Resultado na eleição municipal credencia o
senador Aécio Neves e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, como
nomes decisivos para a eleição presidencial de 2014
Claudio Dantas Sequeira
ROBUSTO
O PSB de Eduardo Campos (à esq.) destacou-se como o partido que mais
cresceu proporcionalmente nas eleições municipais e Aécio Neves garantiu a
reeleição do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, que obteve 52,7% dos votos
Qualquer negociação sobre a disputa presidencial de 2014 terá de
passar necessariamente por dois nomes: o senador Aécio Neves e o
governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Os dois líderes políticos se
credenciaram para as discussões sobre a sucessão de Dilma Rousseff a
partir de vitórias expressivas nas urnas este ano. Além do papel de
fiadores das campanhas municipais do PSDB e do PSB País afora, ambos
conseguiram eleger afilhados políticos nas capitais de seus Estados em
confrontos diretos com candidatos do PT. Aécio, aliado a Campos,
garantiu a reeleição do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, que
obteve 52,7% dos votos sobre o ex-ministro Patrus Ananias (PT), que só
chegou aos 40,8% de apoio com a ajuda de Dilma. No Recife, 51,1% dos
eleitores deram vitória a um até então desconhecido Geraldo Julio,
lançado candidato por Campos após racha com os petistas. Na capital
pernambucana, o nome do PT era o senador e ex-ministro da Saúde Humberto
Costa, que ficou em terceiro lugar com apenas 17,4% dos votos.
Tanto Eduardo Campos como Aécio Neves sabem que o caminho até 2014 é
longo e, por vezes, acidentado. Não admitem oficialmente o desejo de
concorrer à Presidência dentro de dois anos, mas mergulharam de cabeça
nas eleições municipais numa óbvia tentativa de projeção nacional.
Usaram jatinhos particulares para poder subir em diferentes palanques
espalhados pelo País. Campos, segundo sua assessoria, percorreu mais de
25 mil quilômetros no período eleitoral. Visitou cidades de São Paulo,
Mato Grosso e três Estados nordestinos, além de Pernambuco.
Já o tucano, conforme informações de assessores, esteve em 21 Estados,
além de dezenas de cidades mineiras. Para o presidente do PSDB, Sérgio
Guerra (PE), as viagens ajudam na divulgação do partido e de Aécio. “Ele
é o nome mais credenciado para 2014”, afirma. Guerra é pragmático
quando o assunto é uma eventual chapa com Aécio na cabeça e Campos de
vice. “É nosso amigo, mas é aliado do governo”, avalia.
Embora se encontrem em campos opostos hoje, tanto o tucano como o
socialista sabem que essa situação pode mudar e, intimamente, nutrem o
desejo de subir no mesmo palanque nacional. A última vez que isso
aconteceu foi há quase 30 anos, na campanha das Diretas Já. Eram então
apenas netos de Tancredo Neves e Miguel Arraes, que militavam no PMDB ao
lado de Ulysses Guimarães. De lá para cá, cada um seguiu seu caminho em
trajetórias independentes, mas bastante semelhantes. A amizade se
manteve e, ao despontarem como expoentes políticos de uma nova geração,
voltam a alimentar o sonho de uma parceria. Além da aliança em torno da
eleição de Márcio Lacerda, Campos admite que trabalhou para eleger Aécio
Neves presidente da Câmara dos Deputados, em 2001.
Hoje, para evitar ferir suscetibilidades entre os petistas, o
governador pernambucano é menos enfático que o senador tucano quando o
assunto é uma eventual aliança para 2014. Diz que o PSB estará no jogo,
mas que o “caminho mais natural” é permanecer na base do governo. O
senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), no entanto, revela que Campos está
formando a convicção de que o PT não o tolera. “O racha que houve aqui e
em BH está evoluindo”, diz. Para o político veterano, restará ao
socialista tentar um entrosamento com o PSDB, como vice do tucano, ou
até uma candidatura própria pelo PMDB. Um rompimento na base do governo
hoje é pouco provável, dependerá muito do ritmo da economia e da
popularidade de Dilma daqui a dois anos. Até lá, Aécio promete elevar o
tom contra o governo do PT e tomar as rédeas da oposição.
O PSDB, de Aécio, ficou em segundo lugar em número de prefeituras. Os
tucanos conquistaram 693 municípios, uma queda de 12%, que foi
compensada, segundo Aécio, com a reinserção da legenda nas regiões Norte
e Nordeste, de onde havia sido praticamente extirpada em pleitos
anteriores. O senador destaca as vitórias da oposição em Maceió e
Aracaju, além da ida para o segundo turno em várias cidades importantes,
como Salvador, João Pessoa, Teresina, Belém, Manaus e Rio Branco. O PSB
de Campos, por sua vez, destacou-se como o partido que mais cresceu
proporcionalmente. Com um discurso pautado pela eficiência da gestão e
pelos índices de popularidade ostentados pelo próprio governador de
Pernambuco, a legenda conquistou quase 40% a mais de prefeituras em
relação a 2008, saindo de 203 para 433.
A maior parte desse avanço se deu na direção dos centros urbanos em
cidades de médio e grande porte. Justamente onde o potencial econômico
pode ser usado como vitrine política numa estratégia de pavimentação
rumo ao Palácio do Planalto. No pleito deste ano, marcado pela queda na
quantidade de prefeitos reeleitos, os socialistas também conseguiram
outra proeza: manter o controle de 71% dos municípios em que disputou um
segundo mandato consecutivo. Para o presidente do PSB, o resultado
reflete a boa gestão de seus prefeitos num ambiente de equilíbrio fiscal
extremamente desfavorável.
Fotos: Adriano Machado; frederic jean/ag. istoé
Fotos: Andréa Rêgo Barros/PSB; LEO FONTES/O TEMPO
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