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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

"Sangria" de Dilma chega a 6 mi de votos

A candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, perdeu cerca de 6 milhões de votos nas duas últimas semanas.
Mais da metade dessa "sangria" (cerca de 3,6 milhões de votos) se concentrou exatamente na parcela da população mais beneficiada pelas políticas social e econômica do governo Lula: a chamada nova classe C.
Segundo o Centro de Políticas Sociais (CPS) da FGV-RJ, quase 30 milhões de brasileiros ascenderam à classe C a partir de 2003.
A candidata do PV à Presidência, Marina Silva, foi a maior beneficiada por essa migração de votos. Ela conquistou cerca de 4 milhões de eleitores no período. Serra ganhou cerca de 2,3 milhões.
Os números foram calculados com base em pesquisa Datafolha divulgada ontem. Nela, Dilma tem 46% das intenções de voto. Serra fica com 28%; e Marina, 14%.
A pesquisa tem margem de erro de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Isso explica diferenças nos resultados conforme os cortes feitos, por renda ou escolaridade, por exemplo.
As duas últimas semanas foram marcadas pelas denúncias de quebra de sigilos fiscais de tucanos e de seus familiares, pela queda da ex-braço direito de Dilma na Casa Civil, a ex-ministra Erenice Guerra, e por uma profusão de críticas da petista e do presidente Lula à imprensa.
A perda desses cerca de 6 milhões de eleitores (em um total de 135 milhões) não garante mais a vitória de Dilma no primeiro turno.
Esse era o cenário mais provável no início de setembro. Agora, ela tem 51% dos votos válidos de que precisa. Para não haver segundo turno, Dilma necessita ter 50% dos válidos mais um voto.
Considerando os limites da margem de erro, ela pode ter hoje 49% ou 53%.
Nas duas últimas semanas, Dilma perdeu eleitores ou oscilou para baixo em todos os estratos da população.
No geral, o maior desembarque de sua candidatura se deu entre os eleitores com renda familiar mensal entre 2 e 5 salários mínimos (R$ 1.020 e R$ 2.550). Cerca de 34% dos eleitores estão incluídos nessa faixa.
A classe de renda entre 2 e 5 salários mínimos é mais representativa no Sudeste (40%) e no Sul (37%). Ela é bem menor no Nordeste (21%) -onde Dilma ainda lidera com enorme vantagem.
Para o CPS/FGV, fazem parte da nova classe C os que têm renda familiar mensal entre R$ 1.126 e R$ 4.854.
"Os que ascendem em termos econômicos tendem a ficar mais conservadores, assim como passam a conquistar mais escolaridade", diz Marcelo Neri, coordenador do centro da FGV.
"O Brasil vem apresentando o melhor desempenho econômico em termos relativos e absolutos dos últimos tempos. O impacto sobre Dilma é algo que vem de fora do bolso", afirma Neri, em referência às denúncias e casos de corrupção no governo.
Para Alessandro Janoni, diretor de pesquisas do Datafolha, é nessa "classe emergente" que Dilma perde mais em números absolutos.
"Pois ela é bem maior do que a classe média tradicional, com alta renda e escolaridade, mas de tamanho bastante limitado no Brasil."
Em termos de escolaridade, a maior perda para Dilma se deu entre eleitores que têm ensino médio (38% do total). Dilma perdeu cerca de 2,5 milhões de votos aí.
Desse total, cerca de 2 milhões de eleitores migraram em proporções iguais para as candidaturas Serra e Marina. Os demais engordaram o bloco dos indecisos.

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