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quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Presidente do Irã diz que Holocausto foi 'crime repreensível'

Hassan Rohani muda tom oficial sobre massacre de judeus após dizer, em seu primeiro discurso na Assembleia Geral da ONU, que acredita em uma saída diplomática para as diferenças com Washington. Para Israel, é só retórica

O presidente iraniano, Hassan Rohani, na tribuna da ONU nesta terça-feira, 24 de setembro de 2013
O presidente iraniano, Hassan Rohani (Brendan Mcdermid/AFP)
Ao contrário do desmiolado antecessor Mahmoud Ahmadinejad, que abertamente negou o Holocausto, o novo presidente iraniano Hassan Rohani classificou o massacre de judeus pelos nazistas de "crime repreensível" em entrevista exibida na noite desta terça-feira pela rede americana CNN. Ele não chegou a reconhecer o Holocausto como genocídio, deixando "aos historiadores refeltir" sobre as dimensões do assassinato em massa na II Guerra Mundial, mas adotou uma linha dramaticamente mais realista do que Ahmadinejad, assumindo os crimes dos nazistas contra os judeus como crimes contra a humanidade.
"Eu não sou historiador e quando se trata de falar sobre as dimensões do Holocausto cabe aos historiadores refletir. Mas, em geral, eu posso dizer que qualquer crime que acontece na história contra a humanidade, incluindo o crime dos nazistas contra os judeus – bem como contra o povo não judeu –, é repreensível e condenável", declarou Rohani.
"Tirar uma vida humana é algo desprezível, não importa se a vida é de um judeu, cristão ou muçulmano", acrescentou, para em seguida condenar o estado judeu – ponto em que manteve-se alinhado ao antecessor. "Isso não significa, por outro lado, que você pode dizer 'os nazistas cometeram crimes contra um grupo, então eles devem usurpar a terra de outro grupo e ocupá-la'. Isso também é um ato que deve ser condenado. Deve haver uma discussão imparcial sobre isso".
O novo posicionamento do Irã sobre o Holocausto representa mais uma aparente mudança – porém sem garantia alguma de resultados concretos – no tom das relações do país com o Ocidente, como ficou claro no primeiro discurso de Rohani na Assembleia Geral da ONU. Sua fala foi uma resposta à de Barack Obama, que teve o programa nuclear do Irã como um dos pontos principais. Depois de o presidente americano ter defendido a diplomacia para tratar da questão, Rohani seguiu a mesma linha, também dizendo que acredita em uma saída diplomática para para os conflitos espalhados pelo mundo e, principalmente, para as históricas diferenças entre Washington e Teerã. “O Irã não apresenta absolutamente nenhuma ameaça para o mundo ou para a região. Na verdade, em ideais e também na prática, meu país tem sido um precursor de paz justa e segurança abrangente”, afirmou.
Rohani argumentou que os iranianos, nas eleições presidenciais de junho, “votaram pelo discurso da esperança e da moderação prudente”, tanto no plano doméstico como internacional. “O Irã, como uma força regional, vai agir de forma responsável em relação à segurança regional e internacional”, disse.
No entanto, ao falar especificamente sobre o programa nuclear iraniano, fonte de preocupação para a comunidade internacional, o presidente deixou claro que o país não tem pretensões de abandonar o processo – que, contra todas as evidências, o Irã afirma ter objetivos pacíficos. Rohani destacou que a aceitação “do direito inalienável do Irã” em enriquecer urânio é “o melhor e mais fácil” caminho para resolver a questão.
“Armas nucleares e outras armas de destruição em massa não têm lugar na doutrina de segurança e defesa do Irã”, assegurou, para em seguida defender o direito de manter o enriquecimento nuclear no país e “outros direitos nucleares”. O iraniano alegou que a tecnologia nuclear do país está muito avançada. “O conhecimento nuclear no Irã já foi domesticado e a tecnologia nuclear, incluindo o enriquecimento, já atingiu escala industrial”, disse. “É uma ilusão, portanto, presumir que a natureza pacífica do programa nuclear do Irã pode ser garantida através do impedimento por meio de pressões ilegítimas”.
Em resumo, apesar do tom moderado do discurso do novo presidente iraniano, a fala não sugere que o país vá ceder nas negociações com a comunidade internacional. Rohani afirmou que o Irã está preparado para retomar as negociações “para construir uma confiança mútua e remover as incertezas mútuas com total transparência”. Desde que haja “respeito” aos direitos do Irã.
O presidente iraniano disse ter ouvido “atentamente” ao discurso de Obama e disse que Washington e Teerã podem encontrar um caminho para lidar com suas diferenças, desde que os EUA deixem de se submeter à pressão de grupos belicistas. “É claro que esperamos ouvir uma voz consistente de Washington”.
Síria e Israel – Rohani também falou sobre o conflito na aliada Síria, dizendo que o maior perigo para a região é o “acesso de grupos terroristas” a armas químicas. O regime de Bashar Assad culpa terroristas pelo ataque químico do dia 21 de agosto, que deixou mais de 1 400 mortos, segundo a Casa Branca. O ataque levou os EUA a ameaçarem a Síria com uma ofensiva militar, que não se concretizou, dando lugar à negociação de um acordo para que o regime entregue seu arsenal à comunidade internacional. Rohani defendeu o aliado, dizendo que o uso da força contra a Síria “só vai exacerbar a violência e a crise na região”.
Sem defender a destruição do estado judeu, linha de Ahmadinejad, o novo presidente fez uma crítica ao tratamento dado aos palestinos, sem mencionar diretamente Israel. “A Palestina está sob ocupação. Os direitos básicos dos palestinos são tragicamente violados e eles são privados do direito de retornar e ter acesso às suas residências e terra natal”.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reagiu, classificando o discurso de “cínico e cheio de hipocrisia”. “O Irã acha que palavras suaves e ações simbólicas vai permitir ao país continuar no caminho para a bomba”, disse Netanyahu, em comunicado.
(Com agência Reuters)

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