Este é o nome do esquema clandestino que o bicheiro Carlinhos Cachoeira utilizava para lavar milhões de dólares do seu grupo criminoso. O método é usado por grupos terroristas como a Al-Qaeda de Bin Laden. Saiba como ele funciona
Alan Rodrigues e Pedro Marcondes de MouraESQUEMA SOFISTICADO
Lavagem de dinheiro, proveniente do jogo ilegal,
era feita com base em sistema adotado
por terroristas internacionais
RELATOR
Odair Cunha (PT-MG) irá investigar empresas no Exterior
O relatório 163/2011 da Polícia Federal, parte integrante do processo que está no STF, apresenta com riqueza de detalhes o esquema de evasão de divisas montado por Cachoeira. Nele aparecem o ex-cunhado do contraventor, Adriano Conrado Caiado Viana Feitosa, Wesley José Carneiro e Geovani Pereira da Silva, segundo a PF, respectivamente, o doleiro e o contador do bicheiro, além de Lenine Araújo de Souza, gerente-geral de Cachoeira. Entre os milhares de e-mails interceptados – só de Pereira da Silva foram 15 mil e-mails –, a PF conseguiu constatar quem é quem no esquema Hawala. Às 0h14 do dia 5 de agosto de 2011, por exemplo, Conrado envia uma correspondência eletrônica para Lenine na qual deixa claro que o responsável do esquema para a Operação Hawala era o doleiro Wesley, preso na tarde da quarta-feira 25 em Goiás. “Não há necessidade de copiar Wesley nos e-mails, ele foi contratado somente para fazer a remessa de dinheiro”, disse Lenine. Em outros diálogos interceptados em maio de 2011 entre Gleib Ferreira da Cruz, segundo a PF, “o braço direito de Cachoeira para qualquer assunto na organização criminosa”, e Leide, irmã de Gleib, a quadrilha fornece mais elementos sobre o funcionamento do esquema: “O negócio é fazer a transferência sem causar problema. Precisa colocar o dólar aí no Brasil em real e você por aqui em dólar. Só trocando moeda, sem problema.” De acordo com o relatório da PF, “Gleib auxilia diretamente Carlos Augusto na alocação de recursos de suas atividades ilícitas na aquisição de bens, circulação de valores, no pagamento de terceiros, comparsas e/ou prestadores de serviços, na aquisição de telefones no Exterior; imóveis, de veículos e também nas operações não autorizadas de câmbio e na remessa de valores para fora do país”.
ESQUEMA BIN LADEN
Carlinhos Cachoeira baseou-se no modelo utilizado pela rede terrorista Al-Qaeda, criada por
Osama Bin Laden, para financiar atentados
Outra interceptação telefônica mostra que, por meio da Operação Hawala, Cachoeira celebrou negócios na China. Numa das conversas gravadas pela PF, Gleib conversa com Ananias, um policial militar de Goiás e segurança dos cassinos de Cachoeira, sobre as transações no continente asiático.
Ananias – Eu preciso fazer um pagamento na China, de duzentos mil dólares, sem declarar. Quanto cê cobra para pôr esse dinheiro lá pra mim?
Gleib – Vou ver. Duzentos mil?
Ananias – Duzentos mil. A máquina custa duzentos mil dólares. É um amigo meu, só que ele não quer para não declarar aqui pra eles. Cê me fala quanto cê cobra pra nós pôr esse dinheiro lá pro cara?
Gleib – Tá.
A partir desta conversa, a PF concluiu que “o uso extensivo de conexões, como relações familiares e societárias, é o componente que a distingue de outras formas de remessas. As regularizações de dívidas entre corretores Hawala podem tomar uma variedade de formas (como bens, serviços e propriedades)”. É com base nesses novos trechos do inquérito da PF que os parlamentares indicados para a CPI do Cachoeira pretendem dar a dimensão do esquema e chegar aos responsáveis pela lavagem do dinheiro sujo do jogo do bicho e da corrupção.
Antes mesmo de os trabalhos começarem, as investigações já causam desdobramentos. Na quarta-feira 25, Fernando Cavendish, presidente do conselho diretor da Delta, e Carlos Pacheco, diretor da construtora, pediram afastamento da empresa após as investigações indicarem elo entre eles e o pagamento de propina para autoridades de diversos escalões. No meio político, o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), passou a ser alvo de investigações da Procuradoria-Geral da República, junto com os deputados federais Carlos Leréia (PSDB-GO), Sandes Júnior (PP-GO) e Stepan Nercessian (PPS-RJ), por suspeitas de ter se beneficiado do esquema criminoso, que a cada dia revela novos tentáculos.
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