TPS) e classificado como internacional em 1997. O
Terminal foi inaugurado em 1998 e entregue totalmente em 1999.
Agora,
14 anos após a sua inauguração, o TPS passa por uma nova obra de
ampliação. A intervenção começou em junho de 2012 e deverá ser concluída
em 2017. Já o novo Terminal de Logística de Carga entrou em operação em
2009, com um investimento de R$ 35 milhões. A obra, que consistiu em um
terminal, um pátio para aeronaves cargueiras e vias de acesso, vai
ampliar a aviação comercial a partir do Aeroporto de Fortaleza.
Ação recomeça por Recife e Salvador
O
Programa Espaço Livre recomeçou os desmontes de aviões inoperantes nos
aeroportos brasileiros. Os Boeings 727-200 e 737-200 de bandeira da
Vasp, parados no Aeroporto Internacional do Recife/Gilberto Freyre, há
quase sete anos, marcam as ações. De acordo com o Conselho Nacional de
Justiça, os dois aviões serão desmontados e as peças vão a leilão ao
preço de R$ 30 mil, nos próximos meses.
Ainda segundo o CNJ, a
decisão é da 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo
(SP). Como não cabe recurso à decisão da Justiça, o Ministério Público, a
Vasp e a massa falida, ou seja, os credores habilitados no processo de
falência, não podem mais recorrer. A sentença que definiu o futuro das
unidades também é efeito do projeto Espaço Livre, do CNJ, que já
determinou o desmanche de 12 aeronaves em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Os
aviões foram fabricados na década de 1980 e pararam de voar no início
de 2005. A Infraero, desde 2008, de acordo com o CNJ, é considerada a
"fiel depositária" de dezenas de aviões deixados nos aeroportos do País
por empresas falidas.
No Recife, os aviões estão estacionados
próximo à cabeceira 36 do aeroporto. No Boeing 737, o menor deles, há
sinais de ferrugem no trem de pouso. O conjunto de freios está avariado e
os pneus em mau estado. Já no Boeing 727, a corrosão atingiu os
ailerons das asas e há óleo derramado sobre as rodas. Juntas, as
aeronaves ocupam três mil metros quadrados.
Para CNJ, é motivo de
comemorar. Com o desmonte, os aeroporto de Salvador e o Internacional
de Recife Gilberto Freyre estarão livres dos restos de aeronaves
deixadas por empresas aéreas falidas ou em processo de recuperação
judicial.
LÊDA GONÇALVESREPÓRTER
Minha lista de blogs
PÁTRIA
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário