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sexta-feira, 27 de abril de 2012

Pesquisa dá nota 5,7 para calçadas de 12 capitais brasileiras

Obstáculos nas áreas destinadas a pedestres foram a maior reclamação das pessoas. Curitiba teve a 3ª melhor avaliação.
Em uma escala de 0 a 10, as calçadas de 12 capitais brasileiras receberam, em média, nota 5,7. O resultado é pior do que esperavam os coordenadores do levantamento, feito pelo portal Mobilize Brasil, um movimento social em prol da mobilidade urbana. O estudo concluiu que, de maneira geral, nenhuma cidade é exemplar no trato com os passeios e que as prefeituras não fazem a manutenção correta dos espaços destinados aos pedestres.
Das 102 calçadas avaliadas nos pontos de maior circulação das cidadas, apenas 21 tiveram pontuação média acima de 8,0. A presença de obstáculos, como postes, troncos de árvores, orelhões e lixeiras, foi o item pior avaliado, com média de 4,6, ao lado de problemas de paisagismo, que impactam na proteção e conforto dos pedestres, também com 4,6.
Josué Teixeira/ Gazeta do Povo
Josué Teixeira/ Gazeta do Povo / Entulho cobre a calçada na Rua XV de Novembro, em Ponta Grossa: quatro anos de descaso 
Entulho cobre a calçada na Rua XV de Novembro, em Ponta Grossa: quatro anos de descaso
As escolhidas
Conheça as cinco ruas analisadas em Curitiba e as respectivas pontuações:
Praça Rui Barbosa
Nota: 8,0
Concentra muitas linhas de ônibus e, portanto, tem intensa movimentação de pessoas. Existem adaptações e sinalizações que auxiliam idosos e portadores de deficiência.
Rodoferroviária
Nota: 7,6
Em reformas anteriores, teve seu calçamento adaptado para portadores de deficiência. Mas nas calçadas do entorno há obstáculos como raízes de árvores e buracos, prejudicando quem passa com mala de rodinhas.
Rua XV de Novembro
Nota: 7,5
Corta a cidade e é considerada um dos pontos turísticos. Por ser construída em petit-pavé, é considerada inadequada para portadores de deficiência.
Rua Padre Anchieta
Nota: 5,8
Com boa arborização no canteiro central, não repete o mesmo padrão nas calçadas, que são estreitas e possuem obstáculos como pontos de lixo e postes.
Rua Brigadeiro Franco
Nota: 5,1
Cruza a cidade no sentido leste-oeste e tem alto tráfego de pedestres. Houve demora no rebaixamento de guias para a adaptação às normas de acessibilidade. Rua está sendo reformada.
Na internet
A Gazeta do Povo perguntou aos internautas qual a opinião sobre as calçadas e o resultado da pesquisa. Confira alguns comentários feitos no blog Vida e Cidadania:
“As calçadas de Curitiba não estão em terceiro lugar. São as primeiras do Brasil. Próprias para virar os pés, torcer tornozelos, destroncar joelhos e machucar colunas. Uma beleza!!!”
Leônidas Kravetz
“Curitiba tem péssimas calçadas, desniveladas, há buracos e a maioria está em péssimo estado. Aqui não dá para andar sem olhar para baixo senão você tropeça ou cai em um buraco na menor distração.”
Patrícia Sales
“Piada! Se cada pedestre que sofresse um acidente nas calçadas de Curitiba processasse a prefeitura, o município estaria falido!”
Marcos
Já a falta de rampas de acesso a pessoas com mobilidade reduzida, como cadeirantes e pessoas com carrinho de bebê, ficou com nota 5,2. Na média, os passeios foram construídos há mais de 50 anos e, mesmo com a intervenção de concessionárias de água e telefone, por exemplo, não foram reformados de maneira correta.
Conforme o coordenador do estudo, Marcos de Sousa, a mobilidade urbana sustentável depende de boas calçadas. “Andar a pé ou de bicicleta são as formas de transporte menos impactantes ao meio ambiente”, explica.
Segundo o Instituto Bra­­sileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 30% dos trajetos cotidianos são feitos a pé. O levantamento foi feito entre fevereiro e o início de abril deste ano e marca o início da campanha Calçadas do Brasil. A ideia é que as pessoas entrem no site do movimento (www.mobilize.org.br) e continuem o mapeamento das principais calçadas do país, enviando fotos e comentários.
Terceiro lugar
Curitiba teve a terceira melhor média entre as capitais pesquisadas. A cidade alcançou nota 6,83 no levantamento, atrás de Fortaleza (7,60) e Belo Horizonte (7,05). Dos pontos avaliados na capital paranaense, a Rua Brigadeiro Franco teve o conceito mais baixo, com 5,13 (a pesquisa foi feita durante a reforma realiza pela prefeitura que está em via de ser concluída). Já a Praça Rui Barbosa ganhou a nota mais alta: 8,0.
Conforme a assessoria de imprensa da prefeitura de Curitiba, de 2005 até o ano passado foram reformados 400 quilômetros de calçadas. A meta para até o final deste ano é consertar mais 160 quilômetros de passeios. Todos os reparos são feitos visando ao novo padrão de calçamento, com pista tátil, rampas e sinalização.
O melhor passeio do país fica na Avenida Faria Lima, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, que tirou nota 10, enquanto que o local com o conceito mais baixo está na Ladeira do Forte, em Salvador, com nota 2,5.
A pesquisa avaliou passeios apenas em pontos estratégicos das capitais, mas Sousa diz acreditar que a situação deve ser pior em periferias e no interior do país. “As cidades precisam de calçadas mais gostosas”, diz, lembrando que dessa forma, aliando o incentivo ao transporte coletivo, é possível evitar o trânsito caótico e melhorar o meio ambiente.
Passeios viram armadilhas no interior do PR
Embora não tenham sido alvo da pesquisa, algumas cidades do interior do Paraná também sofrem com a má conservação das calçadas. Em Ponta Grossa (Campos Gerais), a XV de Novembro, tradicional pelo charme do casario antigo, é uma das ruas que mais causa transtornos ao pedestre. A poucos metros da esquina com a Rua Sete de Setembro, entulhos resultantes do desabamento de um imóvel, ocorrido em janeiro de 2008, ainda estão no local e ocupam mais da metade da largura da calçada por um trecho de aproximadamente dez metros.
Há dois anos, a professo­ra aposentada Jaqueline Gon­­çalves caminhava pelo local quando tropeçou e torceu o tornozelo. “Não entendo porque esses restos ainda estão ali. As pessoas vivem tropeçando e disputando espaço com os carros”, ressalta. A prefeitura já notificou os donos do imóvel, mas o caso está na Justiça e a retirada do entulho depende de decisão judicial.
Em Foz do Iguaçu, a prefeitura lançou há sete anos o Projeto Calçadas. A iniciativa pretendia padronizar os passeios e solucionar os problemas de acessibilidade, estética e permeabilidade do solo, mas esbarrou em obstáculos, como falhas na execução e custos inacessíveis para moradores e comerciantes.
Em Cascavel, um programa lançado pela prefeitura em 2011 ainda não gerou resultados. Mais da metade das calçadas da cidade têm obstáculos como troncos, desníveis, lajotas soltas ou simplesmente não existem.
Indenização
Segundo o advogado Ail­ton Nunes da Silva, especialistas da área cível, as prefeituras são responsáveis pela manutenção das calçadas e, diante de qualquer acidente, como uma queda, o pedestre pode entrar com uma ação contra o município. “As prefeituras sempre dizem que o responsável é o dono do imóvel, mas não é. Estamos observando muitas sentenças favoráveis aos pedestres”, diz. O valor das indenizações varia conforme o caso.
*Colaboraram Derek Kubaski, especial para a Gazeta do Povo, de Ponta Grossa, Fabiula Wurmeister, da sucursal de Foz do Iguaçu, e Luiz Carlos da Cruz, correspondente em Cascavel.

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