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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

De olho em 2014

Preocupada em fazer o governo deslanchar no ano pré-eleitoral, Dilma recebe empresários, pede ajuda e ouve deles promessas de mais investimento. Para beneficiar a classe C, presidenta assegura a redução de 20% nas contas de luz

Paulo Moreira Leite
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EM BUSCA DO “PIBÃO”
Nos encontros com empresários, Dilma disse em mais de uma
oportunidade “eu confio” e “eu preciso” da iniciativa privada
A presidenta Dilma Rousseff voltou das férias em ritmo acelerado. Engajada na luta pela reeleição em 2014, Dilma está convencida de que precisa plantar em 2013 os frutos necessários para uma colheita favorável nas urnas do ano que vem. A experiência dos antecessores ensina que esse cuidado é necessário. A derrota de José Serra, em 2002, foi antecedida pelo racionamento de energia do governo Fernando Henrique Cardoso, o pior da história do País. A vitória de Lula em 2006 e a eleição de Dilma, em 2010, foram preparadas por ondas fortes de crescimento e distribuição de renda. Dilma entrou em 2013 com a aprovação recorde de 78%, mas é impossível ter certeza de que irá manter-se nesse patamar até a eleição, daqui a 22 meses.
Preocupada em reanimar a economia, para impedir que se torne um alvo óbvio do palanque da oposição, e num esforço para transformar o declínio de 2011 e 2012 num “pibão,” expressão que adotou para sinalizar alguma coisa entre 3% e 4% sem se comprometer com números exatos, Dilma dedicou a semana passada a conversas estratégicas junto a grandes empresários. Recebeu Marcelo Odebrecht, do grupo Odebrecht, Rubens Ometto, da Cosan, e Maurício Ferreira, da Vale, no Planalto. Foram conversas separadas. A reconstituição dos encontros mostra que ocorreram diálogos produtivos – mesmo quando se recorda que toda jura de fidelidade dessa natureza pode ser rompida em menos de 24 horas. Dilma surpreendeu os interlocutores pelo bom humor, pelas piadas e comentários irônicos. Para deixar claro aonde pretendia chegar, em mais de uma oportunidade a presidenta disse “ eu confio” nos empresários e “ eu preciso “ da iniciativa privada. Em pelo menos dois encontros mencionou a possibilidade de abrir concessões num terreno sempre delicado, o da exploração do petróleo.
De Marcelo Odebrecht, Dilma ouviu a notícia de que os investimentos do grupo vão crescer em 2013. Ficaram em R$ 13 bilhões em 2012 e serão ampliados para R$ 17 bilhões ao longo deste ano – e podem crescer ainda mais, conforme o resultado dos leilões programados para os próximos meses. Rubens Ometto anunciou uma elevação de R$ 4 bilhões para R$ 5 bilhões. Mesmo sem números, Maurício Ferreira informou que os investimentos também estão subindo. Numa rodada anterior de conversas, a presidenta pediu – e obteve – de Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, apoio para formatar os consórcios que irão participar de leilões.
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Graças à sua formação acadêmica como economista, bastante influenciada pelas ideias de John Maynnard Keynes, um dos principais estudiosos do papel do Estado no crescimento e na criação de empregos, Dilma aprendeu que o ambiente político do País irá jogar um peso decisivo em futuro próximo. Keynes sempre falou sobre a necessidade de despertar o “espírito animal” que faz os empresários investir no crescimento e na criação de empregos. É o que ela espera. Nos últimos meses a presidenta arquitetou um conjunto de novas parcerias do governo com a iniciativa privada, as chamadas Parcerias-Público-Privadas, PPPs. Reformou o projeto de concessão de portos para eliminar cláusulas que incomodavam investidores. Finalizou propostas de concessão de serviços públicos, como ferrovias, rodovias e aeroportos, que serão levadas a leilão no primeiro semestre de 2013. E, depois de desonerar a folha de salários de 42 setores da economia, a presidenta decidiu incluir a construção civil – maior geradora de empregos do país – na mudança, em um novo alívio para o caixa das empresas.
Além de ouvir empresários, Dilma tem multiplicado mensagens diretas à maioria dos cidadãos, aqueles que são obrigados a contar cada real para tentar fechar as contas no fim do mês – a faixa mais fiel dos eleitores que levaram Lula, e depois Dilma, ao Planalto. Apresentada como uma medida prudente para evitar um perigoso salto da inflação, a ideia de convencer prefeitos de Rio de Janeiro e São Paulo a adiar por seis meses o aumento já autorizado na passagem de ônibus teve o efeito suplementar de proteger o orçamento dessas pessoas.
A principal iniciativa em benefício nessa área envolve a redução de 20% no valor das contas de luz. Convencida de que é uma mudança que envolve sua imagem política, como defensora dos consumidores e dos cidadãos classe C, a presidenta mobilizou o conjunto do governo para defendê-la. Depois que uma queda temporária nas reservas da usina de Furnas levou adversários do governo a divulgar a visão de que o País iria enfrentar dificuldades da produção de energia, que havia risco de racionamento e que o corte de 20% estava comprometido – num comportamento negativo já visto no lançamento do Bolsa Família – o Planalto reagiu de forma coordenada.
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Marcelo Odebrecht (à esq.) prometeu ampliar investimentos
em R$ 4 bilhões. Já Edison Lobão descartou o racionamento
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Enquanto a presidenta chegou a gargalhar ao ser perguntada sobre racionamento, o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, foi autorizado a declarar que o fornecimento está assegurado, “sem risco de racionamento nem hoje nem no futuro.” Lobão ainda afirmou que, em caso de necessidade, até a usina nuclear de Angra dos Reis, desligada para manutenção, poderia ser reativada. Quando se divulgou que o uso temporário de usinas termelétricas poderia elevar o custo da energia em 15%, anulando os efeitos da queda na conta de luz, esclareceu-se que, na pior das hipóteses, num caso de seca recorde, o custo subiria no máximo 3%.
No horizonte do Planalto para 2014, há problemas que são possíveis tentar resolver – e outros que o governo só pode lamentar, torcendo para que sejam esquecidos. Dilma guarda sua opinião sobre o julgamento do mensalão no Supremo para conversas reservadas. Considera errada toda manifestação que possa dar a impressão de interferência na decisão de outro Poder. Parte da aprovação de Dilma em Estados tradicionais da oposição, nas regiões Sul e Sudeste, deve-se às suas demonstrações de firmeza diante dos “malfeitos” comuns no Estado brasileiro. Não se considera prudente qualquer movimento que possa ser interpretado como um gesto em direção contrária.
Foto: Ueslei Marcelino/REUTERS, Julio Bittencourt/Valor; Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr; Gustavo Scatena/Imagem Paulista

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