Com os serviços subindo bem mais que o preço dos produtos, em muitos casos já nem compensa mandar arrumar o que está com defeito
A
disparada dos preços dos serviços provoca distorções entre o valor do
produto e de seu conserto. Muitas vezes compensa mais comprar um
refrigerador novo do que levar para a assistência técnica o antigo que
está com defeito. Levar um vestido à costureira ou um calçado à
sapataria equivale a tirar do bolso quase o mesmo valor desembolsado
pela peça. Mesmo em bens duráveis de maior valor, o serviço pode causar
dor de cabeça: levar o carro na oficina ficou em média 9,56% mais caro
nos últimos 12 meses, enquanto os preços dos veículos tiveram queda de
até 6,3%.
Sustentados principalmente pelo aumento da demanda e dos custos com mão de obra, os preços dos serviços sobem com força desde 2010. No período de 12 meses encerrado em março, eles subiram 8,71%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é medido pelo IBGE e serve de referência para o regime de metas de inflação. O índice geral de inflação ficou em 5,24% na mesma comparação.
Quanto maior a renda, maior a pressão e o peso dos serviços sobre as contas, diz o professor Christian Luiz da Silva, professor de Economia da UTFPR. As famílias das classes A e B chegam a gastar mais da metade do orçamento com serviços como educação, telecomunicações, estacionamento, entretenimento e alimentação fora de casa. “Por isso que famílias dessas classes sentem que a sua inflação é maior do que a do índice geral”, explica.
Segundo o professor, uma característica do setor de serviços é que o preço está, na maioria das vezes, associado a características como qualidade e confiabilidade. Por isso, é muito mais fácil trocar a marca do arroz ou do feijão que mudar de cabeleireiro ou de médico, por exemplo.
Silva diz que mudanças de hábitos de consumo, principalmente da classe C – que passou a ir a restaurantes, frequentar mais cinemas e a usufruir de serviços de comunicação –, vêm estimulando esse tipo de atividade no país. O setor de serviços representa hoje 67% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
O Índice de Custo de Vida da Classe Média (ICVM) teve aumento de 0,2% em março, ante deflação de 0,02% em fevereiro. Apesar disso, a inflação do mês passado ficou abaixo da verificada em igual período de 2011 (0,34%).
No acumulado de 12 meses, o ICVM recuou de 4,87% em fevereiro para 4,72% em março. Além de estar mais fraco, o índice atual é mais baixo que o da inflação geral medida pelo IPCA – que registra alta de 5,24% em 12 meses.
A informação é da Ordem dos Economistas do Brasil (OEB), que utiliza como base de cálculo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), abrangendo consumidores com renda entre cinco e 15 salários mínimos.
O único dos sete grupos do ICVM a apresentar variação negativa em março foi o de Despesas Pessoais, com recuo de 0,42%. A alta mais importante foi a de Alimentação (0,68%).
Agência Estado
A diferença de preços entre produtos e serviços cai também
porque alguns bens têm registrado deflação, ou seja, estão ficando mais
baratos – caso dos eletroeletrônicos e eletrodomésticos. No último ano, o
preço de um refrigerador novo caiu em média 3,72%, enquanto que o custo
do conserto subiu 9,12%. Um televisor está em média 17,38% mais barato,
ao passo que o conserto está 7,52% mais caro.
Nova demanda
Para Daniel Lima, analista da Rosenberg Consultores Associados, o aumento do número de pessoas na classe C gerou uma nova demanda para o setor de serviços. “Como são atividades que não são monitoradas, elas refletem mais a pressão da demanda sobre a oferta. E mais pessoas estão consumindo serviços”, diz.
A inflação de serviços deu sinais de arrefecimento mais recentemente: seu avanço caiu de 1,25% em fevereiro para 0,52% em março. Desde janeiro o ritmo de alta vem diminuindo, mas a projeção dos analistas é que ela deve voltar a ganhar velocidade nos próximos meses, embalada pelo baixo nível de desemprego e pelo aumento do salário mínimo. “Mesmo com o aumento de preços, o emprego em alta e a renda ainda fazem com que as pessoas tenham confiança e continuem a consumir”, diz Lima. A Rosenberg estima que a inflação de serviços fique em 8,6% em 2012, para um IPCA cheio de 5,2%.
Lucas Dezordi, economista-chefe da Inva Capital, estima que, por pelo menos mais dois anos, o Brasil vai conviver com a inflação dos serviços superior à média geral. O crescimento da economia e do crédito a partir de 2009, juntamente com o baixo nível de desemprego, colocaram o país em um outro patamar de consumo. “A inflação dos serviços é um fenômeno comum aos países em desenvolvimento” afirma.
Menos fôlego
O setor de serviços tem como característica uma facilidade maior para repassar ao consumidor a alta dos custos de mão de obra, já que não enfrenta a concorrência com importados, como é o caso da indústria. Segundo Dezordi, porém, a pressão dessas despesas tende a perder fôlego. “Os salários subiram a um ritmo de 10% ao ano. Mas acredito que essa taxa deva cair para 5%”, diz.
Por isso, na avaliação do economista, a inflação do setor de serviços deve perder um pouco o fôlego até o próximo ano, apesar de ainda estar acima da média. “Acredito que em um ano, mantidas as condições atuais de demanda e emprego, ela deva convergir para algo próximo de 6%”, diz.
Preço alto faz consumidor mudar hábitos
A alta dos preços dos serviços faz com que muitos consumidores mudem hábitos de consumo e prefiram descartar o produto com defeito e comprar um novo.
Foi o que fez o comerciante Francesco Iannuzzi. Sua impressora doméstica tinha parado de puxar papel e ele procurou uma oficina para consertar o produto. “O orçamento do serviço era de R$ 95. A minha sorte foi que, a caminho da assistência técnica, passei por uma loja e vi novos modelos sendo vendidos a R$ 105”, lembra. Além de custar quase o mesmo preço do reparo, o novo modelo é mais moderno e ocupa menos espaço. “O cálculo que estou habituado a fazer é que, se o serviço custa mais do que 60% do valor do produto, não vale a pena fazer o conserto”, explica Iannuzzi.
Algo semelhante ocorre com peças de roupa e calçados. A psicóloga Tatiana Kugler conta que já pagou o valor integral de alguns produtos só para ajustá-los. “Sou muito magra e sempre que compro botas preciso remodelar o cano do calçado”, explica. Ela já chegou a gastar R$ 80 com o ajuste de um sapato novo, mais que os R$ 70 que pagou pelo produto.
Tatiana conta que, sempre que se interessa por alguma peça, calcula o valor do serviço para ver se vale a pena fechar a compra. Ela já pensou em comprar uma máquina de costura para fazer reparos mais simples. “Tenho o mesmo problema com calças, e cada dia está mais caro arrumá-las.”
Colaborou Pedro Brodbeck, especial para a Gazeta do Povo
Sustentados principalmente pelo aumento da demanda e dos custos com mão de obra, os preços dos serviços sobem com força desde 2010. No período de 12 meses encerrado em março, eles subiram 8,71%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é medido pelo IBGE e serve de referência para o regime de metas de inflação. O índice geral de inflação ficou em 5,24% na mesma comparação.
Orçamento
Serviços pesam mais nas contas dos mais ricosQuanto maior a renda, maior a pressão e o peso dos serviços sobre as contas, diz o professor Christian Luiz da Silva, professor de Economia da UTFPR. As famílias das classes A e B chegam a gastar mais da metade do orçamento com serviços como educação, telecomunicações, estacionamento, entretenimento e alimentação fora de casa. “Por isso que famílias dessas classes sentem que a sua inflação é maior do que a do índice geral”, explica.
Segundo o professor, uma característica do setor de serviços é que o preço está, na maioria das vezes, associado a características como qualidade e confiabilidade. Por isso, é muito mais fácil trocar a marca do arroz ou do feijão que mudar de cabeleireiro ou de médico, por exemplo.
Silva diz que mudanças de hábitos de consumo, principalmente da classe C – que passou a ir a restaurantes, frequentar mais cinemas e a usufruir de serviços de comunicação –, vêm estimulando esse tipo de atividade no país. O setor de serviços representa hoje 67% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
Pesquisa
Inflação da classe média está mais fracaO Índice de Custo de Vida da Classe Média (ICVM) teve aumento de 0,2% em março, ante deflação de 0,02% em fevereiro. Apesar disso, a inflação do mês passado ficou abaixo da verificada em igual período de 2011 (0,34%).
No acumulado de 12 meses, o ICVM recuou de 4,87% em fevereiro para 4,72% em março. Além de estar mais fraco, o índice atual é mais baixo que o da inflação geral medida pelo IPCA – que registra alta de 5,24% em 12 meses.
A informação é da Ordem dos Economistas do Brasil (OEB), que utiliza como base de cálculo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), abrangendo consumidores com renda entre cinco e 15 salários mínimos.
O único dos sete grupos do ICVM a apresentar variação negativa em março foi o de Despesas Pessoais, com recuo de 0,42%. A alta mais importante foi a de Alimentação (0,68%).
Agência Estado
Nova demanda
Para Daniel Lima, analista da Rosenberg Consultores Associados, o aumento do número de pessoas na classe C gerou uma nova demanda para o setor de serviços. “Como são atividades que não são monitoradas, elas refletem mais a pressão da demanda sobre a oferta. E mais pessoas estão consumindo serviços”, diz.
A inflação de serviços deu sinais de arrefecimento mais recentemente: seu avanço caiu de 1,25% em fevereiro para 0,52% em março. Desde janeiro o ritmo de alta vem diminuindo, mas a projeção dos analistas é que ela deve voltar a ganhar velocidade nos próximos meses, embalada pelo baixo nível de desemprego e pelo aumento do salário mínimo. “Mesmo com o aumento de preços, o emprego em alta e a renda ainda fazem com que as pessoas tenham confiança e continuem a consumir”, diz Lima. A Rosenberg estima que a inflação de serviços fique em 8,6% em 2012, para um IPCA cheio de 5,2%.
Lucas Dezordi, economista-chefe da Inva Capital, estima que, por pelo menos mais dois anos, o Brasil vai conviver com a inflação dos serviços superior à média geral. O crescimento da economia e do crédito a partir de 2009, juntamente com o baixo nível de desemprego, colocaram o país em um outro patamar de consumo. “A inflação dos serviços é um fenômeno comum aos países em desenvolvimento” afirma.
Menos fôlego
O setor de serviços tem como característica uma facilidade maior para repassar ao consumidor a alta dos custos de mão de obra, já que não enfrenta a concorrência com importados, como é o caso da indústria. Segundo Dezordi, porém, a pressão dessas despesas tende a perder fôlego. “Os salários subiram a um ritmo de 10% ao ano. Mas acredito que essa taxa deva cair para 5%”, diz.
Por isso, na avaliação do economista, a inflação do setor de serviços deve perder um pouco o fôlego até o próximo ano, apesar de ainda estar acima da média. “Acredito que em um ano, mantidas as condições atuais de demanda e emprego, ela deva convergir para algo próximo de 6%”, diz.
Preço alto faz consumidor mudar hábitos
A alta dos preços dos serviços faz com que muitos consumidores mudem hábitos de consumo e prefiram descartar o produto com defeito e comprar um novo.
Foi o que fez o comerciante Francesco Iannuzzi. Sua impressora doméstica tinha parado de puxar papel e ele procurou uma oficina para consertar o produto. “O orçamento do serviço era de R$ 95. A minha sorte foi que, a caminho da assistência técnica, passei por uma loja e vi novos modelos sendo vendidos a R$ 105”, lembra. Além de custar quase o mesmo preço do reparo, o novo modelo é mais moderno e ocupa menos espaço. “O cálculo que estou habituado a fazer é que, se o serviço custa mais do que 60% do valor do produto, não vale a pena fazer o conserto”, explica Iannuzzi.
Algo semelhante ocorre com peças de roupa e calçados. A psicóloga Tatiana Kugler conta que já pagou o valor integral de alguns produtos só para ajustá-los. “Sou muito magra e sempre que compro botas preciso remodelar o cano do calçado”, explica. Ela já chegou a gastar R$ 80 com o ajuste de um sapato novo, mais que os R$ 70 que pagou pelo produto.
Tatiana conta que, sempre que se interessa por alguma peça, calcula o valor do serviço para ver se vale a pena fechar a compra. Ela já pensou em comprar uma máquina de costura para fazer reparos mais simples. “Tenho o mesmo problema com calças, e cada dia está mais caro arrumá-las.”
Colaborou Pedro Brodbeck, especial para a Gazeta do Povo
Nenhum comentário:
Postar um comentário