Equipe do Hunter College modificou genes de animal para deixá-lo mais sensível ao odor do TNT. Ratos treinados já são utilizados para identificar explosivos por ONG belga
Os camundongos têm de 10.000 a 1 milhão de neurônios
especializados no reconhecimento do cheiro de DNT, composto de odor
semelhante ao do TNT. Os roedores normais têm cerca de 4.000
(Feinstein Lab/Hunter College)
Cientistas do Hunter College, da Universidade de Nova York, nos Estados
Unidos, modificaram geneticamente camundongos para permitir que eles
farejem minas terrestres. Recentemente, os pesquisadores encontraram um
receptor de odores nos bulbos olfativos dos
roedores responsável por identificar um composto químico explosivo
chamado DNT (dinitrotolueno). O cheiro deste composto é semelhante ao da
TNT (trinitrotolueno), presente na dinamite e nas minas terrestres. A
equipe do Hunter College, que teve participação da neurobióloga
molecular Charlotte D'Hulst, conseguiu modificar os genes e dar ao
animal uma proporção muito maior de receptores de DNT.
Saiba mais
BULBOS OLFATIVOSOs bulbos olfativos são um par de pequenas estruturas situadas no cérebro. Eles recebem diversas informações provenientes de moléculas de odor captadas por receptores no nariz.
Charlotte D’Hulst apresentou os resultados do seu trabalho, batizado de
MouSensor Project, no encontro anual da Sociedade de Neurociências dos
Estados Unidos, que aconteceu na semana passada em Nova Orleans, nos
Estados Unidos. O projeto pode tornar-se, no futuro, um método viável
para limpar campos minados, um problema que afeta atualmente 66 países.
"Muito tempo após o fim de uma guerra, minas terrestres impõem uma
barreira estrutural ao desenvolvimento econômico e ao crescimento. A
detecção de minas terrestres é perigosa, cara e necessita de tempo",
escreveu a neurobióloga no artigo.
Ratos já são utilizados na busca desses explosivos por uma organização
não governamental (ONG) belga chamada Apopo. A entidade treina ratos
africanos que conseguem vasculhar, guiados por um humano, um terreno de
300 metros quadrados em duas horas. Com os tradicionais equipamentos
detectores, duas pessoas precisariam de dois dias para cobrir a mesma
área, além de estarem expostas a altos riscos. Os ratos da Apopo, ao
contrário, são pequenos demais para ativar os explosivos. O problema é
que o treinamento desses ratos leva nove meses, a um custo de 6.000
euros por animal.
Genética em campo minado — A equipe do Hunter College
se empenhou em criar um super-rato, que não precisaria de treinamento.
Com a modificação genética, os roedores passam a ter de 10.000 a 1
milhão de neurônios exclusivamente para reconhecer DNT. O bulbo olfativo
de um rato normal, por outro lado, tem cerca de 4.000. Isso aumentaria,
segundo Charlotte D’Hulst, a capacidade de detecção de um odor
específico em 500 vezes.
Ainda não foram realizados testes de campo com o animal. Charlotte
D'Hulst disse que ela os os demais cientistas envolvidos no projeto
estão pensando em implantar um chip nos roedores que enviaria sinais a
um computador quando eles encontrassem uma mina terrestre. Por serem
extremamente sensíveis ao odor da TNT, o comportamento dos ratos deve se
alterar drásticamente perto de um explosivo. A pesquisadora estima que
testes em campos minados só devem acontecer em cinco anos.
Apesar de considerar positiva a pesquisa, Roger Hess, diretor de
operações de campo da Golden West Humanitarian Foundation, afirmou ao
site Technology Review que outras técnicas para a detecção de
minas ainda precisarão ser empregadas. Isso porque, segundo ele, a
liberação de odores pelos explosivos depende das condições do solo, por
exemplo. Pelo risco de uma mina não ser identificada, um método
secundário precisaria ser empregado", afirmou.
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