Sob a ameaça de perdear a eleição, o
presidente venezuelano Hugo Chávez recorre à censura, acusa adversário
de ter pacote oculto e sugere guerra civil, em caso de derrota
Pedro Marcondes de Moura
A encarniçada política venezuelana vive dias agitados com a
proximidade da eleição presidencial no domingo 7. Enquanto o presidente
Hugo Chávez e o seu principal adversário, Henrique Capriles, trocam
acusações em discursos e nas redes sociais, os confrontos entre
apoiadores dos dois candidatos deixam um saldo de dezenas de feridos
pelas ruas do país. Tamanho clima de rivalidade se explica pelo
ineditismo desse pleito. Acostumado a triunfar sobre os opositores desde
que chegou ao poder em fevereiro de 1999, Chávez enfrenta agora uma
disputa acirrada na tentativa de conquistar o terceiro mandato
consecutivo. A vantagem dele sobre Capriles, que é ex-governador do
Estado de Miranda, caiu para cerca de dez pontos percentuais, segundo
levantamento divulgado pelo Instituto Datanálisis. Nesta reta final da
eleição, outras pesquisas até colocam Capriles na dianteira. Em meio a
uma sucessão de problemas, Chávez sofre com a debandada de simpatizantes
e, como resposta, mostra que não poupará esforços para vencer a
eleição, à qual se refere como “Batalha de Sete de Outubro”.
OPONENTE DE PESO
Adversário de Hugo Chávez, Henrique Capriles pode
ser a grande surpresa da eleição na Venezuela
Na tentativa de se manter no poder a qualquer custo, Chávez recorreu a
baixarias e passou a atacar em várias frentes. Do mesmo modo que fechou
veículos de comunicação críticos a seu governo, o presidente
venezuelano tem interrompido entrevistas e transmissões de eventos com o
adversário Capriles em emissoras de rádio e televisão, convocando a
cadeia nacional para pronunciamentos sobre temas como o início do ano
letivo. No Congresso, aliados divulgaram vídeos em que um integrante da
campanha de Capriles aparece num enredo de corrupção. Nos discursos aos
quais se refere ao oposicionista apenas como “majunche” (perdedor), o
presidente projeta desconfiança sobre o rival acusando-o de ter um
pacote oculto neoliberal a ser colocado em prática se ganhar a disputa
nas urnas. “Tanto oposição como o governo sabem que o voto da maior
parte do eleitorado está vinculado à manutenção dos benefícios sociais”,
afirma o venezuelano Rafael Villa, professor do Instituto de Relações
Internacionais da Universidade de São Paulo. Aos mais abastados, o
comandante bolivariano, que nunca aposentou a farda verde-oliva,
ressalta que sua vitória garantiria a estabilidade do país. Em uma
espécie de ameaça velada, diz ainda que a eles não convém uma guerra
civil.
Apesar da ofensiva de Chávez, analistas políticos consideram
imprevisível o resultado da disputa nas urnas. Mais de um em cada dez
eleitores ainda se mostra indeciso ou prefere não revelar o voto, que é
opcional pela legislação. “Chávez permanece na liderança. Existe, porém
uma tendência favorável a Capriles”, declarou Luis Vicente León, diretor
do Instituto Datanálisis. “O oposicionista foi o único a crescer
durante toda a campanha”, comenta. Candidato pela Mesa de Unidade
Democrática (MUD), uma frente composta por mais de uma dezena de
legendas e organizações sociais, Henrique Capriles, 40 anos, investe no
corpo a corpo como arma de campanha. Visitou mais de 250 cidades em 20
Estados em seu périplo eleitoral. Em declarações, o oposicionista diz
que colocará fim ao que considera uma série de desmandos, erros e
retrocessos promovidos pelo chefe da nação. Ao mesmo tempo, faz questão
de garantir a permanência dos programas sociais criados pelo atual
governo.
DISPUTA ACIRRADA
Confronto entre militantes durante a campanha eleitoral deixou
um saldo de dezenas de feridos nas ruas da Venezuela
Além da incerteza quanto ao seu real estado de saúde, Hugo Chávez
amarga o desgaste político de ocupar o poder por mais de uma década e o
descontentamento popular com áreas como a segurança pública. A Venezuela
atravessa uma epidemia de crimes. A criminalidade figura em pesquisas
na primeira posição entre as preocupações dos seus aproximadamente 29,7
milhões de habitantes. Quinto maior produtor de petróleo e dono das
maiores reservas mundiais do óleo, o país também enfrenta obstáculos na
área econômica. Não conseguiu transformar os petrodólares em sinônimo de
prosperidade financeira.
Fotos: Juan Barreto/afp photo; Carlos Garcia Rawlins/REUTERS; SHARON STEINMANN/EFE
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