SELVA

SELVA

PÁTRIA

PÁTRIA

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Antes do lobby, filho de Erenice foi da Anac-Dilma

BRASÍLIA. Antes de atuar como lobista da empresa de carga aérea Master Top Airlines, Israel Guerra, filho da ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, exerceu cargo público na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Ele ocupou função comissionada como gerente técnico no órgão regulador da aviação civil, entre junho de 2006 e agosto de 2007, conforme portarias publicadas no Diário Oficial da União (DOU).
Israel Guerra ingressou na Anac 13 dias depois que seu amigo Vinícius Castro também foi nomeado para cargo de gerente na agência. Castro trabalhou lá entre maio de 2006 e novembro de 2008.
Hoje, Vinícius é assessor direto da ministra na Casa Civil, onde tem cargo de confiança DAS-4, lotado na Secretaria executiva da pasta.
Segundo reportagem da “Veja”, publicada ontem, Vinícius e Israel são os verdadeiros donos da empresa Capital Assessoria e Consultoria, que intermediou negócios da MTA no governo, que estariam em nome de laranjas.
Irmão de ministra também tinha contrato com Anac Israel Guerra e Vinícius Castro foram nomeados para cargos comissionados na Anac na gestão do então presidente do órgão Milton Zuanazzi — indicado pela Casa Civil. O filho não é o único parente da ministra com relações na Anac. Além do filho, um irmão de Erenice Guerra, o advogado Antonio Eudacy Alves Carvalho, também tinha contrato especial com a Infraero em Brasília e Salvador, entre 2003 e 2007.
Conforme reportagem da revista “Veja”, a Master Top fechou contratos de transporte com os Correios por intermédio da Capital, que, para isso, teria cobrado uma “taxa de êxito” que chegaria a R$ 5 milhões. Israel teria praticado tráfico de influência para que sua mãe viabilizasse a transação.
A ministra, ex-secretária executiva da Casa Civil e braçodireito da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, teria negociado diretamente com o empresário Fábio Baracat, ex-representante da Master Top, segundo a revista “Veja”.

Ela nega lobby em favor da empresa aérea.
Ontem, O GLOBO não conseguiu contato com Vinícius e Israel. O advogado de Baracat, Douglas da Silva, também não retornou os telefonemas do jornal.
Segundo fontes da própria Anac, Israel e Vinícius teriam atuado juntos na Superintendência de Assuntos Aéreos (SSA), que deu origem mais tarde à Superintendência de Assuntos Econômicos (SRE).
Esse departamento responde por renovação de contratos de concessão e autorizações de horários de voo, entre outras atribuições.
Em dezembro do ano passado, a Capital fez assessoria que permitiu que a MTA renovasse sua licença junto à Anac para que continuasse voando e, entre outras atividades, pudesse transportar cargas para os Correios. Essa licença chegou a ser suspensa no dia 15 de dezembro mas, no dia 18, ela foi renovada, após a MTA resolver, via assessoria da Capital, seus débitos com o governo.
Conforme fontes da Anac, Vinícius Castro tem ligações de parentesco com o ex-diretor de Operações dos Correios Marco Antonio de Oliveira, que integrava a cúpula da estatal demitida em junho pelo presidente Lula por falhas de gestão.
Em entrevista ao GLOBO anteontem, o atual diretor de Operações dos Correios, coronel Eduardo Artur Rodrigues Silva, confirmou que a empresa Capital Assessoria e Consultoria foi contratada pela Master Top para resolver uma questão fiscal na Receita Federal e, assim, renovar sua concessão da companhia com a Anac.
O empresário Fábio Baracat, entrevistado pela revista “Veja” — que relata encontros dele com a ministra da Casa Civil — , em nota anteontem, negou que tenha qualquer “relação comercial ou pessoal com a ministra Erenice Guerra”. Ele confirmou, no entanto, que “durante o período em que atuei na defesa dos interesses comerciais da MTA, conheci Israel Guerra (filho de Erenice), como profissional que atuava na organização da documentação da empresa para participar de licitações”.
Anac explica por que retomou contrato com empresa A Anac não se pronunciou sobre a atuação de Israel e Vinícius em seus quadros. Mas soltou nota informando que a diretoria colegiada do órgão suspendeu a concessão da Master Top em 15 de dezembro porque a empresa não tinha conseguido comprovar a regularidade do pagamento das contribuições previdenciárias.
Três dias depois, diz o texto, ela recebeu autorização para voltar a operar porque apresentou a documentação necessária.
Nesse período, a consultoria de Israel conseguiu reverter a situação da empresa junto à Receita e ao órgão regulador.
O coronel Artur disse que ficou sabendo dos trabalhos da Capital porque também prestava consultoria para a Master Top na época, via Martel Assessoria e Consultoria Aeronáutica.
Só na semana passada, segundo o ministro das Comunicações, José Artur Filardi, a Martel — que foi repassada à filha do coronel, Tatiana Rego e Silva, assim que ele assumiu o cargo nos Correios — deixou de representar a Master Top.

Ministro: denúncia ultrapassa os Correios
José Filardi descarta demissão de diretor de Operações do órgão
Geralda Doca

BRASÍLIA. O ministro das Comunicações, José Artur Filardi, afirmou que as denúncias sobre a existência de lobby no governo ultrapassam a competência dos Correios e da própria pasta, à qual a estatal está vinculada.
Por isso, do ponto de vista administrativo, não vê necessidade de substituir o diretor de Operações da empresa, coronel Eduardo Artur Rodrigues Silva — que confirmou a ligação de Israel Guerra com a intermediação de interesses de empresas privadas no governo: — O que está sendo levantado é outra coisa: a existência de lobby dentro do governo, de relações pessoais. Não atinge os Correios e nem o Ministério.
Ele afirmou que não procedem as denúncias de que o coronel Artur é dono da Master Top Airlines, empresa de carga aérea que tem contrato emergencial com os Correios. Mas disse que aconselhou o diretor a rescindir contrato da Martel Consultoria e Assessoria Aeronáutica — que estava recentemente sob a responsabilidade da sua filha — com a MTA. O que teria ocorrido na semana passada, segundo o ministro: — O coronel pode pedir afastamento até que se apure os fatos e depois voltar. Mas, esta será uma decisão dele.

Governo blinda Dilma; oposição vai ao MP
Planalto e PT acertam estratégia para negar irregularidade e desvincular candidata de Erenice. DEM pede investigação
Cristiane Jungblut

BRASÍLIA. A oposição decidiu acionar o Ministério Público para investigar o caso de suposto tráfico de influência envolvendo Israel Guerra, filho da ministra da Casa Civil, Erenice Guerra — braço direito da ex-ministra e candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. Já o Palácio do Planalto e o PT montaram uma “operação blindagem” em torno de Dilma, tentando separar a campanha da candidata do governo.
A estratégia é desvincular Dilma de Erenice. E tentar colar o discurso de que não houve ilícito na conduta da atual ministra da Casa Civil.
O tom foi acertado em troca de telefonemas entre a candidata, a cúpula do PT e integrantes do Planalto desde sábado. Segundo interlocutores do governo, o ministro de Comunicação de Governo, Franklin Martins, foi acionado para a elaboração da nota divulgada no sábado por Erenice, que estava em São Paulo. A ministra, segundo esses interlocutores, estava muito aborrecida com as acusações.
O presidente passou o fim de semana em Brasília, sem compromissos, mas foi informado o tempo todo. A própria Erenice apresentou explicações a colegas de governo e disse que seu sigilo e dos familiares estavam à disposição. A estratégia foi mudando de sábado para ontem: primeiro, Dilma defendeu a amiga, e, ontem, disse que o assunto é do governo.
— Uma coisa é a campanha, outra coisa é o assunto — reforçou um comandante da campanha petista.

Bornhausen pede afastamento
Mas a oposição vai insistir que há tráfico de influência envolvendo Erenice e seu filho, e até com responsabilidade de Dilma, que esteve à frente da Casa Civil quando Israel Guerra fez assessoria para empresas interessadas em contratos com o governo.
Para Paulo Bornhausen, líder do DEM, o presidente Lula está devendo explicações e deveria, pelo menos, afastar a ministra Erenice Guerra até o final das investigações.
— É a firma dentro do governo.
Não precisa dizer mais nada.
É um negócio complicado, e até agora o presidente Lula não se manifestou e, se ele não fizer isso, será sócio majoritário do problema. Vamos entrar no Ministério Público pedindo para investigar suspeitas de tráfico de influência e de corrupção dentro do Palácio do Planalto, envolvendo ministros da Casa Civil, porque Dilma Rousseff ainda era ministra — disse.
— Providências devem ser adotadas para que a investigação judiciária ocorra com celeridade.
Nosso dever é cobrar — reforçou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
No PT, o discurso acertado com o presidente do partido, José Eduardo Dutra, foi o de que Dilma não tem qualquer envolvimento no caso e que cabe ao governo se pronunciar.
Apesar de seu filho Israel atuar como lobista de uma empresa e ter como sócia a mãe de um assessor da Casa Civil, os petistas dizem que Erenice não cometeu qualquer irregularidade ética ou administrativa. Para o líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), a denúncia é vazia, com desmentidos dos envolvidos.
— A Erenice já fez a nota. E uma coisa é a empresa do filho, e ele não é funcionário do governo — disse Vaccarezza, afirmando que não há qualquer favorecimento.
— Nós do PT estamos em campanha, que cobrem (explicações) do governo — disse o secretário de Comunicação do PT, André Vargas (PR).

Nenhum comentário:

Postar um comentário