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domingo, 29 de abril de 2012

Embraer sob controle

Insatisfeito com gestão na Embraer, o governo intervém para que a fabricante atenda aos seus interesses estratégicos. Nos últimos seis meses, 17 executivos deixaram a empresa

Claudio Dantas Sequeira
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RAZÕES POLÍTICAS
Saída do engenheiro Maurício Botelho do conselho de administração
da Embraer, em janeiro deste ano, não foi fato isolado
Privatizada em 1994, a Embraer em quase duas décadas experimentou um crescimento vertiginoso e passou a ocupar a liderança mundial do mercado de jatos comerciais de pequeno e médio porte. Em parceria com a FAB, transformou o Super Tucano numa bem-sucedida aeronave de ataque leve. Essa trajetória ascendente sempre foi atribuída ao comando do engenheiro mecânico Maurício Botelho. Ele entrou na empresa em 1995, assumiu a presidência em 2007, mas saiu de lá em janeiro, após renunciar ao conselho de administração. Embora tenha alegado “razões pessoais”, a saída de Botelho não foi um fato isolado. Nos últimos seis meses, pelo menos 17 executivos deixaram seus cargos, entre eles o vice-presidente para a área de Defesa e Segurança, Orlando Ferreira Neto, e o diretor de Inteligência de Mercado, Fernando Ikedo. A Embraer, que mantém reserva sobre boa parte das mudanças, sustenta que se trata de um “turnover natural”. Mas fontes do setor e ex-funcionários ouvidos por ISTOÉ classificam as trocas como uma espécie de “intervenção branca”. O governo federal estaria insatisfeito com o que considera uma “gestão conservadora” da turma de Botelho.

Um dos indícios mais fortes do movimento do Palácio do Planalto para influir nos rumos da Embraer foi a eleição do secretário do Tesouro, Arno Augustin, como conselheiro titular da companhia. Disposta a retomar o segundo assento a que o governo tinha direito no conselho de administração da Embraer, a presidenta Dilma Rousseff indicou para o cargo alguém de estreita confiança, figura de proa do PT gaúcho e contemporâneo dela na gestão Olívio Dutra (1999-2002), no Rio Grande do Sul. No conselho da Embraer, o governo tem mais uma cadeira, ocupada por representante da FAB, que exerce papel estratégico por meio de uma golden share.
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A influência do governo na empresa é tabu e ninguém fala oficialmente a respeito. Antes de ser demitido em novembro, porém, Orlando Neto esteve em Brasília com o ministro da Defesa, Celso Amorim, que cobrou uma contrapartida da Embraer aos investimentos que o governo tem feito na área de Defesa da empresa. Desde 2009, quando foi lançado o projeto do cargueiro militar KC-390, a Embraer já recebeu mais de R$ 1 bilhão em repasses federais. Apesar da pressão, a fabricante prefere não ousar, acuada pela crise no setor de jatos comerciais. Negou-se a apostar em parcerias negociadas pelo governo com outros países para o desenvolvimento de novos produtos. Rejeitou ajuda dos franceses da EADS para resolver um problema de projeto da porta traseira do KC e não aceitou a proposta da Índia de desenvolver uma aeronave-patrulha com maior autonomia e capacidade antissubmarino. Preferiu se dedicar a um projeto mais simples de aviões-radar. Os indianos acabaram comprando dos Estados Unidos.

“Uma empresa como a Embraer deve ser gerida por princípios do mercado, para ter competitividade, mas responder aos interesses estratégicos do Estado”, sintetiza o coronel reformado Geraldo Cavagnari, da Unicamp. Dentro dessa lógica, Salvador Raza, professor de planejamento estratégico do Centro para Estudos de Defesa Hemisférica, da National Defense University, em Washington, alerta que a produção de Super Tucanos e o projeto do cargueiro KC-390 não são suficientes para garantir o futuro da Embraer. A perda do contrato para os EUA, por exemplo, reduziu ainda mais as chances de popularizar a aeronave de ataque no mundo. E o KC enfrentará o poderoso lobby americano da Lockheed Martin, com o consagrado C-130J. “A empresa não está conseguindo gerar uma visão estratégica que faça sentido do ponto de vista comercial e industrial na área de defesa, e tampouco consegue alinhar-se aos interesses do governo”, avalia Raza. Para o especialista, as demissões são “o remédio errado para a doença errada” e só agravará o problema. “Trazer gente do governo para dentro da empresa é legítimo, mas o problema da Embraer é que ela não consegue gerar um sistema de defesa que seja competitivo em nível internacional”, diz. Ele acredita numa ruptura irreversível, caso não haja uma mudança real em quatro meses.
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Na área civil, a fabricante brasileira já sofre com a proliferação de jatos executivos e aviões comerciais médios. Uma parceria com a Bombardier foi cogitada na visita do governador-geral do Canadá, David Johnston, a Brasília na semana passada. Mas o presidente da Embraer, Frederico Curado, no cargo desde 2007, acha prematuro disputar mercado com gigantes como a Airbus e a Boeing, e não vê necessidade de promover um ajuste de rota.

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