Promotoria criticou decisão que rejeitou denúncia contra 14 acusados.
Pedidos de prisão foram negados por juiz de Presidente Venceslau.
O Ministério Público de São Paulo
criticou a decisão da Justiça de rejeitar a denúncia contra 14 dos 175
acusados de integrarem a facção criminosa que age dentro e fora dos
presídios paulistas. Documento obtido pelo G1 mostra
que os promotores do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime
Organizado (Gaeco) em Presidente Prudente, no interior de São Paulo,
criticaram a decisão judicial que negou ainda os pedidos de prisões
preventivas e de mandados de buscas e apreensões contra parte dos
denunciados.
O juiz assessor da presidência do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), Rodrigo Capez, disse nesta sexta-feira (11) que a denúncia contra 175 suspeitos foi parcialmente negada porque o pedido foi "genérico" e a conduta de cada suspeito não foi suficientemente individualizada pelos promotores.
Por causa da rejeição, a Promotoria informa, em documento redigido na segunda-feira (7), que entrou com recurso “visando a reforma da decisão, com o recebimento integral da denúncia, além do deferimento da decretação da prisão preventiva dos denunciados e a expedição de mandados de busca e apreensão na residência deles”. “O jovem magistrado de primeiro grau não agiu com acerto”, diz o documento.
O MP alega que as prisões e mandados se fazem necessários porque a facção oferece grande perigo à população.
O documento diz que é a maior investigação contra a organização criminosa "já realizada neste Estado, seja pelo número de denunciados, seja por sua complexidade, profundidade, qualidade e periculosidade dos réus, razão pela qual, para que não se repita a série de ataques de maior de 2006, que vitimaram mais de uma centena de pessoas, a decretação da custódia preventiva de todos os denunciados é medida de rigor”, diz trecho do documento.
O juiz Rodrigo Capez garantiu que não houve intimidação contra o magistrado que negou as prisões e os mandados de busca e apreensão. "Eu posso assegurar que nenhum magistrado se sente intimidado. Isso já faz parte da profissão. O juiz responsável pelo RDD [Regime Disciplinar Diferenciado] tem plena consciência da gravidade das funções que ele exercesse e da repercussão das decisões que ele toma", afirmou Capez.
Segundo Capez, o juiz entendeu que, em relação a 14 pessoas, não havia elementos comprobatórios mínimos. O juiz de 1ª instância também negou o pedido de transferência de presos para o isolamento no RDD. "Há necessidade da demonstração mais uma vez concreta da urgência dessa medida", afirmou Capez. Ele disse ainda que todos os 161 réus serão citados para responderem à ação penal. O juiz terá de ouvir a defesa de cada um dos réus. A denúncia, segundo Capez, tem 890 folhas.
Perigo à sociedade
O documento da Promotoria informa que os criminosos denunciados estão agindo desde 16 de setembro de 2009, “de forma contínua estável e ininterrupta, até a presente data” na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior do estado, onde estão presos integrantes da cúpula da facção.
O MP cita que a facção é responsável pelas rebeliões em presídios em 2001, atentados em 2006, com mortos e prejuízos financeiros, e a onda de ataques em 2012, com mortes de policiais militares de São Paulo. A conclusão da Promotoria é de que a organização criminosa é "armada, de caráter permanente, destinada à prática do tráfico de drogas e de inúmeros outros delitos”.
“Sem dúvida, diante dessas ponderações, tudo indica que eles oferecem grande perigo à sociedade. Impõe-se garantir a ordem pública”, informa a Promotoria, que está providenciando a inclusão de duas testemunhas do processo no programa Provita porque elas “correm sério risco de vida”.
Após uma megainvestigação de três anos, o MP aponta que a cúpula da facção criminosa comanda, de dentro dos presídios paulistas, o tráfico de drogas e armas, além de ordenar a morte de autoridades, inimigos e policiais. Como resultado da apuração, os promotores pediram a prisão preventiva de 175 integrantes da facção e a transferência de 35 presos para o RDD.
A investigação foi divulgada nesta sexta-feira (11) pelo jornal "O Estado de S. Paulo". Os trabalhos foram conduzidos por 23 promotores e começaram em março de 2010. Além das escutas, foram reunidos documentos, depoimentos de testemunhas e informações sobre apreensões de centenas de quilos de drogas.
A denúncia com os pedidos de prisão foi oferecida à Justiça pelo MP há um mês, em 11 de setembro. O pedido foi negado pelo juiz de Presidente Venceslau, cidade localizada a 600 km da capital paulista. O MP recorreu da decisão no Tribunal de Justiça.
Estrutura da quadrilha
A partir da investigação, os promotores mapearam a estrutura da quadrilha, na qual apontam como chefe Marco Willians Camacho, o Marcola, que está preso faz sete anos. Os promotores também descobriram que a facção controla 169 mil presos e atua em 90% dos presídios paulistas. Fora dos presídios, a facção vende drogas e negocia compra de armas, e mata quem atrapalha os planos da facção.
De acordo com o jornal "O Estado de S. Paulo", a facção está presente em 22 estados do país e em três países: Brasil, Bolívia e Paraguai. Ainda segundo o jornal, ela fatura cerca de R$ 8 milhões por mês com o tráfico de drogas e tem um arsenal de cem fuzis, além de sete milhões enterrados em sete imóveis adquiridos pela facção.
As gravações com autorização judicial comprovam que criminosos perigosos comandam, por telefone, a facção criminosa de dentro da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau. Segundo a Promotoria, os criminosos negociam drogas, financiam o crime organizado e matam quem atrapalha as atividades do grupo.
As polícias militar e civil já vinham se preparando para fazer prisões e transferir os chefes da facção criminosa. Entretanto, a Justiça negou todos os pedidos da Promotoria. Durante as investigações, os promotores do Gaeco informaram que 106 PMs foram mortos no ano passado no estado durante a onda de violência no Estado deflagrada pela facção. A ordem para os assassinatos partiu também de dentro do presídio.
RDD
A Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo disse que pediu a internação de 35 presidiários do Centro de Readaptação de Presidente Bernardes para o regime disciplinar diferenciado, o RDD, mas o pedido foi negado pela autoridade judiciária. Até o começo da tarde, o Tribunal de Justiça não havia se pronunciado sobre o tema.
O advogado de Marcola, Roberto Parentoni, informou que ainda não teve acesso ao conteúdo da denúncia feita pelo Ministério Público Estadual contra seu cliente, e que, por isso, não pode se pronunciar.
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse que vai endurecer medidas já aplicadas atualmente contra a facção. "Vamos fortalecer ainda mais o RDD e as penitenciárias de segurança máxima", afirmou. "Não vamos nos intimidar."
O juiz assessor da presidência do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), Rodrigo Capez, disse nesta sexta-feira (11) que a denúncia contra 175 suspeitos foi parcialmente negada porque o pedido foi "genérico" e a conduta de cada suspeito não foi suficientemente individualizada pelos promotores.
Por causa da rejeição, a Promotoria informa, em documento redigido na segunda-feira (7), que entrou com recurso “visando a reforma da decisão, com o recebimento integral da denúncia, além do deferimento da decretação da prisão preventiva dos denunciados e a expedição de mandados de busca e apreensão na residência deles”. “O jovem magistrado de primeiro grau não agiu com acerto”, diz o documento.
O MP alega que as prisões e mandados se fazem necessários porque a facção oferece grande perigo à população.
O documento diz que é a maior investigação contra a organização criminosa "já realizada neste Estado, seja pelo número de denunciados, seja por sua complexidade, profundidade, qualidade e periculosidade dos réus, razão pela qual, para que não se repita a série de ataques de maior de 2006, que vitimaram mais de uma centena de pessoas, a decretação da custódia preventiva de todos os denunciados é medida de rigor”, diz trecho do documento.
O juiz Rodrigo Capez garantiu que não houve intimidação contra o magistrado que negou as prisões e os mandados de busca e apreensão. "Eu posso assegurar que nenhum magistrado se sente intimidado. Isso já faz parte da profissão. O juiz responsável pelo RDD [Regime Disciplinar Diferenciado] tem plena consciência da gravidade das funções que ele exercesse e da repercussão das decisões que ele toma", afirmou Capez.
Segundo Capez, o juiz entendeu que, em relação a 14 pessoas, não havia elementos comprobatórios mínimos. O juiz de 1ª instância também negou o pedido de transferência de presos para o isolamento no RDD. "Há necessidade da demonstração mais uma vez concreta da urgência dessa medida", afirmou Capez. Ele disse ainda que todos os 161 réus serão citados para responderem à ação penal. O juiz terá de ouvir a defesa de cada um dos réus. A denúncia, segundo Capez, tem 890 folhas.
Perigo à sociedade
O documento da Promotoria informa que os criminosos denunciados estão agindo desde 16 de setembro de 2009, “de forma contínua estável e ininterrupta, até a presente data” na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior do estado, onde estão presos integrantes da cúpula da facção.
O MP cita que a facção é responsável pelas rebeliões em presídios em 2001, atentados em 2006, com mortos e prejuízos financeiros, e a onda de ataques em 2012, com mortes de policiais militares de São Paulo. A conclusão da Promotoria é de que a organização criminosa é "armada, de caráter permanente, destinada à prática do tráfico de drogas e de inúmeros outros delitos”.
“Sem dúvida, diante dessas ponderações, tudo indica que eles oferecem grande perigo à sociedade. Impõe-se garantir a ordem pública”, informa a Promotoria, que está providenciando a inclusão de duas testemunhas do processo no programa Provita porque elas “correm sério risco de vida”.
Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola,
considerado o chefe da facção criminosa que age de
dentro dos presídios paulistas (Foto: Arquivo/G1)
Entenda o casoconsiderado o chefe da facção criminosa que age de
dentro dos presídios paulistas (Foto: Arquivo/G1)
Após uma megainvestigação de três anos, o MP aponta que a cúpula da facção criminosa comanda, de dentro dos presídios paulistas, o tráfico de drogas e armas, além de ordenar a morte de autoridades, inimigos e policiais. Como resultado da apuração, os promotores pediram a prisão preventiva de 175 integrantes da facção e a transferência de 35 presos para o RDD.
A investigação foi divulgada nesta sexta-feira (11) pelo jornal "O Estado de S. Paulo". Os trabalhos foram conduzidos por 23 promotores e começaram em março de 2010. Além das escutas, foram reunidos documentos, depoimentos de testemunhas e informações sobre apreensões de centenas de quilos de drogas.
A denúncia com os pedidos de prisão foi oferecida à Justiça pelo MP há um mês, em 11 de setembro. O pedido foi negado pelo juiz de Presidente Venceslau, cidade localizada a 600 km da capital paulista. O MP recorreu da decisão no Tribunal de Justiça.
Estrutura da quadrilha
A partir da investigação, os promotores mapearam a estrutura da quadrilha, na qual apontam como chefe Marco Willians Camacho, o Marcola, que está preso faz sete anos. Os promotores também descobriram que a facção controla 169 mil presos e atua em 90% dos presídios paulistas. Fora dos presídios, a facção vende drogas e negocia compra de armas, e mata quem atrapalha os planos da facção.
De acordo com o jornal "O Estado de S. Paulo", a facção está presente em 22 estados do país e em três países: Brasil, Bolívia e Paraguai. Ainda segundo o jornal, ela fatura cerca de R$ 8 milhões por mês com o tráfico de drogas e tem um arsenal de cem fuzis, além de sete milhões enterrados em sete imóveis adquiridos pela facção.
As gravações com autorização judicial comprovam que criminosos perigosos comandam, por telefone, a facção criminosa de dentro da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau. Segundo a Promotoria, os criminosos negociam drogas, financiam o crime organizado e matam quem atrapalha as atividades do grupo.
As polícias militar e civil já vinham se preparando para fazer prisões e transferir os chefes da facção criminosa. Entretanto, a Justiça negou todos os pedidos da Promotoria. Durante as investigações, os promotores do Gaeco informaram que 106 PMs foram mortos no ano passado no estado durante a onda de violência no Estado deflagrada pela facção. A ordem para os assassinatos partiu também de dentro do presídio.
RDD
A Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo disse que pediu a internação de 35 presidiários do Centro de Readaptação de Presidente Bernardes para o regime disciplinar diferenciado, o RDD, mas o pedido foi negado pela autoridade judiciária. Até o começo da tarde, o Tribunal de Justiça não havia se pronunciado sobre o tema.
O advogado de Marcola, Roberto Parentoni, informou que ainda não teve acesso ao conteúdo da denúncia feita pelo Ministério Público Estadual contra seu cliente, e que, por isso, não pode se pronunciar.
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse que vai endurecer medidas já aplicadas atualmente contra a facção. "Vamos fortalecer ainda mais o RDD e as penitenciárias de segurança máxima", afirmou. "Não vamos nos intimidar."
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