Texto que prevê ação limitada em resposta a ataque químico ainda será analisado pelo plenário
O secretário de Estado americano John Kerry participa de audiência no Congresso sobre intervenção na Síria. Ao fundo, manifestantes contrários a ação militar (Jason Reed/Reuters)
A Comissão de Relações Exteriores do Senado americano aprovou nesta quarta-feira uma resolução autorizando o uso da força militar na Síria. A ação é uma resposta ao ataque químico do governo sírio que deixou mais de 1 400 mortos há duas semanas, segundo a Casa Branca. O texto deverá ser analisado na próxima semana pelo plenário do Senado - e também precisará ser aprovado pela Câmara dos Deputados. A aprovação mostrou que os parlamentares estão divididos: foram 10 votos a favor e 7 contra.
Refugiados sírios caminham perto da fronteira com a Turquia para tentar deixar o país. A ONU divulgou na terça-feira (3) que o número de refugiados sírios chegou a 2 milhões - Gregorio Borgia/AP
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Os termos da resolução foram divulgados na noite de terça. A aprovação, nesta quarta, veio depois de ter sido acrescentado um trecho indicando que a meta dos EUA é “alterar a dinâmica no campo de batalha” da guerra civil, no sentido de forçar Bashar Assad a concordar em negociar uma solução para o fim do conflito e uma transição para a democracia. A emenda foi promovida pelo republicano John McCain e pelo democrata Chris Coons, que também defenderam que o governo amplie seus esforços para fornecer apoio letal e não letal aos rebeldes, informou o Wall Street Journal.
Com maioria democrata, o Senado deverá passar a resolução na próxima semana. No entanto, o debate sobre a crise na Síria tem se mostrado uma questão bipartidária no Congresso americano. Na comissão, a maioria dos que votaram a favor foi democrata, mas também houve votos de republicanos. O grupo dos contrários à resolução também reuniu congressistas dos dois partidos.
Os líderes da comissão, o democrata Robert Menendez, presidente do colegiado, e o republicano Bob Corker, pressionaram por um texto limitando a duração e a natureza dos ataques. Enquanto nomes como McCain defendiam que o escopo da ação fosse mais amplo, para atingir o regime.
Uma alteração proposta pelo republicano Rand Paul, que liderava a oposição aos ataques, não avançou. Ela declarava que a autoridade do presidente para agir unilateralmente teria efeito apenas quando a nação fosse atacada, informou o jornal The New York Times.
A aprovação ocorreu horas depois de o presidente Barack Obama afirmar que o mundo “não pode se calar diante da barbárie na Síria” e ressaltar que a ‘linha vermelha’ para o conflito não foi traçada por ele, mas pela comunidade internacional. “O mundo estabeleceu a linha vermelha quando os governos que representam 98% da população mundial assinaram um tratado proibindo o uso de armas químicas em guerras”.
Rebeldes – O secretário de Estado John Kerry esteve na Câmara dos Deputados nesta quarta para defender a intervenção. Ele afirmou que os extremistas correspondem a aproximadamente 15% a 25% dos cerca de 100 000 opositores ao regime. Apesar da imprecisão, a estimativa parece apontar para um cenário mais preocupante do que o demonstrado pelo secretário na terça, quando falou com senadores e afirmou que a oposição a Assad estava se tornando mais moderada.
Kerry disse ainda que a chance de o ditador sírio usar armas químicas de forma rotineira é de “100%”, a menos que o Congresso endosse a ação militar americana. Obama reafirmou mais cedo que ele pode ordenar um ataque contra a Síria mesmo sem a autorização do Congresso, mas ponderou que o apoio dos congressistas vai tornar a resposta americana mais forte.
O chefe do Pentágono, Chuck Hagel, também conversou com os deputados e defendeu que um ataque reduziria a capacidade militar da Síria. Disse ainda que os custos da operação seria de “dezenas de milhares” de dólares.
Os principais grupos de oposição na Síria
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Conselho Nacional Sírio (CNS)
Burhan Ghalioun, primeiro presidente do Conselho Nacional Sírio, discursa em Viena, na Áustria, em dezembro de 2011
Criação: Outubro de 2011
Chefe: George Sabra
Princípios: lutar contra o regime usando meio legais; rejeitar divisões étnicas; proteger a independência e a soberania nacional, opondo-se à intervenção militar estrangeira.
Fundado na Turquia por exilados políticos, o conselho é dominado por muçulmanos sunitas que lutam contra cristãos e alauítas leais ao regime de Bashar Assad. O grupo é composto por 17 organizações menores e indivíduos que propõem uma administração interina para o período pós-Assad e um projeto de reconciliação nacional, além da criação de uma comissão judicial para investigar crimes contra a humanidade e eleições para formar uma assembleia constituinte.
A Irmandade Muçulmana exerce influência no CNS e o atual presidente, um cristão ortodoxo, representa a maioria de integrantes originários do grupo fundamentalista. Sabra substitui Abdel Baset Sayda, curdo que deixou o cargo em novembro de 2012, logo após a criação da Coalizão Nacional Síria das Forças de Oposição e da Revolução (CNFROS).
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