Insatisfeito com gestão na Embraer, o governo intervém para que a fabricante atenda aos seus interesses estratégicos. Nos últimos seis meses, 17 executivos deixaram a empresa
Claudio Dantas SequeiraRAZÕES POLÍTICAS
Saída do engenheiro Maurício Botelho do conselho de administração
da Embraer, em janeiro deste ano, não foi fato isolado
Um dos indícios mais fortes do movimento do Palácio do Planalto para influir nos rumos da Embraer foi a eleição do secretário do Tesouro, Arno Augustin, como conselheiro titular da companhia. Disposta a retomar o segundo assento a que o governo tinha direito no conselho de administração da Embraer, a presidenta Dilma Rousseff indicou para o cargo alguém de estreita confiança, figura de proa do PT gaúcho e contemporâneo dela na gestão Olívio Dutra (1999-2002), no Rio Grande do Sul. No conselho da Embraer, o governo tem mais uma cadeira, ocupada por representante da FAB, que exerce papel estratégico por meio de uma golden share.
A influência do governo na empresa é tabu e
ninguém fala oficialmente a respeito. Antes de ser demitido em
novembro, porém, Orlando Neto esteve em Brasília com o ministro da
Defesa, Celso Amorim, que cobrou uma contrapartida da Embraer aos
investimentos que o governo tem feito na área de Defesa da empresa.
Desde 2009, quando foi lançado o projeto do cargueiro militar KC-390, a
Embraer já recebeu mais de R$ 1 bilhão em repasses federais. Apesar da
pressão, a fabricante prefere não ousar, acuada pela crise no setor de
jatos comerciais. Negou-se a apostar em parcerias negociadas pelo
governo com outros países para o desenvolvimento de novos produtos.
Rejeitou ajuda dos franceses da EADS para resolver um problema de
projeto da porta traseira do KC e não aceitou a proposta da Índia de
desenvolver uma aeronave-patrulha com maior autonomia e capacidade
antissubmarino. Preferiu se dedicar a um projeto mais simples de
aviões-radar. Os indianos acabaram comprando dos Estados Unidos.
“Uma empresa como a Embraer deve ser gerida por princípios do mercado, para ter competitividade, mas responder aos interesses estratégicos do Estado”, sintetiza o coronel reformado Geraldo Cavagnari, da Unicamp. Dentro dessa lógica, Salvador Raza, professor de planejamento estratégico do Centro para Estudos de Defesa Hemisférica, da National Defense University, em Washington, alerta que a produção de Super Tucanos e o projeto do cargueiro KC-390 não são suficientes para garantir o futuro da Embraer. A perda do contrato para os EUA, por exemplo, reduziu ainda mais as chances de popularizar a aeronave de ataque no mundo. E o KC enfrentará o poderoso lobby americano da Lockheed Martin, com o consagrado C-130J. “A empresa não está conseguindo gerar uma visão estratégica que faça sentido do ponto de vista comercial e industrial na área de defesa, e tampouco consegue alinhar-se aos interesses do governo”, avalia Raza. Para o especialista, as demissões são “o remédio errado para a doença errada” e só agravará o problema. “Trazer gente do governo para dentro da empresa é legítimo, mas o problema da Embraer é que ela não consegue gerar um sistema de defesa que seja competitivo em nível internacional”, diz. Ele acredita numa ruptura irreversível, caso não haja uma mudança real em quatro meses.
“Uma empresa como a Embraer deve ser gerida por princípios do mercado, para ter competitividade, mas responder aos interesses estratégicos do Estado”, sintetiza o coronel reformado Geraldo Cavagnari, da Unicamp. Dentro dessa lógica, Salvador Raza, professor de planejamento estratégico do Centro para Estudos de Defesa Hemisférica, da National Defense University, em Washington, alerta que a produção de Super Tucanos e o projeto do cargueiro KC-390 não são suficientes para garantir o futuro da Embraer. A perda do contrato para os EUA, por exemplo, reduziu ainda mais as chances de popularizar a aeronave de ataque no mundo. E o KC enfrentará o poderoso lobby americano da Lockheed Martin, com o consagrado C-130J. “A empresa não está conseguindo gerar uma visão estratégica que faça sentido do ponto de vista comercial e industrial na área de defesa, e tampouco consegue alinhar-se aos interesses do governo”, avalia Raza. Para o especialista, as demissões são “o remédio errado para a doença errada” e só agravará o problema. “Trazer gente do governo para dentro da empresa é legítimo, mas o problema da Embraer é que ela não consegue gerar um sistema de defesa que seja competitivo em nível internacional”, diz. Ele acredita numa ruptura irreversível, caso não haja uma mudança real em quatro meses.
Na área civil, a fabricante brasileira já
sofre com a proliferação de jatos executivos e aviões comerciais médios.
Uma parceria com a Bombardier foi cogitada na visita do
governador-geral do Canadá, David Johnston, a Brasília na semana
passada. Mas o presidente da Embraer, Frederico Curado, no cargo desde
2007, acha prematuro disputar mercado com gigantes como a Airbus e a
Boeing, e não vê necessidade de promover um ajuste de rota.
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