Na manhã de ontem, os bancos de Fortaleza estavam lotados, tanto de aposentados quanto de trabalhadores
Em
tempos de greve dos bancários, o funcionamento dos caixas eletrônicos
nem sempre é sinônimo de comodidade para os clientes das instituições
financeiras, sobretudo, para quem não sabe operar as máquinas. Sem o
auxílio de funcionários, a tentativa de realizar um simples saque pode
se transformar em dor de cabeça e prejuízo. Quem mais sofre são idosos,
pessoas não alfabetizadas e com pouca afinidade com as tecnologias, mais
vulneráveis a golpes.
Para concluir as operações, muitos aposentados pediam ajuda a outros clientes
FOTO: DIVULGAÇÃO
Na
manhã de ontem, os bancos de Fortaleza estavam lotados, tanto de
aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)
quanto de trabalhadores que também recebem seus pagamentos no início do
mês.
O Diário do Nordeste percorreu diversas agências e percebeu
que nem todas disponibilizam funcionários para auxiliar os clientes. A
situação é mais crítica nos estabelecimentos do Banco do Brasil, onde é
comum observar usuários "leigos" pedindo ajuda a terceiros, única jeito
para não sair do banco sem realizar os procedimentos. Mas, apesar da
solidariedade em diversos casos, é válido lembrar de golpistas que
buscam se aproveitar da situação para agir.
O empresário Wilson
Marinho Júnior estava na agência do Banco do Brasil da Rua Floriano
Peixoto, no Centro de Fortaleza. Ao invés de fazer apenas seu saque e
sair do estabelecimento, fez questão de ajudar outras três pessoas,
todas idosas, que não estavam conseguindo realizar os procedimentos.
"Muitos
usuários chegam e não sabem operar as máquinas, ficam totalmente
perdidos. Concordo com a greve, mas o banco deveria disponibilizar um
funcionário para poder ajudar. Isso não está certo. A gente sabe que nem
todos agem de boa fé, tem muitos bandidos. E os idosos são os mais
vulneráveis", afirma o empresário.
Ajuda
Uma
das pessoas ajudadas pelo empresário Wilson Júnior foi o aposentado
Milton Antônio da Silva. Ele não sabe ler e, todas as vezes que vai às
instituições financeiras, precisa do auxílio de funcionários.
"Se
não fosse ele, eu ia para casa sem dinheiro. Ainda bem que deu certo",
comemora. A aposentada Narcisa Ferreira da Cunha também contou com o
apoio do empresário. "Não sei mexer sozinha. Sei que é perigoso aceitar
ajuda de estranhos, mas é o jeito. Não era pra gente passar por isso",
reclama.
Sem dinheiro
O fluxo no Banco do
Brasil da Rua Floriano Peixoto era tão intenso que, mesmo antes do meio
dia, só era possível sacar dinheiro em duas máquinas. Em meio às filas
enormes, usuários completamente perdidos solicitavam informações a quem
estivesse por perto. "Um senhor pediu para que eu ensinasse ele a pagar
uma conta com o código de barras, não pude negar", diz a servidora
pública Maria de Jesus Carneiro, alertando para as pessoas com más
intenções.
Além de agências do Banco do Brasil, a reportagem
também visitou estabelecimentos da Caixa Econômica Federal, Bradesco,
Itaú e Santander. Todas eles tinham, no mínimo, um funcionário para
auxiliar os clientes. Entretanto, com a movimentação bastante alta,
típica de início de mês, também era possível notar casos semelhantes ao
citados anteriormente.
Abance
Segundo o
assessor jurídico da Associação dos Bancos do Estado do Ceará (Abance),
Lúcio Paiva, a adesão da categoria à greve está forte neste ano. Por
isso, falta pessoal para auxiliar os usuários no autoatendimento. Por
outro lado, o assessor informa que existem funcionários nos
estabelecimentos "de forma disfarçada para administrar a situação",
completou.
ENQUETE
Auxílio no autoatendimento pode ser risco
"Pensava
que teria alguém do banco para me orientar, pois não sei mexer no caixa
eletrônico. Só consegui sacar porque um homem me ajudou. Mas isso é um
grande risco"
Eliane Oliveira
Comerciante
"Como
sei que os bancos estão em greve, trouxe a minha filha para me ajudar.
Não peço auxílio a estranho porque sei que existem muitos golpistas, é
um grande perigo"
Raimunda da SilvaMerendeira
Bancários rejeitam oferta; greve continua
Fortaleza/São Paulo.
Os bancários rejeitaram, ontem, a nova proposta apresentada pela
Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) de reajuste salarial de 7,1%, ou
seja, aproximadamente 1% de aumento real, afirmou Carlos Cordeiro,
presidente da Comando Nacional dos Bancários (Contraf-CUT).
A
oferta foi feita na tarde de ontem aos representantes da categoria, em
reunião marcada pela própria Fenaban um dia após os representantes do
comércio pressionarem a federação a entrar em acordo com a categoria. O
presidente do Sindicato dos Bancários do Ceará (Seeb/CE), Carlos Eduardo
Bezerra, esteve presente. Segundo a Confederação Nacional de Dirigentes
Lojistas (CNDL), o setor pode registrar perdas de até 30% se a greve se
prolongar até o quinto dia útil do mês. Foi a primeira oferta desde o
início da greve, no dia 19 de setembro.
Adesão no Ceará
Foram
registradas, ontem, 402 agências paradas em todo o Estado de um total
de 507. Na Capital cearense, 190 estavam fechadas e 212 no Interior,
conforme informações do Seeb/CE. A paralisação completou 16 dias nesta
sexta-feira.
Proposta
Após reunião das
lideranças sindicais, para discutir a oferta, foi decidido pela
rejeição. "Estamos rejeitando essa proposta pois ela não contempla os
principais item da categoria, não só os econômicos, mas também os
sociais", diz Cordeiro. A categoria pede 11,93% de correção (5% de
aumento real).
Segundo o presidente da entidade, não houve nenhum
avanço em relação à alta rotatividade no setor, "os bancos demitem quem
ganha mais e contrata novos funcionários pagando menos", diz. Além
disso, não houve proposta em relação às metas abusivas e à segurança dos
funcionários, argumentou.
Em relação à PLR (Participação nos
Lucros e Resultado), ficou mantida a fórmula já praticada atualmente. Os
bancos oferecem correção dos valores fixos e de tetos em 10%, que,
segundo Cordeiro, na prática não muda nada para os trabalhadores.
O
presidente da Contraf-CUT explicou que seria enviado, ontem à Fenaban,
comunicado oficial para avisar sobre a rejeição da proposta. Assim, a
greve continua na próxima segunda-feira, até que os bancos apresentem
uma nova oferta.
RAONE SARAIVAREPÓRTER
Minha lista de blogs
PÁTRIA
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário