Os operadores da campanha petista enxergam no caso que envolve Erenice Guerra um grau de combustão que não viam no episódio das violações da Receita.
Por quê? Erenice integrara a assessoria de Dilma no Ministério de Minas e Energia. Chegara à Casa Civil levada pelas mãos de Dilma. Ali, tornara-se braço direito de Dilma. Virara ministra

Ou seja: Erenice, 51 anos, filiada ao PT desde 1981, deve sua existência na burocracia da gestão Lula a Dilma Roussef. Daí o receio.
O elo entre a suspeita de malfeito e a candidata, frágil no caso da violação do sigilo de tucanos, materializou-se na encrenca da Casa Civil.
Até o início da semana, o alto comando da campanha avaliava que a manutenção de Erenice no cargo seria “menos pior” do que sua demissão. Em declarações calculadas, Dilma tomara distância da encrenca.
Dissera que não admitia ser julgada por acusações feitas contra o filho de uma ex-assessora. Passara a esgrimir a tese segundo a qual o “Erenicegate” era assunto do governo, não dela.
No mais tachara de "factóide" as novas estocadas do rival José Serra. Nos subterrâneos, Erenice foi aconselhada a se dissociar do filho Israel Guerra, acusado de empinar negócios privados no governo. Porém...
Porém, numa fase em que a cabeça ainda se equilibrava sobre o pescoço, a ministra não demonstrou disposição de abandonar o rebento no oceano de suspeições. Pior: numa conversa telefônica da noite de domingo (12), Erenice admitira ter recebido em casa o empresário Fábio Baracat, com quem Israel transacionava.
Para complicar, Erenice passou a operar na contramão do comitê. Pôs-se a emitir notas oficiais nas quais vinculava as denúncias à cena eleitoral. Em sua última nota, trazida à luz na quarta (15), Erenice investira contra Serra. Chamara-o de “aético”. Pespara nele a pecha de “derrotado”.
Lula fez saber à ministra que não gostara do timbre do texto. Foi o primeiro sinal de que a cabeça de Erenice balançava.
A manchete da Folha de quinta (16) fez amadurecer o escalpo. Nova denúncia. De novo tráfico de influência. Novamente Israel Guerra. Um detalhe foi considerado especialmente incômodo.
Uma trinca de representantes da empresa EDRB, a nova cliente de Israel, fora recepcionada na Casa Civil. A audiência ocorrera em 10 de novembro de 2009. Dilma ainda era ministra. O negócio não se efetivou. Mas a oposição ganhou munição fresca.
De resto, uma coincidência de datas fez piscar a luz amarela no painel de controle do QG de Dilma. Veio à memória o escândalo dos “aloprados” de 2006. Um caso que explodira em 15 de setembro.
Lula, então candidato à reeleição, ostentava no Datafolha favoritismo semelhante ao de Dilma. Uma semana depois da chegada das manchetes aziagas, prevalecia sobre Geraldo Alckmin, o presidenciável tucano de então, por 50% a 29%. No último Datafolha, Dilma cravou 51%, contra 27% de Serra.
A imagem das notas usadas na tentativa de compra de um dossiê (R$ 1,7 milhão) ajudara a compor o quadro que levara Alckmin a um segundo turno que parecia improvável.
A analogia como que tonificou os receios que levam o petismo a observar com lupa os efeitos do alarido da Casa Civil sobre a campanha de Dilma. Um dos coordenadores do comitê disse ao repórter, na noite passada, que as pesquisas internas são indicam, por ora, a perspectiva de erosão de votos.
Ao contrário. O favoritismo de Dilma mantém-se intacto. O PT espera para os próximos dias uma ofensiva de Serra. Mas estima que, a 17 dias da eleição, não haveria tempo hábil para reviravoltas.
Ainda que uma certa insatisfação da classe média irradiasse para outros nichos do eleitorado, Dilma, 24 pontos à frente de Serra, disporia de “gordura” para queimar.
É em meio a esse cenário de apreensão que se produziu a decisão de levar Erenice ao microondas. Acredita-se que, bem tostada, a imagem da ex-ministra vai produzir a impressão de que o governo não transige com a suspeição. Uma novidade em relação à administração de escândalos pretéritos.
No mais, a despeito das similitudes que aproximam 2010 de 2006, os operadores da campanha de Dilma acham que falta ao ‘Erenenicegate’ a plasticidade do monturo de cédulas do escândalo dos “aloprados”. E, numa tentativa de estreitar a margem de manobra do inimigo, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, anunciou a decisão de processar Rubnei Quícoli, o autor da denúncia que carbonizou Erenice .Blog Josias de Souza
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