Com os parlamentares voltados para a campanha eleitoral, o Congresso mergulha, nos três meses que antecedem as eleições, no chamado recesso branco eleitoral. Mesmo com providências para reduzir a

Só no caso dos 594 parlamentares, nos três meses, são R$ 29,4 milhões gastos apenas com os subsídios. A despesa média nesses três meses (agosto a outubro) é de R$ 1,7 bilhão para as duas Casas, levando-se em conta que o orçamento anual da Câmara e do Senado para 2010 é R$ 6,88 bilhões.
Em dois meses, apenas seis dias de trabalho
A alternativa utilizada até hoje para o recesso parlamentar não se mostrou suficiente para vencer o dilema do ostracismo inevitável: a Câmara foi convocada para seis dias de trabalho, entre agosto e outubro, e fracassou, sem votar nenhuma matéria em plenário.
Já o Senado transformou a primeira semana de esforço concentrado numa maratona de votações de um verdadeiro pacote de bondade eleitoral. Ao contrário da Câmara, que suspendeu todas as sessões, o Senado está mantendo as sessões de debate, às quais comparecem, para discursos, senadores e suplentes que não são candidatos este ano.
— Houve um contrato de representação selado entre os nossos legisladores, que nos representam por quatro anos, oito anos.
Já existe um regime parcimonioso de recesso, de folgas emendadas — critica o diretor do Instituto Ágora, Gilberto de Palma, entidade que monitora o funcioname

Parece que há uma licença, que foi naturalizada na cultura política, mas que não tem legitimidade.
Para se ter uma ideia do peso da máquina, dos R$ 3,83 bilhões de orçamento global da Câmara, R$ 2,9 bilhões serão usados este ano para o pagamento de pessoal, ou 75,7% do total, numa média de R$ 241 milhões por mês. No Senado, a folha de pessoal consome R$ 2,55 bilhões dos R$ 3,05 bilhões de gastos orçamentários previstos para 2010, ou 83,6% do total.
Os próprios responsáveis pela administração das Casas admitem que, durante o recesso eleitoral, o trabalho legislativo é reduzido, sem redução de gastos, porque o maior custo orçamentário é com o pagamento da folha salarial.
Mas enfatizam que a redução de trabalho acontece entre os servidores da área legislativa.
— Nesses períodos as áreas legislativas aproveitam para colocar em dia o trabalho acumulado no ano. A parte administrativa continua funcionando normalmente: finanças, informática.
Você tem uma redução de custos, mas que não é significativa em relação ao gasto total.
Mas não há como desmontar a estrutura, ela tem que ser mantida — afirma o diretor-geral da Câmara, Sérgio Sampaio.
O diretor de jornalismo do Senado, Davi Emerick, afirma que este é o momento para colocar o Casa em ordem: — É o momento de pensar novos projetos, fazer planejamento estratégico. A Casa, em tese, não está em recesso oficial e tem que estar preparada para atuar, se houver convocação.
Os servidores têm que estar disponíveis.
Sem atividade em plenário ou em comissões, centenas de funcionários perambulam por corredores e gabinetes, sem muito trabalho a fazer.
Nos gabinetes, pelo menos um ou dois funcionários estão escalados para atender telefonemas.
Garçons engravatados e alinhados, sem ter a quem servir um café ou água, passam o dia batendo papo ou assistindo à TV.

Nas inúmeras salas das Casas, é comum ver apenas metade das mesas ocupadas, já que muitos optam por um revezamento entre turnos. Isso ocorre porque, ao contrário do passado recente, hoje a cobrança da presença é mais efetiva.
— Não tem muito o que fazer, mas o chefe controla, a gente tem que vir — afirma uma assessora de plenário.
Um antigo funcionário da Câmara, que também prefere o anonimato, comenta: — É um gasto maior se todo mundo vier para não fazer nada. Gasta telefone, consome café, luz. Muitos vêm porque o deputado, mesmo não podendo, usa o gabinete para fazer campanha.
A maioria faz escala para não deixar completamente vazio: uns vêm num horário, outros, no outro, uns vêm um dia, outros, no outro. Mas antes, quando não tinha ponto para assinar, era pior: tinha gente que ficava mais de 15 dias sem nem aparecer.
No Senado, é preciso bater o ponto de manhã e de noite, e cada servidor tem sua própria senha.
Isso dificulta o deslocamento em viagens, mas permite que muitos alonguem-se nos almoços ou deem uma escapadela no meio do dia.
Na Câmara, os funcionários têm que assinar o ponto quatro vezes ao dia. O uso de ponto eletrônico biométrico (no qual o funcionário é identificado pela digital) é usado só para o pagamento das horas extras em sessão

'Há uma cobrança equivocada por votações para mostrar serviço'
Parlamentares defendem dedicação a campanhas e esvaziamento de sessões
BRASÍLIA. A maioria dos parlamentares está em campanha pela reeleição ou disputando outros cargos nos estados de origem. E também a maior parte deles defende que assim seja feito. O papel do Parlamento não é só votar, dizem. Alguns consideram até que manter as votações em período eleitoral é um risco, pois muita coisa pode ser aprovada sem maiores discussões.
Neste recesso branco da Câmara, a ausência dos parlamentares se somou à falta de acordo entre governo e oposição para qualquer votação.
Vice na chapa da candidata do PT à Presidência, nem o presidente Michel Temer (PMDB-SP) esteve na Casa. De sua residência oficial, cancelou novas sessões, após a invasão de policiais que faziam lobby pela aprovação de um projeto de interesse da categoria. Os seguranças, acostumados à tranquilidade das últimas semanas, reforçaram o policiamento.
Presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ), Demóstenes Torres (DEM-GO) diz que poderia haver um esquema mais forte de trabalho neste período.
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