E US$ 1 bilhão. A compra do Instagram pelo Facebook reforça a tendência de uma internet cada vez mais visual e agita as redes sociais
Larissa Veloso
BOLADA
O brasileiro Mike Krieger (à esq.) e o americano Kevin Systrom, criadores do Instagram
Mais um negócio bilionário fechado por Mark Zuckerberg ganhou as manchetes do mundo digital na última semana. Muitos especulam o motivo que levou o Facebook à aquisição do serviço de compartilhamento de imagens Instagram por US$ 1 bilhão. Para alguns, o site, que já tem 30 milhões de adeptos, estava roubando usuários da rede social. Há também quem aposte que a compra vai aprimorar o acesso ao Facebook via smartphones – um velho ponto fraco do time de Zuckerberg.
Seja lá qual for o motivo por trás da transação, ela dá mais um empurrão em uma tendência que vem movimentando o mundo digital nos últimos anos. O fato é que temos cada vez mais fotos, vídeos e ilustrações na internet, e cada vez menos palavras escritas. Afinal, praticamente todos nós carregamos uma câmera no bolso. “Até o final do século XX as pessoas filmavam e fotografavam os outros. Hoje todo mundo adora se filmar, fazer autorretratos. O Instagram é uma dádiva para os medíocres, deixa qualquer imagem esperta, especial”, analisa o designer Ricardo van Steen, diretor de arte da revista “Select”, publicada pela Editora Três.
As últimas mudanças nas redes sociais e a popularidade crescente dos sites de compartilhamento de imagens (leia quadro) são adaptações a esse novo modo de ver o mundo. Prova disso é o mais recente fenômeno da internet, o Pinterest. Criado para funcionar como um mural de fotos e recortes inspiradores, o serviço passou a aceitar vídeos, atingiu a marca dos 10 milhões de perfis e se tornou a terceira rede social mais popular nos EUA, atrás apenas do Facebook e do Twitter.
WEB VISUAL
Novo fenômeno da rede, o Pinterest (acima) funciona como um mural
de cortiça. Ao lado, a página do criador do Facebook, Mark Zuckerberg
Com seus cliques, o que os 40 milhões de usuários do Instagram e do Pinterest dizem é: ver fotos bonitas é muito mais interessante do que absorver o mesmo conteúdo na forma de palavras. Para quem encara os quatro mil caracteres desta reportagem, essa frase pode soar radical. Mas acredite, seu interesse não seria o mesmo se não tivéssemos fotografias de qualidade e um infográfico atrativo na mesma página.
Quem afirma isso são os cientistas. “Nossos cérebros estão conectados para fazer as coisas o mais rapidamente possível. As imagens ajudam o processo”, explica o especialista inglês em psicologia digital e autor de quase 30 livros sobre o assunto Graham Jones. Um exemplo: se alguém publica uma foto de si mesmo em uma montanha coberta de neve vestindo um par de esquis, automaticamente pensamos que a pessoa está curtindo férias em outro país e resolveu praticar o esporte. Uma conclusão que leva menos de um segundo.
Se, em vez da foto, porém, a pessoa posta um relato escrito sobre a viagem, o caminho fica muito mais longo. Nosso cérebro tem que chegar ao ponto do texto onde está a descrição, decodificar as palavras e juntar as diversas informações para chegar ao todo. Para nossa mente, esse é um longo caminho e, bem, nosso cérebro prefere os atalhos. “Essa é outra razão pela qual as imagens em redes sociais são tão populares – elas nos ajudam a usar nossos cérebros da forma como eles querem trabalhar”, diz Jones.
A invasão das fotos é só o começo. Especialistas apostam que o vídeo será o grande meio de comunicação da internet em breve. “Muitas pessoas já usam o Pinterest para compartilhar imagens em movimento. Segundo uma pesquisa da Cisco, em dois anos, 91% do conteúdo da internet será nesse formato”, afirma Gil Giardelli, consultor de redes sociais da empresa Gaia Creative.
Para ele, esse formato estimula a co-criação. Basta lembrar de quantas paródias existem com vídeos famosos no YouTube. Mas as novas gerações já estão indo além. “Meu filho de 12 anos não usa o Google para fazer buscas. Ele pesquisa tudo que quer saber direto no YouTube, porque sempre quer ver a cara da coisa”, conta o diretor de criação da agência de conteúdo digital Gynga, André Felipe. Mas o comportamento dos mais novos também preocupa. Num mundo em que as palavras estão se escondendo atrás das fotografias, como as novas gerações vão encarar a leitura? “Tenho medo de que isso gere uma exclusão social no futuro, entre os que têm cultura suficiente para escrever um texto e os que não têm”, pondera Felipe.
Mas há quem tenha uma visão mais otimista. “Reduzir a quantidade de texto escrito não está nos tornando estúpidos, mas, sim, nos ajuda a nos comunicar melhor e mais rapidamente. Além disso, nunca iremos nos livrar totalmente das palavras”, diz Jones. Que as letras são fundamentais para se viver em sociedade, isso não se discute. O que resta saber é se vamos preferir olhar as figuras em vez de ler o livro.
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