POR Dinheiro Público & Cia
Para descobrir quais são as reais prioridades dos governos, é
mais instrutivo prestar atenção no destino dos gastos do que nas
palavras dos políticos. Em dez anos completados hoje do programa Bolsa
Família, a maior transformação no Orçamento da União se deu na
assistência social.
De área tida como secundária, até mal vista por setores à esquerda
e à direita, a assistência se tornou a quarta maior modalidade de
despesa federal, atrás apenas da imbatível previdência, da educação e da
saúde (que ficou estagnada no período).
Como proporção das receitas do governo, a assistência _que compreende
benefícios destinados à população de baixa renda sem a contrapartida de
contribuições sociais_ deixou para trás, na última década, setores
tradicionais como a Defesa, o amparo ao trabalhador e todo o Poder
Judiciário.
Ao longo da administração petista, os gastos assistenciais, compostos
pelo Bolsa Família e pelos benefícios destinados a idosos e
deficientes, saltaram do equivalente a 3,2% para 9,2% da receita
corrente líquida do governo (a receita permanente, descontados os
repasses para Estados e municípios e outras fontes de recursos).
Em valores, é melhor comparar os R$ 13,9 bilhões de 2004 (R$ 21,6
bilhões em valores atuais), quando todas as despesas do programa
passaram a ser classificadas como assistenciais, com os R$ 68,1 bilhões
programados para 2014.
O montante triplicou não apenas por causa do Bolsa Família, que, no
período, saltou de R$ 7,5 bilhões para 24,7 bilhões. Mas foi o programa
que elevou essa modalidade de despesa ao patamar de prioridade federal.
De lá para cá, a assistência deixou de ser encarada como mera dádiva
temporária a famílias carentes. Ganhou um ministério, formuladores,
estatísticas (um tanto contaminadas pela leitura eleitoral) e
protagonismo no debate político.
Permanecem acusações de paternalismo ou de abandono das pretensões de
transformação social, mas nenhuma força política relevante no país se
anima a propor o desmonte do atual aparato assistencialista. Mesmo
antigos pleitos por uma “porta de saída” do Bolsa Família parecem
esquecidos.
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