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Reinaldo Azevedo
Análises políticas em um dos blogs mais acessados do Brasil
Há exatos
80 anos, Adolf Hitler se tornava o chanceler da Alemanha. O resto é
horror, perpetrado, em boa parte, sob o silêncio cúmplice do povo alemão
e das demais nações.
Antes que
se tornasse um homicida em massa, ele já havia atentado contra a ordem
democrática, mas o regime o anistiou. Deram a Hitler em nome dos valores
democráticos o que ele jamais concederia a seus adversários em nome dos
valores nazistas.
Antes que se tornasse um homicida em massa, ele fundiu a chancelaria com a Presidência da República. E se fez silêncio.
Antes que se tornasse um homicida em massa, ele anexou a Áustria e a Renânia. E se fez silêncio.
Antes que
se tornasse um homicida em massa, ele já havia ordenado, em 1933, a
conversão de uma antiga fábrica de pólvora, em Dachau, num campo de
concentração. E se fez silêncio.
Antes que
se tornasse um homicida em massa, a França e a Inglaterra aceitaram que
anexasse a região dos Sudetos, na Tchecoslováquia. Assinaram com ele um
“acordo de paz”. E se fez silêncio. No ano seguinte, ele entrou em Praga
e começou a exigir parte da Polônia. Depois vieram Noruega, Dinamarca,
Holanda, França… É que haviam feito um excesso de silêncios.
– Silêncio quando, em 1º de abril de 1933, com dois meses de poder, os nazistas organizaram um boicote às lojas de judeus.
– Silêncio quando, no dia 7 de abril deste mesmo ano, os judeus foram proibidos de trabalhar para o governo alemão. Outros decretos se seguiram — foram 400 entre 1933 e 1939.
– Silêncio quando, neste mesmo abril, criam-se cotas nas universidades para alunos não alemães.
– Silêncio quando, em 1934, os atores judeus foram proibidos de atuar no teatro e no cinema.
– Silêncio quando, em 1935, os judeus perdem a cidadania alemã e se estabelecem laços de parentesco para definir essa condição.
– Silêncio quando, neste mesmo ano, tem início a transferência forçada de empresas de judeus para alemães, com preços fixados pelo governo.
– Silêncio quando, entre 1937 e 1938, os médicos judeus foram proibidos de tratar pacientes não judeus, e os advogados, impedidos de trabalhar.
– Silêncio quando os passaportes de judeus passaram a exibir um visível “j” vermelho: para que pudessem sair da Alemanha, mas não voltar.
– Silêncio quando homens que não tinham um prenome de origem judaica foram obrigados a adotar o nome “Israel”, e as mulheres, “Sara”.
– Silêncio quando, no dia 7 de abril deste mesmo ano, os judeus foram proibidos de trabalhar para o governo alemão. Outros decretos se seguiram — foram 400 entre 1933 e 1939.
– Silêncio quando, neste mesmo abril, criam-se cotas nas universidades para alunos não alemães.
– Silêncio quando, em 1934, os atores judeus foram proibidos de atuar no teatro e no cinema.
– Silêncio quando, em 1935, os judeus perdem a cidadania alemã e se estabelecem laços de parentesco para definir essa condição.
– Silêncio quando, neste mesmo ano, tem início a transferência forçada de empresas de judeus para alemães, com preços fixados pelo governo.
– Silêncio quando, entre 1937 e 1938, os médicos judeus foram proibidos de tratar pacientes não judeus, e os advogados, impedidos de trabalhar.
– Silêncio quando os passaportes de judeus passaram a exibir um visível “j” vermelho: para que pudessem sair da Alemanha, mas não voltar.
– Silêncio quando homens que não tinham um prenome de origem judaica foram obrigados a adotar o nome “Israel”, e as mulheres, “Sara”.
Os milhões
de mortos do nazismo, muito especialmente os seis milhões de judeus,
morreram foi de… SILÊNCIO. Morreram porque os que defendiam a ordem
democrática e os direitos fundamentais do homem mostraram-se incapazes
de denunciar com a devida presteza o regime de horror que estava em
curso.
Nos nossos dias
É pouco provável que aquelas barbaridades se repitam. Mas não se enganem. Oitenta anos depois, a democracia ainda é alvo de especulações as mais destrambelhadas. Cometei aqui a tese delinquente de certa senhora, estudiosa do Islã e aboletada na Universidade Harvard, segundo quem os islâmicos estão dando à luz uma nova democracia, que ela classifica de “iliberal”. Pois é… Em 1938, um ano antes do início da Segunda Guerra, cogitou-se o nome de Hitler para o Nobel da Paz. As leis raciais contra os judeus já estavam em vigência…
É pouco provável que aquelas barbaridades se repitam. Mas não se enganem. Oitenta anos depois, a democracia ainda é alvo de especulações as mais destrambelhadas. Cometei aqui a tese delinquente de certa senhora, estudiosa do Islã e aboletada na Universidade Harvard, segundo quem os islâmicos estão dando à luz uma nova democracia, que ela classifica de “iliberal”. Pois é… Em 1938, um ano antes do início da Segunda Guerra, cogitou-se o nome de Hitler para o Nobel da Paz. As leis raciais contra os judeus já estavam em vigência…
Aquela tal
senhora — Jocelyne Cesari — escreve, como quem diz “Bom dia!”, que essa
forma particular de democracia não implica necessariamente o fim da
discriminação religiosa ou de gênero. Dona Jocelyne acha possível chamar
de “democrático” um regime que segregue as pessoas por sua religião e
gênero…
Um
“intelectual” como Salavoj Zizek dedica-se a especular sobre as virtudes
do moderno terrorismo, conquista admiradores mundo afora, inclusive no
Brasil, e passa a ser uma referência do pensamento de esquerda. Reitero:
ele não está a falar na tal “redenção dos oprimidos”. Ele empresta
valor afirmativo a ações terroristas.
Mundo
afora, direitos individuais são solapados pelo Estado — em nome da
igualdade ou da reparação —, e a criação de leis que discriminam homens
segundo a cor de sua pele ou sua origem é vista como um avanço.
Programa
Não custa lembrar aqui algumas “exigências” do programa que os nazistas tinham para a Alemanha, que certamente deixam encantados alguns dos nossos esquerdistas ainda hoje — especialmente aqueles que defendem, como é mesmo?, o controle social da mídia. Eis aqui parte do que eles queriam para a Alemanha:
(…)
11. A supressão dos rendimentos a que não corresponda trabalho ou esforço, o fim da escravidão do juro;
Não custa lembrar aqui algumas “exigências” do programa que os nazistas tinham para a Alemanha, que certamente deixam encantados alguns dos nossos esquerdistas ainda hoje — especialmente aqueles que defendem, como é mesmo?, o controle social da mídia. Eis aqui parte do que eles queriam para a Alemanha:
(…)
11. A supressão dos rendimentos a que não corresponda trabalho ou esforço, o fim da escravidão do juro;
12.
Levando-se em conta os imensos sacrifícios em bens e em sangue derramado
que toda guerra exige do povo, o enriquecimento pessoal graças à guerra
deve ser qualificado de crime contra o povo. Exigimos, portanto, a
recuperação total de todos os lucros de guerra;
13. Exigimos a nacionalização de todas as empresas (já) estabelecidas como sociedades (trustes);
14. Exigimos participação nos lucros das grandes empresas;
15. Exigimos que se ampliem generosamente as aposentadorias;
16.
Exigimos a constituição e a manutenção de uma classe média sadia, a
estatização imediata das grandes lojas, e o seu aluguel a preços baixos a
pequenos comerciantes, cadastramento sistemático de todos os pequenos
comerciantes para atender às encomendas do Estado, dos Länder e das
comunas;
17.
Exigimos uma reforma agrária apropriada às nossas necessidades
nacionais, a elaboração de uma lei sobre a expropriação da terra sem
indenização por motivo de utilidade pública, a supressão da renda
fundiária e a proibição de qualquer especulação imobiliária;
18.
Exigimos uma luta impiedosa contra aqueles cujas atividades prejudicam o
interesse geral. Os infames criminosos contra o povo, agiotas,
traficantes etc. devem ser punidos com pena de morte, sem consideração
de credo ou raça;
19. Exigimos que se substitua o direito romano, que serve à ordem materialista, por um direito alemão;
20. Com o
fito de permitir a todo alemão capaz e trabalhador alcançar uma
instrução de alto nível e chegar assim ao desempenho de funções
executivas, deve o Estado empreender uma reorganização radical de todo o
nosso sistema de educação popular. Os programas de todos os
estabelecimentos de ensino devem ser adaptados às exigências da vida
prática. A assimilação dos conhecimentos de instrução cívica deve ser
feita na escola desde o despertar da inteligência. Exigimos a educação,
custeada pelo Estado, dos filhos – com destacados dotes intelectuais –
de pais pobres, sem se levar em conta a posição ou a profissão desses
pais;
21. O
Estado deve tomar a seu cargo o melhoramento da saúde pública mediante a
proteção da mãe e da criança, a proibição do trabalho infantil, uma
política de educação física que compreenda a instituição legal da
ginástica e do esporte obrigatórios, e o máximo auxílio possível às
associações especializadas na educação física dos jovens;
22. Exigimos a abolição do exército de mercenários e a formação de um exército popular;
23.
Exigimos que se lute pela lei contra a mentira política deliberada e a
sua divulgação através da imprensa. Para que se torne possível a
constituição de uma imprensa alemã, exigimos:
a) que todos os redatores e colaboradores de jornais editados em língua alemã sejam obrigatoriamente membros do povo (Volksgenossen);
b) que os jornais não-alemães sejam submetidos à autorização expressa do Estado para poderem circular. Que eles não possam ser impressos em língua alemã;
c) que toda participação financeira e toda influência de não-alemães sobre os jornais alemães sejam proibidas por lei, e exigimos que se adote como sanção para toda e qualquer infração o fechamento da empresa jornalística e a expulsão imediata dos não-alemães envolvidos para fora do Reich.
Os jornais que colidirem com o interesse geral devem ser interditados. Exigimos que a lei combata as tendências artísticas e literárias que exerçam influência debilitante sobre a vida do nosso povo, e o fechamento dos estabelecimentos que se oponham às exigências acima.
a) que todos os redatores e colaboradores de jornais editados em língua alemã sejam obrigatoriamente membros do povo (Volksgenossen);
b) que os jornais não-alemães sejam submetidos à autorização expressa do Estado para poderem circular. Que eles não possam ser impressos em língua alemã;
c) que toda participação financeira e toda influência de não-alemães sobre os jornais alemães sejam proibidas por lei, e exigimos que se adote como sanção para toda e qualquer infração o fechamento da empresa jornalística e a expulsão imediata dos não-alemães envolvidos para fora do Reich.
Os jornais que colidirem com o interesse geral devem ser interditados. Exigimos que a lei combata as tendências artísticas e literárias que exerçam influência debilitante sobre a vida do nosso povo, e o fechamento dos estabelecimentos que se oponham às exigências acima.
(…)
Começando a encerrar
Não, senhores! Qualquer semelhança com um programa de esquerda — e me digam quais esquerdistas não endossariam ainda hoje o que vai acima — não é mera coincidência. O fascismo, também na sua vertente nazista, sempre foi de esquerda nos seus fundamentos mais gerais. Erigiu, sim, uma concepção de poder e de organização de estado diferente daquelas estabelecidas pela Internacional Comunista e repudiava o entendimento que tinha esta do “internacionalismo”. Mas o ódio ao liberalismo econômico, à propriedade privada e às liberdades individuais era o mesmo.
Não, senhores! Qualquer semelhança com um programa de esquerda — e me digam quais esquerdistas não endossariam ainda hoje o que vai acima — não é mera coincidência. O fascismo, também na sua vertente nazista, sempre foi de esquerda nos seus fundamentos mais gerais. Erigiu, sim, uma concepção de poder e de organização de estado diferente daquelas estabelecidas pela Internacional Comunista e repudiava o entendimento que tinha esta do “internacionalismo”. Mas o ódio ao liberalismo econômico, à propriedade privada e às liberdades individuais era o mesmo.
Essa
cultura da “engenharia social”, que cassa direitos individuais em nome
de um estado reparador, ainda está muito presente no mundo. Como se
percebe, ela se estabelece oferecendo o paraíso na terra, um verdadeiro
reino de justiça e igualdade. Deu no que deu.
Neste
ponto, alguém poderia objetar: “O Reinaldo agora acha que a luta por
justiça resulta em fascismo…”. Não! O Reinaldo não acha isso. Pensa,
isto sim, que as tentações totalitárias manipulam o discurso da
igualdade para criar um ente de razão, estado ou partido, que busque
substituir a sociedade.
E não se
enganem: oitenta anos é quase nada na história humana. Não faz tanto
tempo assim. Em 1933, a humanidade já dispunha de boa parte da
literatura que vale a pena, de boa parte do pensamento que vale a pena,
de boa parte até mesmo do conhecimento científico que ainda hoje serve
de referência.
No entanto, o mundo viveu sob o signo da besta.
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