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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Barreira provoca mal-estar entre brasileiros e paraguaios na fronteira

A instalação de blocos de concreto em um trecho da fronteira que corta as cidades de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, e Juan Pedro Caballero, no Paraguai, gerou mal-estar entre os dois lados, com troca de acusações que envolvem desrespeito à fronteira e uma suposta concorrência desleal.
As autoridades paraguaias investigam denúncias de que comerciantes brasileiros teriam levantado "barreiras" em diversos pontos da fronteira, durante a madrugada desta terça-feira.
O Itamaraty confirma ter sido comunicado do episódio pelo governo paraguaio e que enviou um representante da comissão de fronteiras para avaliar de perto a situação.
De acordo com jornais locais, os brasileiros estariam "descontentes" com o número crescente de moradores de Ponta Porã que cruzam a fronteira com Juan Pedro Caballero em busca de produtos com preços mais em conta.
Os paraguaios, por sua vez, acusam o lado brasileiro de impedir o trânsito de pessoas entre os dois países, "interferindo" de forma ilegal na linha de fronteira.
Até o momento, nem o governo paraguaio nem o brasileiro conseguiram identificar os responsáveis pela instalação dos blocos de concreto.
"Nenhuma das duas prefeituras sabe quem pode ter levantado essa barreira, por isso estamos um pouco confusos", disse à BBC o cônsul paraguaio em Ponta Porã, Luis Sosa.
Sosa, que participou das reuniões realizadas pela delegação da chancelaria paraguaia, garantiu que "houve um acordo para destruir todas as barreiras".
"Não há ruptura das relações, não há ressentimentos e está tudo bem encaminhado", acrescentou.
CONCORRÊNCIA
O presidente da Associação Comercial de Ponta Porã, Evaldo Pavão, disse que a situação no limite entre as duas cidades está "tensa", mas negou que a decisão de bloquear parte da fronteira tenha partido da entidade, como chegou a afirmar a imprensa paraguaia.
"Existe, sim, uma insatisfação dos comerciantes brasileiros com o desrespeito à fronteira, que prejudica o comércio aqui em Ponta Porã", disse.
O motivo, segundo ele, é a valorização do real, que deixa os produtos brasileiros mais caros frente aos concorrentes paraguaios. Além disso, diz ele, os paraguaios "pagam bem menos impostos".
"Você imagina atravessar a rua e encontrar uma carga tributária de 10%, enquanto aqui pagamos 40%", diz. "É uma concorrência desleal", completa.
Segundo a imprensa paraguaia, os comerciantes brasileiros estariam especialmente preocupados com a construção de um grande centro comercial do lado paraguaio, cujo investimento chega a US$ 3,5 milhões.
O episódio das barreiras fez reacender o debate sobre a fiscalização da fronteira entre Brasil e Paraguai, que cobre uma extensão de aproximadamente 1.300 quilômetros.
Em muitos trechos, como na região de Ponta Porã com Juan Pedro Caballero, o limite entre os dois países se torna confuso, com ruas que atravessam os dois países sem demarcação clara.
HISTÓRIA ANTIGA
A construção de barreiras por parte do Brasil na fronteira com o Paraguai não é uma história nova.
Em abril de 2007, a Receita Federal em Foz do Iguaçu, na fronteira com Ciudad del Este, a cerca de 360 quilômetros de Assunção, anunciou a construção de um muro para frear o contrabando e a imigração ilegal.
O projeto estabelecia que a barreira de separação passaria por debaixo da Ponte da Amizade, que liga os dois países sobre o Rio Paraná.
O anúncio causou uma onda de indignação no Paraguai. O projeto, batizado pela imprensa paraguaia de "muro da vergonha", acabou não se concretizando.

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