Preocupada em fazer o governo deslanchar no ano pré-eleitoral, Dilma recebe empresários, pede ajuda e ouve deles promessas de mais investimento. Para beneficiar a classe C, presidenta assegura a redução de 20% nas contas de luz
Paulo Moreira LeiteEM BUSCA DO “PIBÃO”
Nos encontros com empresários, Dilma disse em mais de uma
oportunidade “eu confio” e “eu preciso” da iniciativa privada
Preocupada em reanimar a economia, para impedir que se torne um alvo óbvio do palanque da oposição, e num esforço para transformar o declínio de 2011 e 2012 num “pibão,” expressão que adotou para sinalizar alguma coisa entre 3% e 4% sem se comprometer com números exatos, Dilma dedicou a semana passada a conversas estratégicas junto a grandes empresários. Recebeu Marcelo Odebrecht, do grupo Odebrecht, Rubens Ometto, da Cosan, e Maurício Ferreira, da Vale, no Planalto. Foram conversas separadas. A reconstituição dos encontros mostra que ocorreram diálogos produtivos – mesmo quando se recorda que toda jura de fidelidade dessa natureza pode ser rompida em menos de 24 horas. Dilma surpreendeu os interlocutores pelo bom humor, pelas piadas e comentários irônicos. Para deixar claro aonde pretendia chegar, em mais de uma oportunidade a presidenta disse “ eu confio” nos empresários e “ eu preciso “ da iniciativa privada. Em pelo menos dois encontros mencionou a possibilidade de abrir concessões num terreno sempre delicado, o da exploração do petróleo.
De Marcelo Odebrecht, Dilma ouviu a notícia de que os investimentos do grupo vão crescer em 2013. Ficaram em R$ 13 bilhões em 2012 e serão ampliados para R$ 17 bilhões ao longo deste ano – e podem crescer ainda mais, conforme o resultado dos leilões programados para os próximos meses. Rubens Ometto anunciou uma elevação de R$ 4 bilhões para R$ 5 bilhões. Mesmo sem números, Maurício Ferreira informou que os investimentos também estão subindo. Numa rodada anterior de conversas, a presidenta pediu – e obteve – de Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, apoio para formatar os consórcios que irão participar de leilões.
Além de ouvir empresários, Dilma tem multiplicado mensagens diretas à maioria dos cidadãos, aqueles que são obrigados a contar cada real para tentar fechar as contas no fim do mês – a faixa mais fiel dos eleitores que levaram Lula, e depois Dilma, ao Planalto. Apresentada como uma medida prudente para evitar um perigoso salto da inflação, a ideia de convencer prefeitos de Rio de Janeiro e São Paulo a adiar por seis meses o aumento já autorizado na passagem de ônibus teve o efeito suplementar de proteger o orçamento dessas pessoas.
A principal iniciativa em benefício nessa área envolve a redução de 20% no valor das contas de luz. Convencida de que é uma mudança que envolve sua imagem política, como defensora dos consumidores e dos cidadãos classe C, a presidenta mobilizou o conjunto do governo para defendê-la. Depois que uma queda temporária nas reservas da usina de Furnas levou adversários do governo a divulgar a visão de que o País iria enfrentar dificuldades da produção de energia, que havia risco de racionamento e que o corte de 20% estava comprometido – num comportamento negativo já visto no lançamento do Bolsa Família – o Planalto reagiu de forma coordenada.
Marcelo Odebrecht (à esq.) prometeu ampliar investimentos
em R$ 4 bilhões. Já Edison Lobão descartou o racionamento
No horizonte do Planalto para 2014, há problemas que são possíveis tentar resolver – e outros que o governo só pode lamentar, torcendo para que sejam esquecidos. Dilma guarda sua opinião sobre o julgamento do mensalão no Supremo para conversas reservadas. Considera errada toda manifestação que possa dar a impressão de interferência na decisão de outro Poder. Parte da aprovação de Dilma em Estados tradicionais da oposição, nas regiões Sul e Sudeste, deve-se às suas demonstrações de firmeza diante dos “malfeitos” comuns no Estado brasileiro. Não se considera prudente qualquer movimento que possa ser interpretado como um gesto em direção contrária.
Foto: Ueslei Marcelino/REUTERS, Julio Bittencourt/Valor; Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr; Gustavo Scatena/Imagem Paulista
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