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domingo, 6 de outubro de 2013

Viajar de graça ficou mais difícil

Em crise e mais interessadas nos viajantes frequentes, companhias aéreas apertam regras dos programas de milhagem

  Anna Paula Franco, com Agência Estado Pechincheiros estão fora do alvo dos programas de fidelização, principalmente o Smiles e o Multiplus, ligados às duas companhias aéreas que dominam o mercado brasileiro, a Gol e a TAM. As novas regras para acúmulo de pontos e milhas nos programas dão um recado claro ao consumidor: os benefícios serão dados aos clientes fiéis, ou seja, os que optam com mais frequência pelas respectivas companhias, independentemente do valor de tarifas.
Alta do dólar piorou situação das empresas
A situação das aéreas se agravou neste ano com a alta do dólar. Cerca de 60% do custo das companhias é atrelado à moeda americana, como combustível e leasing de aeronaves.
“A tendência é de alta no preço das passagens. A empresa reduz a concessão de milhas para cortar custos, mas tende a manter ou aumentar o preço [do bilhete]”, diz o professor de transporte aéreo Jorge Leal, da Universidade de São Paulo.
Smiles perde
As novas regras significam um corte de custos para a Gol, que registrou prejuízo de R$ 1,26 bilhão nos 12 meses encerrados em junho. A medida, no entanto, reduz a receita do programa de fidelidade Smiles, que abriu o capital em abril e se tornou uma empresa independente da Gol.
A partir de outubro, a Gol reduzirá entre 35% e 40% o volume de milhas distribuídos aos passageiros, de acordo com relatório do banco JP Morgan, assinado pelos analistas Fernando Abdalla e Carlos Louro.
Para o banco, a mudança não beneficia o programa de fidelidade. “Haverá um impacto negativo nas receitas [do Smiles]”, dizem os analistas. “Nós acreditamos que essa mudança faça mais sentido para a Gol do que para o Smiles.”
Alternativas
Smiles cria “consórcio de milhas” para tentar manter clientes
Na tentativa de driblar a redução da redução de milhagem imposta pela Gol e por bancos parceiros por meio dos cartões de crédito, o Smiles criou uma espécie consórcio de milhas. No Clube Smiles, o cliente paga R$ 30 por mês para comprar mil milhas e ter acesso antecipado às promoções da companhia aérea.
Para o presidente da companhia, Leonel Andrade, o consórcio é uma forma de garantir a compra sistemática do produto vendido pelo Smiles. “O modelo é pioneiro no Brasil e dá condições de o cliente se programar para utilizar as milhas”, diz. Andrade cita outros produtos do Smiles – reativação de milhas vencidas, compra de bilhetes com milhas e dinheiro – como ação estratégica da companhia para manter a clientela.
Mas a assinatura nem sempre será tão vantajosa. Em dez meses, com 10 mil milhas de saldo, o mínimo para emissão de um bilhete doméstico, terão sido desembolsados R$ 300, preço médio dos principais trechos entre capitais, por exemplo. Uma passagem de Curitiba para São Paulo pode sair por até um terço desse valor, dependendo da antecedência da reserva.
Mesmo o preço do lote de mil milhas por R$ 30 está acima do valor comercializado em sites de troca de milhagem para terceiros, em que a mesma quantidade de milhas pode ser cotada por R$ 20, em média. A venda das milhas para terceiros é desaconselhada e não reconhecida pelos programas oficiais, mas ganha espaço no comércio paralelo na internet.
A crise no setor aéreo aumentou a disputa pelo viajante frequente, que viaja a negócios e costuma pagar mais pelas passagens, pois, com a tendência de alta nas tarifas, quem viaja a lazer tende a voar menos. A pontuação por uso do cartão de crédito também ficou mais restrita, afetando os planos de clientes como a economista Renata Ono, que concentra despesas no cartão.
No caso da Gol, a partir de 10 de outubro o crédito será pelo valor, e não mais por distância, para os voos domésticos. Até lá, o usuário computa pelo menos mil milhas em trechos internos, independentemente da tarifa. Depois, no entanto, os preços promocionais perderão o benefício.
A TAM alterou as regras em junho, como a do prazo mínimo para marcação de assentos por pontos, alterado de 180 para 360 dias de antecedência.
Mudar a regra, nesses casos, não é ilegal, segundo o advogado Alceu Machado Neto, especializado em Direito do Consumidor. “Desde que a empresa faça ampla divulgação sobre as novas regras, ela está calçada nos termos de uso”, explica.
Corte de custos
A elevação da régua para concessão dos benefícios pode ser encarada como uma nova etapa na corrida das companhias para cortar custos, explica o consultor André Castellini, sócio da Bain & Company. A emissão de passagens gratuitas, afinal, reduz a rentabilidade das empresas.
Há um ano e meio, as empresas adotaram postura mais conservadora, depois de um período de guerra de tarifas e alta nas despesas – especialmente com combustíveis – que gerou prejuízos bilionários.
Fuga de clientes
Smiles e Multiplus compartilham praticamente a mesma carteira de clientes, com cerca de 10 milhões de cadastros cada uma. O mercado brasileiro é considerado de grande potencial: tem 6%, em média, da população fidelizada, contra índices que chegam a 50% na Nova Zelândia, por exemplo.
Mas, para o analista de mercado Richard Cole, da XP Investimentos, as mudanças podem ser o caminho mais curto para perder a clientela, ao invés de fidelizá-la. “Em um mercado com pouca concorrência, como a aviação comercial no Brasil, o impacto imediato pode ser a fuga de clientes. E se o usuário sai do programa, empresas parceiras tendem a sair também, pois o negócio deixa de ser interessante”, diz.

Gastos no cartão de crédito já não rendem tantos pontos
A pontuação em programas de fidelidade por uso do cartão de crédito, e a consequente troca por milhas aéreas, está mais difícil.
O Banco do Brasil, por exemplo, vai reduzir a conversão de pontos de acordo com os gastos nos cartões Ourocard a partir de novembro. Para atingir a pontuação máxima – 1,75 ponto por dólar gasto –, clientes Platinum terão de fechar a fatura mensal acima de R$ 4 mil. Abaixo desse valor, a conversão será de 1,5 ponto por dólar. Portadores do Infinite Black terão os gastos mínimos reajustados de R$ 7 mil para R$ 10 mil para conversão máxima (2,2 pontos por dólar).
A alta do dólar tornou desfavorável a conversão para pontos da maioria dos cartões de crédito. É o que mostra a pesquisa da associação de consumidores Proteste em nove bancos e 60 cartões. As taxas variam de 0,8 a 2,2 milhas por dólar gasto. Além da paridade, o consumidor precisa avaliar renda mínima exigida, valor da anuidade, parceiros dos programas de fidelização, taxa de conversão dos pontos para milhas, prazo para expiração do benefício e prazo de crédito das milhas no programa, para analisar as vantagens de cada bandeira ou programa.
A economista Renata Ono, de 24 anos, não aprovou as mudanças recentes para trocar suas milhas nas companhias aéreas. Ela paga toda e qualquer despesa no cartão de crédito e acumula, em média, 800 milhas por mês. Tem saldo de 12 mil milhas no cartão que, somadas ao saldo do programa de fidelidade, deveriam ser suficientes para a viagem de férias que pretende fazer em dezembro. “Essas mudanças podem afetar meus planos de conseguir passagens para Fortaleza”, diz.
Expansão
Depois de dez anos, Dotz chega ao Sul
Em agosto, o consumidor do Sul do país conheceu o Dotz, programa de fidelização por coalizão, criado há dez anos em Belo Horizonte. Inicialmente concebido para o comércio virtual, o Dotz, que mantém na carteira parceiros como o Banco do Brasil, as Americanas.com e até a venda de passagens on-line pela Gol, viu a receita aumentar com inclusão de lojas físicas na sua rede.
Depois de Curitiba e Florianópolis, o Dotz também abriu a praça de João Pessoa e chegou ao Vale do Sorocaba, no interior de São Paulo. “Temos um plano de expansão agressivo. A meta é chegar a 90% do mercado nacional até julho de 2014”, explica Roberto Chade, presidente da empresa.
Para adquirir Dotz e converter o benefício em produtos e serviços, o usuário precisa fazer um cadastro no site do programa e fazer as compras pelo ambiente virtual Dotz.

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