Seis anos depois de deixar a presidência do Senado acossado por denúncias de corrupção, Renan Calheiros manobra nos bastidores e se torna favorito para comandar o Congresso
Josie JeronimoSEMPRE NO TOPO
Só uma catástrofe pode tirar a vitória de Renan
eles recuaram, cientes da falta de votos para superar Renan. “Só entro na disputa se tiver a certeza da vitória”, blefou Luiz Henrique, praticamente jogando a toalha.
A recuperação de Renan e sua volta ao comando do Senado, seis anos depois de ser defenestrado da principal cadeira do Congresso, confirmam a máxima de que a Casa é uma espécie de associação entre amigos. O político disposto a atender aos anseios do “clube” se credencia politicamente até ser alçado ao poder. Na lógica desse modelo, só pode alcançar o posto máximo do Senado quem for capaz de conciliar os interesses – muitas vezes escusos e nem sempre salutares para a democracia – de todos. Conhecedor dos meandros e subterrâneos do Legislativo, Renan soube trilhar esse caminho com desenvoltura. Com a eleição de José Sarney (PMDB-AP) para a presidência da Casa, ele se rearticulou e voltou a ter o comando do PMDB e de partidos da base aliada. A retomada da força política de Renan ficou clara durante a CPI de Carlinhos Cachoeira, quando o governo precisou de seu partido e ele atuou para evitar maiores transtornos para aliados do Planalto durante as investigações. Teve êxito na iniciativa.
PODER
Com a eleição de Sarney para a presidência do Senado,
Renan voltou a ter o comando do PMDB
O gráfico do poder político de Renan sempre se moveu em ritmo de montanha-russa, desde que ele saiu da Assembleia Legislativa de Alagoas para o topo no Congresso. Quando foi eleito presidente do Senado, em 2005, o peemedebista estava longe de ser uma figura de currículo ilibado. Pesava em suas costas o passado de braço direito e líder de governo na curta gestão Fernando Collor, em 1990. Durante o impeachment do ex-presidente alagoano, Renan traiu Collor e ajudou a alimentar as denúncias contra o ex-tesoureiro Paulo César Farias. A estratégia de desvinculação da imagem funcionou. Em 1998, Renan saiu das páginas dos escândalos e deu a volta por cima ao ser nomeado ministro da Justiça no fim do primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso. Sua passagem pelo ministério, porém, durou pouco mais de um ano. A saída foi precipitada por conflitos com a cúpula da Polícia Federal.
Para se esquivar das denúncias que pesam contra ele e ainda carecem de explicação, Renan repete um mantra. Diz ter sido vítima de uma campanha de adversários que usaram “problemas pessoais” para atingi-lo. Por isso, hoje ele prefere manter a discrição. A atuação legislativa é planejada no sentido de evitar estardalhaços. Renan ajuda a acompanhar projetos de relevância ou de grande importância para o governo, mas evita relatorias de temas de apelo midiático que o obriguem a ter contato frequente com veículos de comunicação. Tomou horror a jornalistas. Atende todos que o procuram, mas usa a habilidade com as palavras para conversar durante muito tempo sem dizer nada. “Renan mente em off” tornou-se um bordão nos corredores do Congresso para resumir a rejeição do parlamentar ao contato com a imprensa. Aos mais próximos, Renan tem repetido que está “preparado emocionalmente” para ver ressuscitado seu histórico de escândalos. Para o político alagoano, tudo vale a pena quando a recompensa é a volta ao poder.
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