O ministro-presidente do STF classificou o empresário Marcos Valério como o grande protagonista do esquema, já que se relacionou com praticamente todos os réus do processo
Do Portal Terra
Último ministro a proferir seu voto sobre o capítulo seis da
denúncia do mensalão, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF),
Carlos Ayres Britto, fechou o placar nesta quarta-feira (10) pela
condenação do ex-ministro José Dirceu, do ex-presidente do PT José
Genoino e do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares por corrupção ativa.
Para Ayres Britto, é inconcebível que um partido "se aproprie de outro",
principalmente a base da propina.
"Esse catastrófico e profanador estilo de fazer política
interpartidária tem outro catastrófico efeito sobre o ato do ofício de
produzir leis, fiscalizar o Executivo e julgar. (...) O corruptor abdica
do dever de fiscalizar, de acompanhar os atos do poder. Isso para mim é
a mais danosa das omissões, decair da fiscalização em função da propina
recebida", argumentou o ministro ao criticar a atuação da cúpula do
Partido dos Trabalhadores (PT).
Ayres Britto classificou o empresário Marcos Valério como o grande
protagonista do esquema, já que se relacionou com praticamente todos os
réus do processo. "(Valério) esteve pessoal e reiteradas vezes com a
alta cúpula petista. Repassou dinheiro para todos os réus até aqui
condenados ora por si mesmo, ora por seus sócios, ora pelo advogado
Rogério Tolentino, ora pela sua tesoureira Simone Vasconcelos.
Então era praticamente impossível não pensar que se relacionar com ele era participar de um esquema de corrupção", argumentou.
Ele disse que se baseou não apenas no conjunto das provas, mas na
interrelação entre os indícios para condenar a cúpula petista. "Há fatos
que realmente gritam, porque expõem as vísceras. Fatos que chegam pela
combinação de provas diretas e indiretas. É uma violência contra a
sociedade, uma violência contra o Direito, o aplicador fechar os olhos
para as vísceras dos fatos criminais sobre julgamento", completou o
ministro.
Ayres Britto acompanhou o voto do relator, entendendo pela
absolvição apenas do ex-ministro dos Transportes Anderson Adauto e da
ex-funcionária da SMP&B Geiza Dias. Ele votou pela condenação dos
demais réus acusados na fase do processo: o empresário Marcos Valério,
os sócios da SMP&B Cristiano Paz e Ramon Rollerbach, a ex-diretora
financeira da agência Simone Vasconcelos e Rogério Tolentino, que foi
advogado das empresas de Valério.
O mensalão do PT
Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de
envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado
federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão.
Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos
para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da
Silva. Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo
de chefe da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos
colegas e perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.
No relatório da denúncia, a Procuradoria-Geral da República apontou
como operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado
e ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio
Soares, e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados
por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio respondem ainda
por corrupção ativa.
Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral da
República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com
isso, ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três
anos e deixou de ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado do PP,
morreu em 2010 e também deixou de figurar na denúncia.
O relator apontou também que o núcleo publicitário-financeiro do
suposto esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e seus
sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das
funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles
respondem por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção
ativa e lavagem de dinheiro.
A então presidente do Banco Rural Kátia Rabello e os diretores José
Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados
por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O
publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a
ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro
da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por
peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique
Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de
dinheiro.
O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) responde a
processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A
denúncia inclui ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB. Entre
eles o próprio delator, Roberto Jefferson.
Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações
finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes.
Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e do
irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio
Lamas, ambos por falta de provas.
A ação penal começou a ser julgada em 2 de agosto de 2012. A
primeira decisão tomada pelos ministros foi anular o processo contra o
ex-empresário argentino Carlos Alberto Quaglia, acusado de utilizar a
corretora Natimar para lavar dinheiro do mensalão. Durante três anos, o
Supremo notificou os advogados errados de Quaglia e, por isso, o
defensor público que representou o réu pediu a nulidade por cerceamento
de defesa. Agora, ele vai responder na Justiça Federal de Santa
Catarina, Estado onde mora. Assim, restaram 37 réus no processo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário