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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Lago de pedra

Altamente corrosivo, lago no norte da Tanzânia mata e calcifica todas as aves e pequenos mamíferos que dão o azar de cair em suas águas. Fotógrafo britânico transforma essas mortes em arte

Juliana Tiraboschi
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É como um enredo de filme de terror: animais desavisados caem em um lago misterioso e são transformados em estátuas. Parece ficção, mas a história é real e acontece no lago Natrão, na Tanzânia. Algumas vítimas desse lago mortal foram registradas pelo fotógrafo britânico Nick Brandt. O resultado está no livro “Across the Ravaged Land” (Através do Lago Devastado, em tradução livre – sem versão em português). O nome do lugar já explica parte da letalidade do lago. Natrão é um sal formado por carbonato de sódio hidratado e bicarbonato de cálcio, que se depositou ali por meio de cinzas vindas de vulcões. Os egípcios sabiam disso e usavam a substância em processos de mumificação.
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O natrão torna o ambiente do lago extremamente inóspito, com um nível de pH muito alcalino, variando entre 9 e 10,5. Isso faz com que o Natrão seja considerado o lago mais cáustico do mundo. Ou seja, ele é altamente corrosivo. Além disso, a temperatura de suas águas pode chegar a 60oC. Um dos poucos animais capazes de sobreviver no lago é uma espécie de tilápia adaptada para suportar a alcalinidade e a alta temperatura. Surpreendentemente, o local é o paraíso de flamingos que se alimentam de spirulina, um tipo de cianobactéria que cresce nas margens do Natrão. As aves constroem seus ninhos ali justamente porque o ambiente é tão agressivo à vida que acaba espantando predadores. Mas, vez ou outra, alguns flamingos caem acidentalmente na água e também acabam virando “pedra”.

Segundo Nick Brandt, ninguém sabe exatamente como os animais morreram. Uma hipótese é que os reflexos na superfície do lago tenham confundido os animais, do mesmo jeito como pássaros trombam com janelas de casas e prédios. Uma vez que são “capturados” pelas águas letais do Natrão, os bichos morrem e ficam calcificados. “O sal alcalino presente no lago ‘gosta’ de água e absorve toda a umidade, ressecando qualquer coisa que entre em contato com ele”, afirma Ethan Kinsey, um dos participantes da expedição de Nick Brandt, em seu blog. “Além disso, a alcalinidade atua como uma substância antibacteriana, preservando os corpos da decomposição”, diz. Encantado e surpreso pelo mórbido espetáculo dos corpos espalhados pelos arredores do lago, Brandt reposicionou os cadáveres de modo que parecessem vivos e os clicou, eternizando-os também em imagens.
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Nick Brandt se encantou pela África Oriental quando desembarcou na Tanzânia pela primeira vez, em 1995, para filmar o vídeo de “Earth Song”, canção de Michael Jackson. A partir daí, o fotógrafo passou a dedicar-se também à preservação da natureza. Em setembro de 2010, fundou a organização Big Life Foundation, que luta contra a caça de elefantes, junto com o conservacionista Richard Bonham. Seu novo livro fecha uma trilogia iniciada em 2000 e formada pelas obras “On This Earth” (Nessa Terra) e “A Shadow Falls” (Uma Sombra Cai), que ambiciona documentar a devastação e a matança de animais na África. 

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