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domingo, 29 de setembro de 2013

Luta pela água será maior a cada dia, alertam especialistas

Luta contra o desperdício deve estar no topo das prioridades

AFP
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A disputa por água será cada vez maior no mundo, se não forem aplicadas medidas para usar este recurso natural de forma eficiente, alertaram nesta quarta-feira especialistas durante um fórum continental realizado em Campana, 62 km ao norte de Buenos Aires.

"Em diferentes fóruns é analisada como possibilidade que, se houver uma terceira guerra mundial, esta será pela água", declarou à AFP o espanhol Joan Girona, engenheiro agrícola e professor da Universidade de Lleida.

"Enfrentamos o desafio de produzir mais alimentos para mais população, mas com menos água", advertiu Girona.

Se a população mundial crescer até 9 bilhões de pessoas em 2050, como se estima, "será preciso usar mais água, entre 56% e 128% (a mais) da que dispomos agora", disse, no âmbito do fórum do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) na cidade de Campana.

"Se formos capazes de tornar mais eficiente o uso da água, a crise não ocorrerá. Se continuarmos na direção atual, a luta será maior dia a dia", acrescentou.

Acontece que para a elaboração é indispensável o uso de água e em uma medida que surpreende, explicou este especialista.

Para cultivar uma maçã, por exemplo, são necessários 70 litros d'água, que incluem a irrigação.

Para fazer uma xícara de chá, são necessários 140 litros, entre água para cultivo, colheita, transporte e preparo, até a que se usa na fabricação da xícara na qual se bebe.

Se o desperdício for evitado e forem aplicadas tecnologias de irrigação, só no caso da maçã, "o uso de água diminuiria 17 litros", disse Girona.

"Se estamos exportando alimentos, dentro deles há água. Produzir uma tonelada de cereais consome 1.500 metros cúbicos de água", disse à AFP Gertjan Beekman, um engenheiro civil nascido na Holanda, mas que mora no Brasil desde criança.

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), presente no fórum como delegado, uma pessoa consome de 2 a 4 litros d'água por dia, mas são necessários entre 2.000 e 5.000 litros para produzir seus alimentos diários.

Beekman lembra que grande parte do território brasileiro, mas também parte de Paraguai, Uruguai e Argentina abrigam o aquífero guarani, uma das maiores reservas de água doce do mundo.

"Não virão aqui (de outras latitudes) por nossa água, mas pelo alimento que a água contém", responde Beekman.

Desperdício de água e de alimentos

Os desafios que Girona e Beekman revelam são analisados por especialistas e ministros da Agricultura de 34 países da América em um luxuoso hotel de campo, em um local simbólico porque se situa na fronteira agrícola, onde está para começar a colheita de soja, que representa 25% das exportações argentinas.

"Desejamos que esta luta pela água seja civilizada, com debates e fóruns. Mas se não se avança na gestão eficiente, haverá muitíssimas mais tensões. E quando começam as tensões, nunca se sabe aonde podem parar", disse Girona.

A encruzilhada é que "não há suficiente água para produzir os alimentos para satisfazer a demanda", disse o especialista espanhol.

Além disso, as mudanças climáticas, devido às emissões de gases de efeito estufa, provoca secas e inundações.

"Acabamos de vê-lo com os desastres meteorológicos no México", comentou Beekman sobre as incomuns tempestades que deixaram 130 mortos na semana passada naquele país.

Claudia Ringler, diretora do Instituto Internacional de Pesquisas sobre Políticas Alimentares, disse no fórum que "há uma contração da região agrícola na América Latina que sofre desmatamento".

Ásia, Oceania e África também estão sob estas ameaças e cerca de 1,6 bilhão de pessoas vivem em regiões com escassez de água, segundo a FAO.

A cada ano são desperdiçadas cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos, de acordo com estatísticas do organismo internacional.

O mexicano Víctor Villalobos, reeleito durante a conferência como diretor do IICA por mais quatro anos, também lançou o alerta, ao afirmar que "não será possível assegurar a disponibilidade de alimentos se os sistemas produtivos continuarem atuando como até agora".

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