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terça-feira, 3 de agosto de 2010

Educação de qualidade - Colégio Militar de Fortaleza

A carência de professores nas escolas públicas cearenses tem levado a um fraco desempenho dos nossos alunos em suas avaliações. Mesmo assim, o último resultado do IDEB (Índice de Desenvolvimento de Educação Básica), avaliação organizada pelo MEC, coloca o Ceará em primeiro lugar no Nordeste, e entre os dez melhores estados do Brasil. Imagina-se então quão melhor seria esse desempenho se não houvesse essa carência de professores, se as escolas estivessem mais bem aparelhadas, principalmente com laboratórios de informática, com bibliotecas mais bem aparelhadas e com tempo integral para o aluno.
Essa avaliação apresentou o município de Sobral como o melhor destaque no Nordeste e entre os setenta melhores do Brasil. Esse sucesso deve-se a uma série de fatores que precisam ser imitados pelos outros municípios da região. Há uma preocupação dos gestores educacionais daquela cidade e dos seus últimos prefeitos, em dar continuidade aos projetos educacionais que vêm dando certo. Isso não acontece na maioria dos nossos municípios que a cada mudança administrativa são eliminados os projetos anteriores e mudados os gestores educacionais que muitas vezes vêm dando certo. Essa falta de continuidade é altamente prejudicial em educação.
Outra razão do sucesso de Sobral fica por conta do investimento na alfabetização. Há uma década, o foco principal dos gestores educacionais da Princesa do Norte tem sido em torno de uma educação infantil de qualidade, com ênfase na alfabetização. Não há outra atitude melhor. Afinal todo o alicerce da vida escolar do estudante está na alfabetização. Daí que o mais hábil professor de uma escola deve estar alfabetizando. O momento em que a criança desasna é o mais sublime de sua vida de aprendiz.
Há também outras diretrizes que podem levar uma escola a um bom desempenho através do aprendizado dos seus alunos. Para entendê-las é bom que se reporte ao melhor desempenho nessa mesma avaliação do MEC, entre nós. E em termos de escola, no nosso Estado, a culminância ficou com o Colégio Militar de Fortaleza. Além de ter alcançado o primeiro lugar no Ceará, ficou em sétimo, em todo o Brasil. O que o levou a esse desempenho é o que nos interessa saber agora. No CMF, fui professor por onze anos e constatei uma série de estratégias que levam a um bom desempenho dos seus alunos. Seus egressos desaguam na AMAN, no IME, no ITA, na ESPCEX e nas melhores universidades que possuímos.
Há quem diga que o fator principal desse sucesso seja a rigorosa seleção para aqueles que ingressam no CMF. Em parte, sim. No entanto logo no ano seguinte começam, por força de lei, a ingressar nas turmas, filhos de militares transferidos, que nem sempre trazem o cabedal de conhecimento daqueles que ingressaram pela seleção. Há, portanto, uma série de outros fatores para esse sucesso. Os professores do colégio são quase todos pós-graduados. Muitos deles têm experiência docente no ensino superior. A seleção para professor naquele estabelecimento é tão concorrida que no concurso em que concorri havia dez candidatos por vaga. São provas com as mesmas regras exigidas para ingresso nas universidades públicas.
Outro fator importante é o tempo integral principalmente para o aluno que apresenta dificuldade de aprendizagem. Para isso o Colégio oferece condições de permanência do estudante nas suas dependências. São instalações que ocupam duas quadras numa região central da cidade, com alojamento, laboratórios, auditórios, biblioteca com bom acervo de livros e vídeos, lanchonete, refeitório, agência bancária e muita disciplina. Essa disciplina é fundamental na vida do estudante que passa a mesclar sua vida com momentos de lazer e de estudo devidamente delimitados. É uma disciplina que acompanha o egresso pela vida.
Há também a participação da família no acompanhamento da vida do aluno. A Associação de Pais e Mestres tem uma função marcante no Colégio Militar. Ela atua com palestras, fóruns de formação educacional, eventos esportivos, competições culturais e promoção de encontros festivos. Mas sua principal preocupação é com o rendimento escolar do estudante. Além disso tudo, o colégio possui um departamento psicopedagógico que está sempre antenado com as demandas que são marcantes entre os jovens, nessa idade crítica que é a adolescência. Esse aparato em torno do jovem estudante leva-o ao sucesso na aprendizagem.
É evidente que tudo isso é difícil de se colocar em toda a rede pública do estado e dos municípios. Entretanto, muitas dessas estratégias são viáveis de aplicação nessas escolas. Acredito que quanto mais a escola criar condições para que o aluno se sinta bem nas suas dependências, mais ele vai fazer da escola, sua segunda casa. Uma boa biblioteca, com sala de leitura, equipamentos de informática ligados à internet, uma videoteca, uma quadra esportiva, uma boa arborização do ambiente, tudo leva a um bem-estar do jovem. Ele passa a ter a escola como um ambiente de aconchego, além de mentora da sua formação intelectual.
Além disso tudo, a importância da participação dos pais na formação dos filhos é fundamental. A Associação de Pais precisa ser partícipe desse processo. Essa abertura para a comunidade é necessária pois a escola não pode parecer um corpo estranho entre a população. Ela é um bem público, um centro comunitário para os moradores do seu entorno. Suas dependências precisam estar disponíveis para a comunidade, principalmente nos recessos, para reuniões, cursos, oficinas e outras práticas educativas dos cidadãos. É preciso que a comunidade se sinta responsável pela escola, e isso só é possível a partir do instante em que ela também se sinta inserida nas suas dependências e veja nela a continuidade de seu lar.

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