Preços sobem toda a semana e são apenas uma parte da
política econômica pouco transparente que o país vem adotando nos
últimos tempos
Cristina Rios
Tomar
um café expresso em Buenos Aires pode significar ter de desembolsar 22
pesos, o que equivale a R$ 8, mais que o dobro do que se paga em uma
cidade como Curitiba. A diferença mostra como a inflação argentina vem
causando estragos e engolindo a vantagem cambial entre o real e o peso,
que costumava fazer a farra das compras dos brasileiros há alguns anos.
“Os preços sobem toda a semana. As pessoas estão mais pobres”, diz o
taxista que faz o percurso entre o aeroporto de Ezeiza e o centro da
capital, uma distância de 30 quilômetros, que não sai por menos de 240
pesos.
Segundo dados oficiais, a inflação da Argentina em 2013 será de cerca de 10%, apesar de as estimativas de consultoras privadas apontarem para 25%. A inflação é apenas um dos problemas econômicos da Argentina, envolvida ainda em um processo de reestatização de concessões, aumento de medidas protecionistas, congelamento de preços nos supermercados, controle de dólares e rebaixamento pelas agências de classificação de risco. O país também tenta, pela terceira vez, renegociar sua dívida, de mais de US$ 100 bilhões, fruto da moratória decretada em 2001.
Para Roberto Zürcher, analista do departamento econômico da Fiep, o país precisa ficar atento. “Quem gasta mais do que tem um dia vai pagar a conta”, afirma. Ainda assim, a economia brasileira avançou muito desde 2001, quando os efeitos da moratória argentina chegaram a respingar no Brasil, com uma maior desconfiança dos investidores com o país. “Beneficiada pelo dólar favorável às importações, a indústria nacional investiu na compra de maquinário e se modernizou entre 2009 e 2010, o que não ocorreu com a indústria argentina, que permaneceu com um parque mais antigo”, diz.
Para o argentino e professor do departamento de Economia da UFPR, Demian Castro, a Argentina vem de um longo período de dificuldades econômicas e políticas, que produziu um legado, com enfraquecimento da moeda nacional, um questionável processo de privatização e uma inflação alta.
“A Argentina tem problemas estruturais, provocados pela
insegurança fiscal, dificuldades para financiar sua dívida, déficit na
balança de pagamentos e um câmbio paralelo que ajuda a impulsionar a
inflação. Hoje fazer uma compra no supermercado, que em Curitiba
custaria R$ 30, em Buenos Aires sai por R$ 50”, diz Masimo Della
Justina, professor de economia da PUCPR.
A complicada situação do vizinho do Sul vem afetando não apenas a vida dos turistas brasileiros na capital portenha. Terceiro destino das exportações brasileiras, a Argentina reduziu em 20,75% as compras de produtos do Brasil em 2012, para US$ 17,99 bilhões. Em 2013, as exportações vem se recuperando, com crescimento de 8,39% de janeiro a agosto, para US$ 13 bilhões. Além de parceiro no comércio exterior, o país concentra duas centenas de filiais de empresas com matriz no Brasil. Parte delas teve os investimentos frustrados no país vizinho. Em junho, a América Latina Logística (ALL) teve de devolver a concessão da sua malha ferroviária de 8 mil quilômetros por conta da reestatização promovida pelo governo de Cristina Kirchner.
A Vale suspendeu, em março, um projeto de extração de potássio em Mendoza, depois de ver seus custos aumentarem agressivamente de US$ 6 bilhões para US$ 11 bilhões. A Deca, do grupo Duratex, fechou as portas da subsidiária que mantinha em Buenos Aires.
Segundo Roberto Zurcher, economista da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), mesmo as empresas argentinas vêm pensando em abandonar o barco no país e transferir operações para o Brasil. “Entre o fim de 2011 e o início de 2012 recebemos vários empresários argentinos interessados em mudar para o Sul do país. E a situação, na época, nem estava tão ruim como agora”, diz.
Risco faz Standard & Poor’s rebaixar nota do país
Um sinal de piora das condições da Argentina veio com a decisão recente da Standard & Poor’s (S&P) de rebaixar os ratings de longo prazo em moeda local e estrangeira da Argentina de B- para CCC+, com perspectiva negativa.
Segundo a agência, a nota foi rebaixada por conta do risco do serviço da dívida, em função da disputa na Justiça dos EUA sobre os bônus que o país não pagou após o calote de 2001.
Os ratings de curto prazo foram rebaixados de B para C, e o de transferência e conversibilidade foi cortado de B- para CCC+. Censura do FMI
Acusado de manipular os dados de inflação, o governo argentino tem até o fim deste mês para elaborar um novo índice para medir o reajuste de preços. Por causa das críticas a esses dados oficiais, o Fundo Monetário Internacional (FMI) impôs em fevereiro uma censura ao país, em um fato inédito na história do organismo.
A entidade multilateral ameaçou o governo de Cristina Kirchner de sancionar o país com a perda do acesso a créditos ou do direito a voto (a Argentina não tem créditos atualmente com o organismo) se não reformasse as estatísticas de inflação antes do final de setembro.
A medida levou o ministro argentino da Economia, Hernán Lorenzino, a se reunir com técnicos do FMI para elaborar um novo índice de preços ao consumidor nacional e urbano (IPC), que deve ser apresentado pelo governo no último trimestre do ano.
Segundo dados oficiais, a inflação da Argentina em 2013 será de cerca de 10%, apesar de as estimativas de consultoras privadas apontarem para 25%. A inflação é apenas um dos problemas econômicos da Argentina, envolvida ainda em um processo de reestatização de concessões, aumento de medidas protecionistas, congelamento de preços nos supermercados, controle de dólares e rebaixamento pelas agências de classificação de risco. O país também tenta, pela terceira vez, renegociar sua dívida, de mais de US$ 100 bilhões, fruto da moratória decretada em 2001.
Situação é alerta para o Brasil
Argentina e Brasil guardam algumas semelhanças que preocupam os economistas. Assim como o seu vizinho, o Brasil assiste a uma precarização das suas condições econômicas, com aumento da dívida pública, piora no balanço de pagamentos e inflação mais alta – acima do centro da meta, de 4,5% - além de uma política de maior intervenção do estado na economia. “Mais dos que para os efeitos da relação com a Argentina, o Brasil precisa evitar repetir o caminho do país vizinho. Uma coisa é um gato cair do quinto andar. Outra é um elefante fazer o mesmo”, compara o economista Masimo Della Justina, professor da PUCPR.Para Roberto Zürcher, analista do departamento econômico da Fiep, o país precisa ficar atento. “Quem gasta mais do que tem um dia vai pagar a conta”, afirma. Ainda assim, a economia brasileira avançou muito desde 2001, quando os efeitos da moratória argentina chegaram a respingar no Brasil, com uma maior desconfiança dos investidores com o país. “Beneficiada pelo dólar favorável às importações, a indústria nacional investiu na compra de maquinário e se modernizou entre 2009 e 2010, o que não ocorreu com a indústria argentina, que permaneceu com um parque mais antigo”, diz.
Para o argentino e professor do departamento de Economia da UFPR, Demian Castro, a Argentina vem de um longo período de dificuldades econômicas e políticas, que produziu um legado, com enfraquecimento da moeda nacional, um questionável processo de privatização e uma inflação alta.
Moratória
Em um processo de reestatização de concessões, aumento de medidas protecionistas, controle de dólares e rebaixamento pelas agências de classificação de risco, a Argentina também tenta, pela terceira vez, renegociar sua dívida, de mais de US$ 100 bilhões, fruto da moratória decretada em 2001.A complicada situação do vizinho do Sul vem afetando não apenas a vida dos turistas brasileiros na capital portenha. Terceiro destino das exportações brasileiras, a Argentina reduziu em 20,75% as compras de produtos do Brasil em 2012, para US$ 17,99 bilhões. Em 2013, as exportações vem se recuperando, com crescimento de 8,39% de janeiro a agosto, para US$ 13 bilhões. Além de parceiro no comércio exterior, o país concentra duas centenas de filiais de empresas com matriz no Brasil. Parte delas teve os investimentos frustrados no país vizinho. Em junho, a América Latina Logística (ALL) teve de devolver a concessão da sua malha ferroviária de 8 mil quilômetros por conta da reestatização promovida pelo governo de Cristina Kirchner.
A Vale suspendeu, em março, um projeto de extração de potássio em Mendoza, depois de ver seus custos aumentarem agressivamente de US$ 6 bilhões para US$ 11 bilhões. A Deca, do grupo Duratex, fechou as portas da subsidiária que mantinha em Buenos Aires.
Segundo Roberto Zurcher, economista da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), mesmo as empresas argentinas vêm pensando em abandonar o barco no país e transferir operações para o Brasil. “Entre o fim de 2011 e o início de 2012 recebemos vários empresários argentinos interessados em mudar para o Sul do país. E a situação, na época, nem estava tão ruim como agora”, diz.
Risco faz Standard & Poor’s rebaixar nota do país
Um sinal de piora das condições da Argentina veio com a decisão recente da Standard & Poor’s (S&P) de rebaixar os ratings de longo prazo em moeda local e estrangeira da Argentina de B- para CCC+, com perspectiva negativa.
Segundo a agência, a nota foi rebaixada por conta do risco do serviço da dívida, em função da disputa na Justiça dos EUA sobre os bônus que o país não pagou após o calote de 2001.
Os ratings de curto prazo foram rebaixados de B para C, e o de transferência e conversibilidade foi cortado de B- para CCC+. Censura do FMI
Acusado de manipular os dados de inflação, o governo argentino tem até o fim deste mês para elaborar um novo índice para medir o reajuste de preços. Por causa das críticas a esses dados oficiais, o Fundo Monetário Internacional (FMI) impôs em fevereiro uma censura ao país, em um fato inédito na história do organismo.
A entidade multilateral ameaçou o governo de Cristina Kirchner de sancionar o país com a perda do acesso a créditos ou do direito a voto (a Argentina não tem créditos atualmente com o organismo) se não reformasse as estatísticas de inflação antes do final de setembro.
A medida levou o ministro argentino da Economia, Hernán Lorenzino, a se reunir com técnicos do FMI para elaborar um novo índice de preços ao consumidor nacional e urbano (IPC), que deve ser apresentado pelo governo no último trimestre do ano.
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