SELVA

SELVA

PÁTRIA

PÁTRIA

sábado, 26 de outubro de 2013

Major inventor desenvolve veículos anfíbios no interior de SP

IZILDA REIS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DE ITÁPOLIS (SP)
Quando trafegam pelas ruas de Itápolis (353 km de São Paulo), os seis veículos do major-aviador da reserva Moacyr Zitelli se confundem com carros comuns. Duas características, no entanto, os diferenciam: eles são anfíbios e foram desenvolvidos pelo próprio militar no fundo do quintal de sua casa.
Aos 76 anos, Zitelli e seus carros chamam a atenção dos curiosos quando se aproximam, por exemplo, do rio Jacaré-Pepira, em Ibitinga (347 km de São Paulo), cidade vizinha a Itápolis.
Na última quinta-feira (24), a Folha acompanhou o militar no trajeto com seu buggy anfíbio, o último produzido por ele. É um veículo normal até chegar à represa. Lá, entra na água aos poucos e logo desliza a uma velocidade de até 40 km/h, deslocando-se suavemente sobre a água.
Um dos pioneiros da Academia da Força Aérea Brasileira, Zitelli fabricou seis veículos anfíbios --todos populares. E seguros, garante. "Pode entrar com roupa de festa no meu anfíbio que não vai afundar e nem molhar nada."

Edson Silva/Folhapress
O inventor e major-aviador da reserva Moacyr Zitelli passeia com um dos veículos anfíbios fabricados por ele em Itápolis (SP)
O inventor e major-aviador da reserva Moacyr Zitelli passeia com um dos veículos anfíbios fabricados por ele em Itápolis (SP)
Segundo ele, quanto maior o carro, melhor para transformá-lo em anfíbio, porque o peso garante maior estabilidade e segurança na água.
O primeiro segredo, ele diz, é a vedação total do carro. O segundo é o motor de popa, que trabalha paralelamente ao do carro. Não é preciso nenhuma alavanca para mudar de um motor para o outro.
O primeiro anfíbio produzido pelo major foi feito após três anos de projetos, no final de 2009, a partir da carcaça de uma Variant 1976. No ano seguinte, veio o Fusca 1972.
Depois foram as vezes do Fiat 147, outra Variant 72, um Corcel 83 e o buggy, que ficou pronto neste mês e foi testado com a reportagem.
'ANFÍBIOS POPULARES'
Segundo o inventor de Itápolis, as diferenças fundamentais entre seus veículos anfíbios e os fabricados em série por algumas montadoras mundiais começam nos custos. Enquanto um veículo montado numa indústria pode chegar ao consumidor por mais de R$ 300 mil, Zitelli gasta no máximo R$ 7.000. Sua produção particular fica estacionada em um espaço próprio no quintal de casa.
A vantagem de suas invenções é que elas são simples. Os carros trafegam normalmente por terra firme e, quando encontram um rio, deslizam pela água. "Tudo que faço parte da simplicidade. É o que funciona", diz. "No caso dos anfíbios, as características [originais do veículo] são preservadas."
Os produtos levam até cem dias para ficarem prontos nas mãos do major. E ele garante: "Faço só por hobby, não para vendê-los".
Consultado pela Folha sobre o trabalho de Zitelli, o professor de engenharia mecânica da UFSCar Jorge Henrique Bidinotto, 32, aprovou os projetos após ver um vídeo do major com o Fusca 72.
Ele disse que o modelo do major poderia se voltar para aplicações agrícolas. "Um fazendeiro poderia inspecionar sua propriedade e se locomover em regiões acidentadas." O professor só faz um alerta: "Recomendaria uma análise detalhada de segurança."
OUTRAS INVENÇÕES
Zitelli diz que a primeira invenção foi aos dez anos, quando ficou fascinado por um projetor de filmes que um colega de classe levou para a escola. "Dois dias depois, eu tinha meu próprio projetor feito com materiais improvisados", lembra.
As invenções não pararam mais. Entre as diversas, projetou sua própria casa e os móveis em madeira maciça que decoram o local.
Há ainda a bike-triturador, equipamento que tem pedais de bicicleta e triturador de milho para alimentar seus passarinhos.
Quando tinha 42 anos, Zitelli também projetou e construiu seu próprio avião. Era um biplano. "Fiz a partir de um motor de Brasília."
Filho de um pedreiro e de uma dona de casa, Zitelli chegou à Aeronáutica, foi piloto de caça e integrou a Esquadrilha da Fumaça. Pela FAB, voou da América Central à América do Norte.
Foi prefeito de Itápolis por duas vezes: de 1977 a 83, pelo MDB, e de 2005 a 2008, pelo PSDB. Na primeira, aproveitou a fama de suas manobras de avião para se eleger. Na segunda, a oposição classificou sua gestão de "morna". Depois, se decepcionou e abandonou a política.

Um comentário: